Diana Martins e Pedro Freitas, Ártico Canadiano, Agosto de 2022 ![]() Olá! O meu nome é Diana Martins e sou estudante de mestrado em Geografia Física e Ordenamento do Território, no IGOT – ULisboa. Juntamente com o Pedro Freitas, estudante de doutoramento em Geografia nessa mesma Instituição, iremos contar-vos a aventura que foi a nossa campanha ao sub-Ártico Canadiano! A nossa campanha foi realizada no mês de agosto de 2022, no âmbito do projeto Thawpond, tendo sido financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia através do Programa Polar Português. O objetivo foi o estudo da variabilidade biogeoquímica de lagos termocársicos, bem como melhor compreender os fatores que controlam tal variabilidade, como o tipo de solo, coberto vegetal e as formas de relevo. A investigação realizou-se em áreas próximas de duas comunidades Inuíte (Kuujjuarapik e Umiujaq), em Nunavik - no norte do Quebeque no Canadá. A partida de Portugal deu-se no dia 8 de agosto, com destino a Montreal, no Quebeque. Dois dias depois, partimos para Kuujjuarapik – Whapmagoostui (55° N), ou assim pensávamos! Como nem tudo corre como planeado (muito menos no ártico e sub-ártico!), não foi bem isso que aconteceu! Nesse dia, tal como em muitos outros, a meteorologia não se encontrava a nosso favor, não tendo sido possível lá aterrar, apresentando-se Umiujaq, a 56° N, como possível solução, por ser a comunidade mais próxima. No entanto, tal como ouvimos várias vezes durante a campanha “quando o tempo em Kuujjuarapik está mau, em Umiujaq está ainda pior”, o que levou a que o piloto nem sequer tentasse aterrar em Umiujaq. Aterrámos numa comunidade bastante mais a norte, Inukjuaq, a 58° N. As circunstâncias obrigaram-nos a lá permanecer por 2 dias. 1. Kuujjuarapik - Whapmagoostu
![]() Finalmente, o tempo deu tréguas. Na tarde de 12 de agosto, chegámos à Estação de Investigação do Centro de Estudos Nórdicos (CEN) - Universidade de Laval, em Kuujjuarapik – Whapmagoostui. Esta é uma vila que se divide em duas comunidades: Kuujjuarapik e Whapmagoostui. A primeira constitui uma comunidade Inuíte, e a segunda uma comunidade Cree, cada uma delas com os respetivos serviços e infraestruturas, sendo, também a fronteira regional entre os territórios respetivos. Observa-se, assim, uma área urbana bastante particular, com serviços e infraestruturas semelhantes e relativamente próximas (2 quartéis de bombeiros, 2 câmaras municipais, 2 quartéis da polícia), mas sem qualquer delimitação clara da fronteira entre as duas comunidades.
2. O Ambiente na Estação
O CEN detém um conjunto de estações de investigação distribuídas por Nunavik, sendo a de Kuujjuarapik – Whapmagoostui a de maior dimensão. Foi, também, nesta onde reencontrámos os nossos colegas do Departamento de Engenharia Química do Instituto Superior Técnico: o Professor João Canário, membro do Projeto Thawpond, a Beatriz Martins, estudante de doutoramento em Engenharia do Ambiente, e o Rodrigo Dias, estudante de mestrado em Biotecnologia, que se encontravam a estudar o teor de mercúrio presente nos lagos de termocarso de uma das áreas de estudo que visitámos. Sendo a minha primeira campanha de campo fora de Portugal, e a minha primeira experiência em estações de investigação, devo dizer que este primeiro embate, apesar dos contratempos, foi sem dúvida, muito positivo, tendo marcado o ponto de partida para uma campanha de campo inesquecível! Apesar de, quando chegámos, a base estar a atingir a capacidade máxima – alcançada 2-3 dias após a nossa chegada –, o ambiente era de amizade e entreajuda. Grande parte das pessoas presentes eram professores, investigadores e estudantes de mestrado ou doutoramento, com os quais partilhávamos todos os espaços da base. Todos estes acabaram por se tornar caras conhecidas e amigas, que queríamos sempre voltar a ver ao fim de um dia no campo, tanto pelas relações que se iam criando, mas também por ser um sinal de que tudo tinha corrido bem. Uma refeição quente, uma pequena troca de palavras sobre como correu o dia, são coisas que nem sempre valorizamos no dia a dia, mas que se tornam preciosas quando chegamos estafados e, por vezes, desmotivados, porque as coisas não estão a correr como queríamos. 3. Trabalho de campo em Kuujjuarapi
Sendo as áreas de estudo afastadas da estação, sem qualquer acesso por via terrestre, partilhámos um helicóptero com as restantes equipas. Partíamos por volta das 8h da manhã, rumo à área de estudo escolhida para o dia. Regressávamos à estação por volta das 19h. Mas o trabalho não terminava, dando lugar a filtrações de amostras de água, carregamento de baterias e à preparação do trabalho para o próximo dia.
