PROJETO ANTUAV 2015-16: falhada a primeira tentativa de trabalho no Glaciar Rochoso de Hurd25/1/2016
Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Dia 24, logo pela manhã, caía um enorme nevão, e lá se foram por água abaixo as nossas expetativas de ir ao glaciar rochoso nesta semana. O glaciar rochoso (GR) que se situa na vertente sudeste da Península Hurd, voltado para a baía Falsa, é uma grande acumulação de sedimentos em forma de língua, com permafrost no seu interior, que se deforma lentamente por ação a gravidade. O objetivo nesta área de estudo é estudar a deformação do GR mediante a monitorização das mudanças acumuladas na sua superfície. Esta preocupação com a ida ou não ao GR deve-se a este ser um dos locais prioritários no nosso trabalho de levantamento de campo, e que já conta com vários anos de monitorização, pelo que falhar a série de medições anuais seria um problema importante. Transportamos também connosco um equipamento UAV que utilizamos para cartografia dos locais de estudo e de monitorização do permafrost. Este modelo tem características distintas do UAV Suzanne Daveau (Sensefly ebee) que está de momento a ser utilizado pelo grupo do projeto PERMANTAR, Gonçalo Vieira e João Branco, em trabalho de campo na Ilha King George. Temos também urgência para testar se o nosso drone se irá comportar bem nos levantamentos de imagens para modelação topográfica, pois caso contrário, teremos que pedir aos permantar’ianos que nos façam chegar o seu drone antes de se irem embora (dia 26 de Janeiro). Aqui quem manda é o tempo, e nós ajustamo-nos aos seus desígnios, pois lutar contra eles, separados quase 2000 km da cidade mais próxima, é imponderável e irresponsável. Paciência e esperança requerem-se por estas bandas, e claro que acompanhadas sempre por uma generosa dose de flexibilidade e motivação. E perguntarão os leitores, o porquê desta apreensão toda, sendo que solução logicamente mais segura seria a de ficar com os dois drones. Bem, a resposta é que tratam-se de equipamentos muito caros, sensíveis no acondicionamento e transporte, e que devem viajar connosco como bagagem de mão, o que se iria acumular à já enorme quantidade de equipamento que transportamos, além dos constrangimentos das inspeções nas fronteiras, que normalmente nos pedem sempre imensa papelada para acompanhar todo o tipo de equipamentos científicos que trazemos. NAAAA!!!!!! Não é um cenário nada motivante, depois de uma longa e intensa campanha, de onde deveremos regressar completamente exaustos, para não variar, claro. A nossa “sorte neste mal-encarado dia de domingo” é que estávamos escalados para ficar de apoio à cozinha na Base Búlgara de St.Kliment Ohridsky, o que acabou por não influenciar as nossas atividades de campo, adiando apenas as nossas atividades de laboratório. As tarefas de apoio à base consistem em manter a cozinha limpa e organizada, participar na confeção dos alimentos, por a mesa, servir as refeições, … tarefas normais de uma casa, mas desta vez para um total de 22 pessoas. Estar nesta base não poderia ser mais aconchegante. Sinto que cheguei a casa, rodeada por uma data de irmãos, primos, tios, sempre com muito para conversar e discutir sobre situações práticas, ou histórias e aventuras dos próprios ou outros que por aqui passaram. O único problema é que não percebo nada de Búlgaro mas, o entusiasmo é tanto e tão expressivo, que dou muitas vezes por mim a rir como se estivesse perfeitamente dentro da conversação. Se não tivermos ao pé um dos nossos “tradutores oficiais” - normalmente o Sacho ou a Isabel – continuamos completamente às escuras no tema. No meio de 20 Búlgaros, sendo nós 2 portugueses, verificam-se por vezes algumas falhas de comunicação pois há sempre quem julgue que já houve uma alma caridosa a prestar-nos o serviço de tradução. Estas grandes reuniões ocorrem normalmente à hora do almoço (14h aqui na base, 17h em Portugal, 19h na Bulgária) e mais prolongadamente à hora do jantar (21h aqui na base, meia noite em Portugal, 2h da manhã na Bulgária). Mesmo com as tarefas de serviço na base, conseguimos terminar durante a tarde o teste e reprogramação dos sensores e estávamos mesmo entusiasmados com a ideia de os irmos instalar no local. Ainda não eram 19h00 (22h00 em Portugal) pelo que ainda teríamos cerca uma hora para instalar os sensores e voltar a tempo de ajudar nas tarefas da cozinha. Preparámo-nos