A primeira área de estudo que visitámos foi o fundo de vale do rio Sasapimakwananisikw (SAS), onde trabalhámos no dia 13, com a companhia do Professor João Canário, da Beatriz e do Rodrigo, e, sozinhos, no dia 16 de agosto. Esta é uma área relativamente ampla, onde se observam diversas palsas (montículos de solo congelado) e ocorre a formação de novos lagos de termocarso rodeados por material turfoso. A vegetação presente é predominantemente rasteira (musgos e gramíneas) e arbustiva, observando-se ainda algumas coníferas ao longo das vertentes pouco declivosas do vale.
Nos dias 14 e 15, realizámos trabalho de campo em KWAK. Esta é uma área bastante diferente de SAS, apresentando solo mais desenvolvido, onde, nos últimos anos, se têm verificado intensos processos de arborização (crescimento e densificação de comunidades arbustivas). Em 2017, quando o Pedro visitou a área pela primeira vez, caracterizou-a como impenetrável, mas afinal não é bem assim! Como gostamos de desafios, embrenhámo-nos pela floresta de arbustos - com gás pimenta como medida de segurança contra animais selvagens, como os ursos - com o objetivo principal de amostrar os lagos. Os arbustos, muitas vezes apresentando alturas superiores a 2 metros, tornavam a nossa perceção do espaço quase impossível, sendo extremamente fácil perdermo-nos. Este obstáculo foi ultrapassado com recurso a um GPS externo para posicionamento constante em tempo-real, uma aplicação móvel e ortomosaicos de ultra-alta resolução obtidos pelo Professor Gonçalo Vieira em 2015. À custa de um cantil perdido, de uma rede de mosquitos rasgada e da preciosa ajuda da Beatriz, que nos acompanhou no campo no dia 15, conseguimos desbravar e explorar a área! Apesar do esforço, conseguimos cobrir o máximo de área possível, e obter dados de lagos que nunca pensámos conseguir alcançar, o que foi uma agradável surpresa.
Em ambas as áreas, realizámos levantamentos de drone com o DJI Inspire 2, equipado com a câmara multiespectral Micasense RedEdge-MX Dual Camera System, com 10 bandas: coastal blue, blue, duas bandas que correspondem ao verde, duas bandas que correspondem ao vermelho, três bandas que correspondem ao red edge e uma banda que corresponde aos NIR. Isso permitir-nos-à proceder à caracterização dos lagos, mas também da vegetação e da geomorfologia das duas áreas. Para completar e validar os dados recolhidos com o drone, utilizámos um espectrómetro de campo para a obtenção de dados in situ de reflectância, absorvância e cor da água dos lagos. Foram igualmente recolhidas amostras de água para posterior tratamento em laboratório, através de técnicas de espectroscopia e espectrometria. Complementarmente, uma sonda multiparamétrica foi utilizada, por forma a avaliar parâmetros como o pH, oxigénio dissolvido, sólidos totais suspensos, entre outros parâmetros. Alguns lagos foram ainda testados ao nível da concentração de Fe II, através da utilização de ferrozina, enquanto proxy do oxigénio, o que permitiu observar o papel da produção primária na oxigenação dos lagos. Acontece que no inverno estes lagos encontram-se em condições anóxicas, devido ao isolamento da atmosfera pela camada de gelo superficial. Esta simples análise permitiu constatar que muitos destes lagos permanecem anóxicos durante grande parte do verão, favorecendo processos de metanogénese, isto é, a produção de metano por parte de bactérias Archaea - seres unicelulares muito ativos neste tipo de lagos.
4. Chegada a Umiujaq
Olá! Daqui Pedro Freitas, para continuar a documentar a nossa fantástica campanha ao sub-Ártico Canadiano, desta vez focando-me em Umiujaq. O voo de Kuujjuarapik – Whapmagoostui para Umiujaq faz-se em apenas 30 minutos. A estadia inicial em Umiujaq estaria prevista para os dias 20 a 26 de agosto. No entanto, o tempo agreste em Kuujjuarapik – Whapmagoostui, caracterizado por nevoeiro e muito vento, provocou um atraso de dois dias na nossa viagem, sendo que aterrámos em Umiujaq só no dia 22. Como resultado deste contratempo, o trabalho desenvolveu-se apenas no vale de Tasiapik, deitando por terra a ambição de um trajeto a pé até uma nova área de estudo, e que, segundo a análise de imagens de satélite, releva uma grande diversidade de propriedades óticas nos lagos. A atratividade deste vale tem que ver com a presença de lagos e a sua proximidade à comunidade, estando ligado à mesma por uma estrada, ao contrário das áreas de estudo anteriores que apenas eram acessíveis de helicóptero. Este vale glaciário, caracterizado por substrato essencialmente arenoso de origem marinha e solo pouco desenvolvido, pouco revela sobre o processo de formação dos lagos e muito nos questiona sobre o facto de alguns deles serem ou não termocársicos. Esperamos que os dados recolhidos nesta campanha permitam perceber melhor esta e outras questões relacionadas com a sua formação e evolução na paisagem.
5. O trabalho de campo em Umiujaq
Realizado o reconhecimento da área de estudo, na tarde do dia 23 de agosto, depois de termos oferecido ajuda à equipa científica anterior para se deslocar ao aeroporto, de abastecermo-nos de comida e de reunirmos com o Mayor de Umiujaq, Davidee Sappa, o trabalho de campo de campo arrancou a todo o gás nos dias 24 e 25 de agosto. Tal como nas restantes áreas de estudo, começámos pela recolha de amostras de água e utilização de sonda multiparamétrica nos lagos. Estes, não são apenas "ilhas ao contrário", são também um registo da paisagem e do que nela se passa. A recolha pontual de dados da água acompanhada de levantamentos da vegetação e da geomorfologia. Por ser necessária uma autorização especial para voar o drone neste vale, por se situar dentro dos limites das 3 milhas do aeródromo, não nos foi possível o levantamento multiespectral da área de estudo. Este vale mostrou-nos ainda o quão é difícil trabalhar no mesmo, apresentando frequentemente nebulosidade atmosférica, vento forte, constante e frio, fatores que impossibilitaram a utilização do espectrómetro de campo. Não obstante as condições adversas em algumas situações, gerimos as atividades por forma a fazer valer o tempo ao máximo, amostrando-se um total de 45 lagos! Tal como espectávamos, este vale deixou-nos cientes da dificuldade na deteção remota de pequenos lagos, muitos apresentando água translúcida, fruto das características locais e, por conseguinte, revelando os efeitos do seu fundo na reflectância. Estes, são efeitos muito difíceis de contornar em análises regionais de pequenos corpos de água, aspeto que revela também a importância da realização de trabalho de campo e da utilização complementar de técnicas laboratoriais.