para sair, cheklist de todos os materiais que iríamos necessitar, e preparávamo-nos já para comunicar ao chefe de base Yordan da nossa saída, quando alguém nos “recorda” da necessidade de estarmos todos presentes na reunião geral de carácter obrigatório agendada para as 20h. Esta informação havia sido comunicada durante o almoço mas ninguém se lembrou de nos “traduzir”. A frustração estava de certo patente na minha cara pois o chefe de base mostrou de imediato flexibilidade para que faltássemos à reunião. Obviamente que por respeito a todos, e especialmente ao chefe Yordan, não acedemos e ficámos – tratavam-se de comunicados muito importantes e urgentes dos quais teríamos de estar a par. A temperatura por estas bandas ronda geralmente 0 ºC, com algumas oscilações mas não ultrapassando normalmente os 4 ºC, nem descendo abaixo de cerca de -4 ºC durante o verão. Nos primeiros dois dias o corpo ressentiu-se, mas agora já estou mais adaptada. O forte vento é que cria uma desconfortável sensação térmica. Acordo dia 25 com a notícia de que o navio espanhol BIO-Hespérides viria buscar parte do pessoal das bases no dia 26. Lá ficarei eu sem qualquer companhia feminina (Deni, Isabel e Helena). À faceta infantil da minha mente, veio a ideia de esconder a Deni em algum lado, mas era impossível não darem por ela. Bolas! Foi dia de sessão fotográfica, apoiar nos preparativos para a saída do grupo de 9 pessoas no dia seguinte, e voltar a reprogramar todos sensores. Pedro Guerreiro e Bruno Louro Combinámos com o pessoal de Great Wall que na falta de camara frigorífica o melhor seria colocar um contentor de transporte, daqueles utilizados nos navios, mesmo sobre o cais para aí instalarmos os tanques. Assim, com a bomba elevatória e as mangueiras que comprámos em Punta Arenas poderemos obter água do mar à temperatura correcta sempre que for necessário, mantendo os grupos controlo o mais perto possível do meio natural e utilizar os termostatos e resistências para subir a temperatura nos grupos experimentais. No entanto tem sido impossível ter o contentor instalado devido às outras actividades da base, e assim estamos algo atrasados em relação ao que havíamos planeado. Para além das contingências do clima, também os calendários das bases e das várias tarefas de manutenção a realizar no verão podem ser um problema, pois para estas experiências necessitamos de algum apoio, que nem sempre está disponível. E assim, sem tanques, também é irrelevante pescar, apesar dos vários “convites” feitos por alguns membros da equipa da base. Já foi até proposta uma competição de pesca, entre nós, os chineses e os tailandeses. Parece que ao menos há alguma motivação para colocar o barco na água mas a questão do atraso na instalação do espaço começa a ser preocupante. É sexta-feira e a previsão é de ventos fortes até segunda o que pode condicionar a utilização da grua. Aproveitámos o tempo para outras actividades como montar e testar algum equipamento no laboratório, monitorizar os parâmetros ambientais na água, escrever relatórios, ler e preparar estes relatos. No entanto a ligação com a internet não é das melhores, sobretudo quando o tempo está algo tempestuoso como hoje, e passamos algumas horas a tentar receber ou enviar emails ou encontrar informação online – Google e Facebook são off limits! Por outro lado a base tem cobertura para rede de telemóvel por uma operadora na China… mas o roaming é proibitivo para nós! Apenas emergências sff! Já as raparigas não largam o telemóvel, que ao menos serve de auxílio na tradução. Também tentamos perceber o que fazem os vários cientistas chineses que estão na base. Concentram-se aqui várias áreas de investigação, como meteorologia, geologia, oceanografia e química do oceano, avaliação por satélite dos níveis de clorofila e produção primária, toxicologia de águas e sedimentos, microbiologia, etc. Há também que se dedique à produção de cartografia com fotos de alta resolução com recurso a drones, alguns bastante sofisticados e outros, mais simples, como uns aviões esculpidos em esferovite, cuja dificuldade é manter intactos na aterragem. A interacção à refeição ganhou um novo membro. Para além dos tailandeses também temos à mesa o chefe, mais reservado, e o médico da base, que é muito extrovertido, e passamos o tempo a traduzir entre inglês, chinês, português e espanhol. Uno Quatlo! Vamos a la playa!