6. A estação de Umiujaq
A estação de Umiujaq é bastante pequena, sendo uma das mais pequenas do CEN, prevendo-se, contudo, a sua ampliação nos próximos anos. Como resultado dessa circunstância, é raro diferentes equipas conseguirem estar na estação em simultâneo. Neste sentido, após a partida da equipa anterior, a estação estava totalmente disponível para a nossa atividade científica. E ainda bem, porque as filtrações, para além de barulhentas, foram um "custo fora de horas!". Acontece que a estação não tem um laboratório, e muitas dessas atividades têm de ser realizadas na cozinha e na sala. O sistema de filtração das amostras de água utilizado por nós aproveita a água e pressão da torneira para criar vácuo. No entanto, os recursos hídricos da estação estão limitados a um tanque de 300 litros! Neste sentido, só através da constante reutilização da água, com o reenchimento do tanque, foi possível filtrarmos todas as nossas amostras e procedermos ao seu armazenamento nas frações corretas e respetivos filtros.
![]() Não obstante, é sempre especial regressar a Umiujaq. O pôr do sol, mesmo em frente à estação, tem um encanto único e há sempre a possibilidade de ver uma ou outra aurora boreal ao cair da noite. No final, só resta mesmo rezar para que o nevoeiro não atrapalhe a viagem de volta ao nosso destino – neste caso, Montreal, algo que voltou a acontecer. Mas finalmente, no dia 27 de agosto partimos, deixando para trás uma sensação de campanha bem-sucedida.
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José Abreu e José Queirós, 9 de Setembro de 2022 O projeto FISHFAN, parte da campanha da PROPOLAR 2021-2022, teve como investigador principal o nosso supervisor José Xavier, e nós (José Abreu e José Queirós) como jovens cientistas. O projeto tinha como destino final a base científica do British Antarctic Survey de King Edward Point na Ilha Subantártica da Geórgia do Sul, no sector atlântico do Oceano Austral onde ficamos por 3 meses a viver e a trabalhar. O início da campanha estava previsto para o dia 17 de abril, mas como acontece ocasionalmente (e especialmente antes do fim das restrições Covid-19 nas ilhas Falklands) o voo foi cancelado e tivemos de ficar 1 semana em Oxford à espera do novo, voo remarcado para dia 24 de abril. Sem mais atrasos, o nosso voo de 20h, com saída desde a base militar em Oxford e destino às Ilhas Falklands, descolou. Já nas Ilhas Falklands, cumpridos os 5 dias de quarentena obrigatória, permanecemos mais cerca de 3 dias, o que nos deu a oportunidade de explorar um pouco a ilha. No dia 3 de maio embarcámos no navio patrulha do Governo da Geórgia do Sul e das Ilhas Sandwich do Sul (GSGSSI) Pharos SG para uma travessia de cinco dias até à Geórgia do Sul. Durante esta viagem, e já em águas Antárticas, tivemos espécies de petréis e albatrozes como companheiros. De um tamanho e beleza enorme, foi fantástico poder assistir aos seus voos. Foi a 8 de maio, num nevoeiro cerrado, que tivemos o primeiro deslumbre da Ilha Geórgia do Sul, quando paramos em Bird Island para descarregar mantimentos na pequena base científica que lá existe, praticamente dedicada a aves marinhas. Navegando depois ao largo da ilha, durante um dia, chegaríamos então ao destino a 9 de maio, à baía de Cumberland, onde se erguem majestosos picos cobertos de neve e se encontra instalada a base científica de King Edward Point. Como o acrónimo já revela, o foco do projeto é o estudo das pescas (FISHeries) e cadeias alimentares (Food webs) do oceano Antártico (ANtarctic ocean). Ambos os nossos planos de doutoramento têm como objeto de estudo a pesca de fundo à linha, em redor das ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. Esta pesca tem como espécies alvo o Bacalhau da Patagónia e o Bacalhau da Antártida. Além das espécies alvo, quantidades consideráveis de macrurídeos, raias e outras espécies, são capturados como pesca acessória (bycatch). A captura de vários indivíduos de diferentes espécies a profundidades >1000m, torna também esta pesca num método valioso para estudar as cadeiras alimentares de mar profundo. Durante os 3 meses na base, analisámos mais de 700 peixes e estômagos e recolhemos dados e amostras de diferentes espécies. Estas amostras foram recolhidas por observadores, a bordo dos diferentes barcos de pesca, durante os anos da pandemia e estavam guardados na estação para serem analisadas. Visto a quantidade de material a analisar ser substancial, juntamente com os riscos biológicos existentes no transporte das mesmas, a análise na base, preparada para esse efeito, foi essencial.