Ontem após o jantar, fomos convidados para participar no inicio das actividades desportivas que irão marcar o Ano Novo Chinês no início de Fevereiro. Mais que um evento desportivo, foi uma forma de colocar praticamente todos os elementos da base na mesma sala, um pavilhão com marcas de badmington e cestos de basquetebol, para algum “team building” supervisionado pelo chefe da base. Acabou por ser um “concurso” de lançamentos ao cesto e outro de penáltis (com bola e sem copo) e depois um cada um por si com a bola! Pedro Guerreiro e Bruno Louro Ni hao! Nestes dias Great Wall recebeu a visita de dois elementos de EcoNelson, uma pequena base na ilha Nelson, parte de um programa privado de sobrevivência e sustentabilidade (www.econelson.org), em que os voluntários são testados na sua resistência, física e psicológica, à adversidade da natureza e falta de socialização. Estávamos no cais quando os vimos chegar, numa pequena jangada composta por dois flutuadores ligados entre si por uma estrutura de madeira e tecido aberta no fundo e propulsada por um motor de 4 cavalos e dois remos. Depois de todo o aparato e equipamento de segurança que é imposto, e bem, na exploração antárctica, ver alguém navegar, entre duas ilhas, vários quilómetros durante algumas horas, sobre água a 1-2 graus centígrados, em algo tão frágil, é desconcertante. Mas a jangada funciona, é fácil de transportar e até tem nome, Matilda! Um dos tripulantes, Jaroslaw Pavlíček, um checo especialista em sobrevivência, septuagenário, é o capitão e mentor da iniciativa, o outro Florian, alemão de 53 anos, residente na Áustria, alguém que encontrou nesta aventura a possibilidade de visitar a Antárctica e que passou os últimos dois meses como cobaia, numa pequena casa, utilizando enlatados, peixes e algas como alimento, materiais de limpeza sem químicos, madeira como combustível e recolhendo e contabilizando o lixo devolvido pelo oceano às praias da ilha!