José Abreu tinha como foco analisar as espécies acessórias, nomeadamente 3 espécies de macrurídeos e espécies de raias. No laboratório, após identificar a espécie, recolhia os dados de pesca e os dados biométricos. Seguia-se a identificação do sexo e estado de maturidade, através das gónadas e o peso da mesma, a análise do conteúdo estomacal e, se possível, a recolha do mesmo para outras análises posteriores. De cada individuo, recolhia também pedaços de músculo para análises químicas (ex: isótopos estáveis, ácidos gordos) a realizar em Portugal. Por último, recolhia os ótolitos ou vértebras, no caso das raias, para futuramente podermos identificar a idade da população. José Queirós, mais focado em amostras das Ilhas Sandwich do Sul, teve a oportunidade de analisar e identificar (pelos conteúdos estomacais) a dieta das diferentes espécies capturadas pela pesca, recolhendo amostras de músculo (de presas e predadores) que irão ser posteriormente analisadas quimicamente em Portugal e França para determinar a estrutura da cadeia alimentar e como diferentes contaminantes são transferidos das presas para os predadores. Todas estas amostras estão agora guardadas e irão ser transportadas pelo navio Sr. David Attenborough até ao Reino Unido. Os arquipélagos da Geórgia do Sul e das Ilhas Sandwich do Sul são uma zona riquíssima em biodiversidade e produtividade. As suas águas são, desde 2012, uma área marinha protegida e as pescas reguladas pelo GSGSSI, seguindo as orientações do conselho científico da Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártida (CCAMLR), com uma abordagem a todo o ecossistema. Compreender a dinâmica das cadeiras alimentares nestas zonas de grande profundidade, a que temos acesso limitado e ainda muito por descobrir, assim como o tipo de influência que a pesca tem nas populações afetadas, é essencial para ajudar na promoção de uma melhor gestão. Como entusiasmantes da natureza, do oceano, é um gosto poder participar ativamente neste compromisso. Além de todo o trabalho realizado ao longo dos 3 meses, pudemos constatar o quão importante é esta região para inúmeras outras espécies e o quão espetacular consegue ser a vida selvagem. Foi uma experiência inesquecível poder viver o inverno austral e construir memórias que perdurarão. Adriana Rego A campanha de amostragem do projecto ARTICOMICS iniciou-se após um ano de espera, a dia 24 de junho de 2022, em Svalbard, um arquipélago norueguês situado em pleno Oceano Árctico.
Este projecto foca-se no estudo de biofilmes de cianobactérias de ambientes polares. As cianobactérias são um grupo de bactérias fotossintéticas, que estão envolvidas em vários processos essenciais a nível do ecossistema, como a produção de oxigénio e fixação de azoto, assim como a produção de compostos naturais para a sua própria protecção, os quais são chamados de metabolitos secundários. Estes metabolitos secundários possuem recorrentemente propriedades bioactivas e novidade química. Neste projecto pretendemos estudar as cianobactérias e os seus metabolitos secundários, usando metagenómica, a partir de amostras ambientais enriquecidas, recolhidas na região de Svalbard. O plano de amostragem inclui 4 regiões distintas, incluindo o vale Sassendalen, o glaciar Foxfonna, e ainda as regiões de Adventdalen e Bjørndalen. Com a colaboração da Lise Øvreås (https://www.uib.no/en/persons/Lise.%C3%98vre%C3%A5s), a primeira semana da campanha foi realizada na região de Adventalen, nas proximidades da lagoa Pingo. No total 8 amostras de biofilmes de cianobactérias foram recolhidas, as quais foram posteriormente observadas ao microscópio no centro universitário de Svalbard (https://www.unis.no/). As próximas semanas serão dedicadas à continuação das amostragens pelos locais referidos! Catarina Magalhães, Eva Lopes e Miguel Semedo Após uma curta viagem até à estação KB3, começámos o trabalho a bordo para recolher amostras de água a seis profundidades diferentes, desde a superfície até ao fundo (5 m, 15 m, 25 m, 50 m, 150 m, 300 m). As primeiras amostras são recolhidas com as garrafas de Niskin. A água recolhida é separada no local para as diferentes análises a ser feitas posteriormente no laboratório, nomeadamente medições de carbono inorgânico dissolvido, matéria orgânica dissolvida, isótopo de 18O, nutrientes, e análise taxonómica de fitoplâncton. Para além destas amostras, também é recolhida água para posterior filtração e análise de clorofila-a, carbono e nitrogénio orgânico particulado, e análise genómica da comunidade microbiana. De forma a aproveitar ao máximo os recursos e ter uma visão integrada da cadeira trófica planctónica, também são efetuados lançamentos de uma rede WP2 para capturar zooplâncton e posterior análise taxonómica e genómica em três camadas de profundidade (0-50 m, 50-100m, e 100-300m). Para além de todas estas amostras, é também feito um perfil de CTD ao longo de toda a coluna de água para registar a temperatura e salinidade. São também efetuadas medições de luminosidade nas camadas superficiais.
Catarina Magalhães, Eva Lopes e Miguel Semedo ![]() No dia 20 de Junho chegou a Ny-Ålesund a 1º investigadora do CIIMAR “Eva Lopes” e a 27 de Junho o 2º investigador do CIIMAR “Miguel Semedo”. Depois da chegada a Longyearbyen, a Eva e o Miguel embarcaram num voo da “Lufttransport”, numa pequena avioneta que transporta um pequeno grupo de investigadores de Longyearbyen para a estação científica. Durante este voo as paisagens são deslumbrantes e é possível ver alguns dos glaciares cuja dimensão tem diminuído nas últimas décadas, embora o voo seja de curta duração, cerca de meia hora entre Longyearbyen e Ny-Ålesund. Após a chegada a Ny-Ålesund o trabalho teve logo início com a preparação de todo o material para as amostragens nos dias seguintes. Devido a constrangimentos das condições do tempo, a primeira campanha aconteceu apenas no dia no dia 24 de junho, onde a investigadora do CIIMAR Eva Lopes, juntamente com o investigador do NPI, Dr. Philipp Assmy, fizeram a recolha de amostras de água, sendo este o primeiro transect realizado da temporada. As estações (KB8, KB5 e KB4), são as mais próximas dos glacieres, de avistam inúmeros icebergs à deriva. A estação científica de Ny-Ålesund está muito bem equipada com tudo o que é necessário para que os investigadores consigam desenvolver todas as atividades de investigaçã. A estação inclui laboratórios equipados, barcos científicos com equipamento oceanográfico, bem como áreas de trabalho. Temos ainda acesso a uma cantina com todas as refeições diárias incluídas, ginásio, e quartos com o conforto necessário para passarmos umas noites tranquilas de descanso. Para além de tudo isto, a presença simultânea de investigadores polares de todo o mundo, de diversas áreas de investigação, permite trocas de conhecimento constantes e enriquecedoras. Não há uma refeição na cantina comum em que não se aprenda algo de novo, quer seja sobre pássaros do ártico, ciência atmosférica, fitoplâncton, zooplâncton, ecologia microbiana, etc. Para além disso, às terças-feiras à noite, quem está presente na base, investiagadores ou não, são convidados a assistir a um seminário sobre os trabalhos desenvolvidos pelos investiagador que se encontram na estação cientifica, onde se verifica um grande interesse da comunidade pelos trabalho uns dos outros.