O motivo da sua chegada a Fildes era encontrar forma de levar Florian de volta à América do Sul sem ter de desembolsar os cerca de 2750 dólares do voo comercial da DAP. A proximidade de um voo militar Uruguaio e a quantidade de navios ancorados na Baía abriam algumas expectativas para a travessia. De caminho, enquanto Florian procura transporte, Jaroslaw, ou Jada, vai mantendo contactos com as várias bases e tripulações que de alguma forma apoiam EcoNelson. No dia seguinte voltámos a ver Florian, que sem opções se resignou a voar com a DAP, mas contente por ter tomado o primeiro duche em meses! Nós também, pois partilhámos algumas refeições com ele e o depois foi bem melhor que o antes. Mais tarde junta-se Jada e na Matilda vão visitar outro aventureiro. Ao largo de Great Wall está o veleiro Issuma (www.issuma.com), uma embarcação de 15 metros que comandada pelo canadiano Richard Hudson, que desde 2008 percorreu o Atlântico, de França à Argentina e ao Canadá e que em 2012 atravessou a Passagem do Noroeste, algo possível devido à redução da extensão de gelo do Oceano Árctico. O veleiro foi construído há mais de 30 anos com especificações de casco para o gelo Antárctico e Hudson, cujo tio-avô fazia parte da expedição de Ernest Shackleton 1914-16, resolveu traze-lo ao seu ambiente recreando de alguma forma a viagem do Endurance. A tripulação conta com outros três tripulantes, uma americana e um casal de franceses que desceram a aosta do Chile, percorreram os meandros do Estreito de Magalhães e atravessaram o Drake. A paragem prende-se com a necessidade de obter água fresca antes de se dirigirem à Peninsula Antárctica e depois a Elephant Island. Talvez o façam em Arctowski. Mandamos cumprimentos! Pedro Guerreiro e Bruno Louro De manhã temos uma reunião com o responsável pela integração dos cientistas estrangeiros na base, na qual explicamos o que queremos fazer e que apoio será necessário. Para além de saírmos para pescar, vamos necessitar de manter peixes vivos, à temperatura da água do mar, que neste momento, medida no cais da base, varia entre 1.6 e 2 graus centígrados. Infelizmente a camara frigorífica da base está avariada e precisamos de alguma imaginação. Fazemos uma visita a vários pontos e fica acordado que as várias opções possíveis serão estudadas. Alguns cientistas chineses também utilizam peixes como modelos experimentais, mas para os seus estudos não precisam de animais vivos o que facilita a logística. Quase todos os peixes que conseguimos encontrar nesta região são genericamente chamados bacalhau Antártico, apesar de nada terem que ver com bacalhaus. Um dos dois tailandeses que aqui estão, os únicos não chineses para além de nós, também usa peixes, que obtém pescando entre as rochas na maré baixa. Mas estes são sobretudo Notothenia coriiceps, o Bullhead rockcod, uma espécie que os brasileiros chamam de cabeçuda, em contraste com o peixe que nós queremos, a Notothenia rossii, ou Marbled rockcod, mais elegante mas também mais difícil de capturar a partir de terra, pelo que iremos necessitar de sair em barco. Após o almoço, e a luta para utilizar os pauzinhos de forma mais ou menos (mais menos) correcta, saímos para verificar a zona de costa circundante, onde foram capturados os peixes. Rapidamente percebemos que sem acesso para veículos é praticamente impossível transportar os animais vivos até aos tanques, mesmo que os pudéssemos pescar naqueles pontos a cerca de 500 metros da base – confirma-se que o barco é sem dúvida a melhor opção, como já ocorrera em Arctowski. Ao contrário do que acontecia nas costas da Baia do Almirantado, não encontramos qualquer mamífero na praia – nada de elefantes-marinhos ou leões-marinhos, e apenas alguns pinguins de barbicha isolados que nos cumprimentam. Aparentemente as colónias de pinguins nesta zona localizam-se todas na Ilha Ardley, aqui relativamente perto, mas zona de acesso restrito. Na costa vemos gaivotas, algo nada comum em Arctowski, e um pouco mais para o interior encontramos vários casais de skuas em nidificação nas colinas cobertas de líquenes. Ao longe já podemos avistar a Ilha Nelson, e também alguns Petréis-gigantes que voam em redor dos ilhotes de Half Three Point, outra zona protegida na ponta sul da Baía de Fildes. Aqui no interior ainda há bastante neve – tem sido especialmente abundante este ano, segundo dizem, mas a vista para a baía é espectacular, com o mar coberto de icebergs de todos os tamanhos e formas. De volta a Great Wall decidimos dar uso ao material de pesca. Com um pouco de carne de porco cedida pelo cozinheiro fazemos algumas tentativas lançando os anzóis para o mais longe possível da costa. Ao fim de algum tempo, e já prestes a desistir, decidimos pescar mesmo junto ao cais, e voilá – uma cabeçuda de mais de meio quilo, que depois de devidamente documentada fotograficamente é devolvida à água. Ainda sem tanques não se justifica mantê-la, mas mesmo assim fazemos sucesso à hora do jantar.
Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Dia 21 começámos a recolha dos sensores de temperatura nas proximidades da base – zona do Papagal e zona CALM. Os equipamentos são devidamente etiquetados e separados. Dia 22, sexta-feira, foi o dia de fazer alguns testes com o DGPS, em frente à casa Espanha, e fomos verificar o estado da máquina fotográfica na Meteo pois as imagens recolhidas dois dias antes (dia 20) indicavam uma quebra de recolha de informação a partir de meados de Outubro de 2015. O teste realizado no dia 20 indicava que a câmara tinha bateria, pelo que não seria à partida um problema de alimentação. Já o sistema de controlo do disparo (digisnap) parecia não estar a funcionar devidamente. Por isso, hoje iremos fazer mais alguns testes no sistema. Aos fins de semana, a vizinha base espanhola de Juan Carlos I (JCI) abre a rede WiFi e, com alguma paciência, é possível aceder á internet a partir da zona do Papagal, na vertente voltada para a baía Johnsons. Dia 23, sábado, estávamos ansiosos por tentar a nossa sorte e aceder aos nossos emails. A Deni acordou bem cedo, 7h30 da manhã, para tentar a sua sorte mas regressou sem êxito. Eu e o Lourenço, optámos por ficar um pouco mais de tempo a descansar e fazer a tentativa da parte da tarde, aproveitando a baixa velocidade do vento para testar o UAV junto à praia em frente à base de St Kliment Ohridsky (SKO) e para continuar a tarefa de leitura e análise de dados e atualização dos sensores recolhidos no dia 21. Tivemos sucesso com as nossas tentativas de acesso ao wifi, mais o Lourenço do que eu, mas ainda deu para espreitar os email. Continua tudo na mesma! Na descida de regresso à base, parámos para dar início à instalação do DGPS, equipamento que tínhamos já deixado preparado no local antes de subir ao Papagal. O objetivo seria iniciar os levantamentos dos locais de monitorização de solifluxão próximos da base, os quais aparentavam ainda bastante neve, mas menos do que na área do CALM. Depois de instalada a antena da base do recetor, que nos levou algum tempo a calibrar, fomos interrompidos pela chegada do navio argentino Beagle com um pesado carregamento de 4 ton de equipamentos e combustível para apoio da base. Apesar da vasta mão-de-obra disponível, o cair da noite impunha uma solidária e rápida colaboração pelo que optámos por descer e ir ajudar. Eu, pouco fiz além de tirar fotografias. João Branco Sim, passou quase uma semana desde a nossa chegada a Barton, onde estamos alojados na base sul-coreana King Sejong. Dias intensos de trabalho têm adiado estes textos até hoje mas, vejamos um resumo dos últimos dias. A chegada do navio Espérides coincidiu com a chegada do voo do PROPOLAR ao Aeroporto Teniente Marsh, na Ilha King George. Como é do conhecimento geral o Programa Polar Português tem vindo a fretar anualmente um voo de transporte de passageiros e carga entre Punta Arenas e King George constituindo o contributo logístico de Portugal para o esforço de investigação antárctica internacional. Este voo não transporta só investigadores portugueses. O acesso aos lugares restantes é aberto a investigadores dos países com quem Portugal tem acordos ou protocolos de cooperação. Basicamente toda a ciência antárctica é efectuada com base nestes fundamentos: cooperação e partilha. Aguardámos a chegada do voo e dos dois investigadores que se iriam juntar a nós para a estadia em Barton, os geólogos Pedro Ferreira e João Mata. Com este nosso voo veio também a Teresa Cabrita, actual directora executiva do PROPOLAR que iria ficar em Escudero alguns dias, no âmbito do trabalho organizativo do PROPOLAR. Há um que ano saí de Barton, depois de uma estadia de três semanas, e aqui volto com o objectivo continuar o meu trabalho no âmbito do projecto de doutoramento. Prosseguimento dos levantamentos de fotografia aérea com o eBee e identificação das formas e processos geomorfológiacos desta península. Além disto tinha que recolher e recuperar os dados de vários sensores de temperatura do ar e do solo instalados por mim no ano anterior e que, no caso dos dois sensores da temperatura do ar instalados em mastros de madeira a 1,5m do chão, constituíam algum preocupação quanto à questão, se teriam resistido ao inverno antárctico