Catarina Magalhães, Eva Lopes e Miguel Semedo A Campanha do Projeto TINYARCTIC “Decifrar o Microbiome Planctónico e as suas Funções num Ártico em Mudança” já está a decorrer com investigadores do CIIMAR a desenvolver atividades de campo na estação científica de Ny-Ålesund localizada no arquipélago de Svalbard. ![]() As atividades do projeto TINYARCTIC estão integradas no programa semanal de monitorização do Kongsfjordanque, que está a decorrer durante o período de Maio a Agosto de 2022, liderado pelo Programa Polar Norueguês (NPI). No âmbito do projeto TINYARCTIC os investigadores do CIIMAR estão a participar nas campanhas de monitorização planctónica semanais, sendo responsáveis pela colheita e processamento de todas as amostras de genómica para os estudo da diversidade e função dos microbiomas planctónicos utilizando técnicas de sequenciação de nova geração. A campanha de 2022 irá adicionar mais um ano de dados dos microbiomas planctónicos na região de Kongsfjordan sujeita a alterações drásticas causadas pelas alterações climáticas. Os dados da campanha de 2022, juntamente com os que foram obtidos nos outros anos do programa de monitorização (Desde 2016) estão a gerar um conjunto único de dados do microbioma do Oceano Ártico a uma escala temporal alargada, fornecendo novos conhecimentos acerca da resposta do microplâncton do Ártico ao aquecimento global. Chegaram ao fim dois meses intensos de trabalho no laboratório! Este projeto teve como objetivo a ida para o British Antarctic Survey (Cambridge, Reino Unido) analisar conteúdos estomacais de predadores de topo para compreender melhor o papel dos cefalópodes na cadeia alimentar do Oceano Austral. Durante os últimos dois meses abrimos mais de 1000 estômagos de Bacalhau da Antártida (Dissostichus mawsoni) e da Patagonia (D. eleginoides) que foram recolhidos em 2020 na Georgia do Sul e Ilhas Sandwich do Sul (sector Atlântico do Oceano Austral). Além de funcionarem como amostradores biológicos de cefalópodes na região, estudar a dieta destas duas espécies de peixes permite-nos entender o funcionamento das cadeias alimentares de mar profundo do Oceano Austral mas também, sendo estas duas espécies comercializadas, perceber como a captura destes organismos pode alterar as estrutura da comunidade e como podemos melhorar a gestão dos recursos. A rotina realizada durante este projeto foi praticamente sempre igual, das 8h da manhã até às 17:30h (devido a regras do instituto não podemos permanecer nos laboratórios após esta hora) sempre a abrir estômagos. A única pausa do trabalho foi quando, já na parte final, testei positivo à covid e tive de ficar por casa a trabalhar ao computador! Trabalhar com estômagos de bacalhau tem a vantagem de conseguirmos obter amostras de grandes lulas, mas a desvantagem de deixar um cheiro a peixe (por vezes a fugir para o “estragado”) no laboratório que ninguém conseguiu trabalhar lá enquanto eu trabalhava. Nos mais de 1000 estômagos de Bacalhau, conseguimos encontrar amostras de lula colossal (Mesonychoteuthis hamiltoni), o invertebrado mais pesado do planeta com cerca de 500 Kg, mas também alguns indivíduos inteiros de lulas mais pequenas. Tendo em conta a pouca seletividade dos nossos predadores, além das lulas ainda pudemos identificar peixes, crustáceos (camarões e caranguejos) e ... um pinguim (não mostro fotos porque já não era um pinguim fofo)!!! A maioria dos tecidos recolhidos, de presas e predadores, já se encontra em Portugal à espera de ser analisada quimicamente. Por exemplo, usando isótopos estáveis iremos determinar os níveis tróficos das diferentes