caracterizado por ventos muito intensos. Os nossos colegas geólogos têm como objectivo fazer um levantamento geológico com recolha de amostras de rochas que permita a elaboração de um mapa litológico de pormenor, que também contribuirá para o conhecimento dos factores geomorfológicos presentes nesta área, pelo que no dia seguinte decidimos sair em conjunto para um percurso de reconhecimento do terreno com passagem pelos locais onde os meus sensores estavam instalados. O tempo estava óptimo, com sol e ausência de vento, o que não se veio a repetir ao longo dos dias seguintes, e para minha satisfação os sensores estavam nos locais onde os tinha deixado e tinham resistido ao inverno. Neste dia também aproveitámos para escolher um local para uma futura perfuração para monitorização de permafrost. Os dias seguintes foram divididos entre procurar voar o eBee e fazer reconhecimento geomorfológico. Resta dizer que a realização destas tarefas consome tempo pois implica a deslocação pelo interior da península transpondo os vários desníveis desde a costa, onde está localizada a base, até cotas rondando os 200m, caminhando sobre clastos de rochas vulcânicas muito angulosos, em geral de origem crioclástica ou sobre neve, que neste Verão austral ainda é abundante e que dificulta a caminhada por estar muito húmida. Frequentemente em cada passo enterramo-nos até aos joelhos. Na Quinta-feira dia 21 fomos surpreendidos pela visita da Teresa Cabrita que aproveitou a deslocação a Barton de biólogos chilenos que estudam pinguins da colónia aqui existente, para visitar a Base sul-coreana. As visitas na Antárctida são sempre bem-vindas, tendo a Teresa sido acompanhada pelo líder base numa breve visita às instalações.
O eBee cumpriu as suas missões, não sem alguns percalços que implicaram alguns trabalhos manuais de reparação à noite na base mas que não limitaram a sua actividade. Já recolhi os dados dos sensores de um dos locais e voltámos a instalar os sensores no campo. Sábado ou Domingo recolheremos os sensores do outro local. José Xavier e José Seco Após muitos meses de preparação, com um aumento crescente de testes do equipamento, verificação de tudo, e com todos a bordo, estamos finalmente a começar a expedição. Deixámos as Ilhas Falkland/Malvinas no dia 19 no início da tarde. Com o anúncio do capitão que iríamos para o mar, a alegria foi grande. Estamos prontos! A saída de Stanley foi calma. Estava de chuva mas sem muito vento. After many months of preparations, with the growing raising of tests on the equipment, double-checking everything, with everyone onboard, we are finally going South!!! We left the Falkland/Malvinas Islands on the 19th January at the beginning of the afternoon After the announcement by the captain that we were departing, a smile came to everyone. It was rainy but with only a light, softy breeze. Tivemos até a bela surpresa de termos os golfinhos Commerson a passar perto do barco (excelente foto tirada por Mike Gloistein; o seu blog é http://www.gm0hcq.com/), como se nos tivessem a dizer “Boa viagem”. We even had the nice surprise of Commerson´s dolphins (nice photo taken by Mike Gloistein (check his blog at http://www.gm0hcq.com/) coming to say “have a nice expedition!”. Como sabemos se já estamos no alto mar, mesmo sem olhar pela janela do navio? Basta sentir as vagas a passar, que vão aumentando progressivamente, à medida que vamos entrando por este Oceano gigante. Já tomámos os comprimidos para o enjoo (normalmente é 2 horas antes de deixar o porto), para evitar surpresas desagradáveis. Para os que não sabem, para habituarmos-nos ao baloiçar para um lado e para o outro, demora tempo e exige paciência e bom senso. Tomar comprimidos ajuda, mas ficar deitado e evitar comidas picantes, pesadas ou que exigem muito do estômago, é o melhor. Hoje o almoço foi pizza com peperoni...sim, não é o ideal mas estava tão boa! Depois contamos quais foram as consequências no enjoo. Estamos em direção à Baia da Mare (Mare Bay), que fica já na costa das Ilhas Falkland/Malvinas, para abastecimento. Os próximos 2-3 dias serão em direção às Ilhas Orcadas do Sul. Para isso iremos entrar no Mar da Escócia (Scotia Sea), e entraremos no Oceano Antártico....o frio já se começa a sentir...até já!
We are ready! At that time, we took our sickness pills (to be taken 2 hours before departuring) so that we avoid being sick. For those that do not know, it does take some time to get used to the swinging to one side to the other. It demands time, patience and good sense. Taking pills helps, but lying down and avoiding hot and “heavy” food that demands an extra effort from your stomach, it helps. We are on the direction of Mare Bay, on the coast of the Falklands/Malvinas, to re-fuel. Then, we go direction South, towards South Orkney, crossing the Southern Ocean, via the Scotia Sea. The cold is already starting to be felt….talk to you more soon! Pedro Guerreiro e Bruno Louro A campanha do projecto FISHWARM III chega finalmente à Antarctica depois de alguns meses de preparação e atribulação com a grande quantidade de bagagens. Graças à Ana Salomé David e à Teresa Cabrita, foi possível trazermos todo o equipamento connosco. Obrigado! A 17 de Janeiro, cerca da uma da tarde, hora chilena, o voo DAP do Programa Polar Português aterra na pista de gravilha do aeródromo Teniente Marsh na Ilha do Rei Jorge. Nele vinham oito cientistas portugueses, mas também chilenos, brasileiros, búlgaros, italianos e espanhóis. À chegada trocam-se cumprimentos e tiram-se as fotografias da praxe enquanto as bagagens são descarregadas. Aqui tal como em qualquer low cost - que não é - caminha-se até ao edifício do aeródromo e enquanto alguns não vêem a hora de chegar, outros, como a nossa Miss Propolar, aproveitam para trazer as novidades da moda Antártica a estas paragens, calmamente desfilando pela passerelle que às vezes faz de pista, roubando as atenções ao Hercules C-130 da Força Aérea brasileira que está a ser desmantelado após um acidente na aterragem num dia de tempestade. À nossa espera estão vários membros da 32ª CHINARE, a Expedição de Investigação Antarctica Chinesa, incluindo o chefe da base Great Wall, onde iremos ficar alojados nos próximos cerca de 45 dias, enquanto prosseguimos as nossas experiências na fisiologia dos peixes antárcticos, na continuação das campanhas FISHWARM I e FISHWARM II, realizadas em 2012 e 2013 na estação Henryk Arctowski, noutra zona da Ilha. As bagagens são descarregadas na praia onde membros da tripulação do navio oceanográfico espanhol Hesperides esperam para levar a bordo os cientistas que se deslocam para as outras ilhas do arquipélago das Shetland do Sul. A baía está cheia de icebergs, alguns tão grandes que poderiam ocupar facilmente vários quarteirões numa cidade e fazem com que os navios, alguns com cerca de 50 metros de comprido pareçam apenas pequenos pontos. Nós ficamos aqui perto, e carregamos tudo em três veículos para seguirmos para Great Wall, a 2.5Km de distância do aeródromo, na zona sueste da Península de Fildes. A base Chinesa foi inaugurada em 1985 numa pequena área perto do mar, mas desde então já sofreu uma grande remodelação, com mais construção e expansão para zonas mais elevadas, e os edifícios principais, como o refeitório e zona de lazer, os dormitórios, o gerador e sobretudo os laboratórios são novos, espaçosos, confortáveis e bem equipados. Hoje é, a par da base da Coreia do Sul, uma das mais bem apetrechadas da ilha. Eu e o Bruno partilhamos um quarto no edifício habitacional. No entanto os chuveiros para os duches encontram-se noutro edifício, o que torna a rotina matinal um pouco mais complicada. Connosco são 41 os habitantes da base, de ambos os sexos, e por isso existem regras e horários para o uso das zonas comuns. Também as refeições, às 7.30, 12 e 18 horas, hora chinesa – sim, porque em Great Wall é uma hora menos que nas restantes bases da ilha e assim 12 horas menos que Pequim – obedecem a alguns preceitos: os lugares à mesa são marcados, os utensílios também são sempre os mesmos e mantidos limpos sobre a mesa. As senhoras têm a sua própria mesa. Já quanto a fumar as regras são bem mais difusas… e parece ser permitido em todas as áreas comuns. Infelizmente poucos falam inglês e a tradução nem sempre é fácil. Mesmo aqui na Antárctica, o choque de culturas pode ser grande.
Pedro Ferreira (LNEG) e João Mata (FCUL) O Projeto GEOPERM-II, realizado no âmbito do Programa Propolar, tem por objetivo principal a realização de uma cartografia detalhada (escala 1/5000) de um sector da Peninsula de Barton, bem como a realização de uma campanha de amostragem das rochas ígneas aflorantes nesta Península, assumindo-se como a continuação dos trabalhos iniciados em 2015 (GEOPERM-I). Pode dizer-se que a missão na Antártida realizada no âmbito do referido projeto, se iniciou no dia 17 de Janeiro com a nossa chegada ao aeródromo de Fildes. Para um de nós (João Mata) foi o primeiro contacto com a Antártida pois Pedro Ferreira (LNEG) já o ano passado realizara uma missão de 25 dias na península de Fildes. Após a aterragem no aeródromo de Fildes, em pista de terra batida, fizemos uma caminhada (cerca de 1 km) até ao porto de onde partimos em semi-rígido para a base Sul-Coreana King Sejong, onde estaremos baseados até dia 27 de Janeiro. Nessa viagem (cerca de 40 minutos… e algum frio) fomos acompanhados pelos colegas Gonçalo Vieira (coordenador do Programa Propolar) e João Branco, ambos do IGOT, que também estão instalados na Base de King Sejong pelo mesmo período que nós e que na Península de Barton realizam trabalhos de Geocriologia. À chegada à King Sejong Station verificámos a existência nos mastros das bandeiras Sul-coreana, Portuguesa e Americana, esta justificada pela presença na base de um Biólogo. Estamos, portanto, plenamente inseridos num ambiente dominantemente Sul-coreano. Os trabalhos de campo iniciaram-se no dia 18, tendo as duas equipas realizado em conjunto o reconhecimento da área onde nos próximos dias desenvolverão os seus trabalhos.
Lourenço Bandeira e Ana Salomé
Península Hurd, ilha de Livingston, Base St. Kliment Ohridski O Stefan, jovem investigador em Geologia e membro da APECS Bulgária, faz diariamente pão fresco para ser consumido pelos 22 elementos actualmente presentes na base Búlgara St. Kliment Ohridski (na sua capacidade máxima). Ontem a Ana Salomé aprendeu com ele a receita e nós partilhamo-la convosco: - PÃO BÚLGARO ANTÁRTICO - Ingredientes:
Preparação: Colocar a farinha numa taça e juntar o fermento, o açúcar e o sal. Salpicar com óleo. Juntar o ovo inteiro e mexer do centro para as bordas. Ir juntando água aos poucos até formar uma massa uniforme. Estender repetidamente a massa sobre uma mesa polvilhada com farinha até acabar de uniformizar a mistura. Tapar com um pano e deixar repousar durante pelo menos 6 horas. Colocar no forno a uma temperatura de 160 graus durante aproximadamente 1 hora e meia a 2 horas. BOM PROVEITO! |
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