espécies. Além das análises químicas, o estudo do conteúdo estomacal de mais de 1000 estômagos de bacalhau irá permitir fazer a maior descrição da dieta destes predadores de sempre. Para terminar, gostaria só de fazer um agradecimento especial ao Paul Geissler, o gestor de laboratórios do BAS, por toda a disponibilidade quando precisávamos de algo e por todo o esforço feito em tratar todo o “desperdício” (solido e líquido) que fizemos e, por razões de biossegurança, teve de ser submetido a um tratamento especial. It came to an end two months of intensive laboratory work! The main goal of this project was to go to the British Antarctic Survey (Cambridge, United Kingdom) to analyse stomach contents of Antarctic top predators to better understand the role of cephalopods in the Southern Ocean food web. Sofia Ramalho, 15 de Junho de 2021 Com o fim da campanha a aproximar-se, o navio de investigação FF Kronprins Haakon deslocou-se até ao mar de Barents, na falha de Leirdjupet. Apesar de brevemente investigados por a equipa da UiT, as fontes frias localizadas neste local aguardavam observação direta com auxílio do ROV. Foram recolhidas diversas amostras, incluindo sedimentos para os estudos da meiofauna no âmbito do projecto NEMSEA, mas também carbonatos de elevado interesse para os geólogos, ricos em epifauna que foi recolhida para futuros estudos na Universidade de Bergen, Noruega. ![]() Apesar do local ser extraordinário do ponto de vista da biodiversidade local, observamos também evidência de perturbação humana, tanto por lixo marinho, mas também através das inúmeras marcas deixadas nos fundos lodosos pelos navios de pesca de arrasto que tipicamente exploram a área. ![]() Ainda com tempo para uma última observação, deslocarmo-nos até ao Håkon Mosby mud volcano (HMMV), localizado a sul de Svalbard. Esta é considerada uma das fontes frias mais bem estudadas no mundo, e na qual foram detetadas as maiores densidades de meiofauna registadas até hoje em mar profundo. Sendo locais altamente dinâmicos e sabendo que as últimas observações datam de há mais de uma década, decidimos recolher as últimas amostras perto dos mesmos locais anteriormente estudados para comparação. E porque a campanha tinha uma enorme componente educativa, aproveitamos a última hora para ir à procura de hidratos de gás, rico em metano. Para a felicidade de todos a bordo conseguimos recolher alguns pedaços que colocamos a arder para demostração. O regresso a terra foi acompanhado pela extraordinária paisagem que rodeia a cidade a Tromsø, na Noruega! Encontre todas as publicações do projeto NEMSEA neste link Sofia Ramalho, 4 de Junho de 2021 Após 10 dias de quarentena, e muitas aventuras pelo caminho, foi finalmente possível seguir viagem para Longyearbyen e embarcar a bordo do navio de investigação FF Kronprins Haakon. O objetivo principal desta campanha oceanográfica, também designada de AKMA (https://akma-project.com) e coordenada por investigadores da Arctic university of Norway (UiT), é explorar e caracterizar diversas fontes frias ricas em metano ao largo da margem continental do arquipélago de Svalbard e no mar de Barents. Associada a esta expedição oceanográfica, o projecto NEMSEA pretende investigar diversidade das comunidades de organismos meiobentónicos associados a estes ambientes quimiossintéticos. Encontramo-nos agora a meio da campanha, e os últimos dias foram sem dúvida extraordinários do ponto de vista científico. Com a ajuda do ROV Ægir, observados já 4 locais distintos do ponto de vista geológico e biológico, e recolher imensas amostras que nos permitirão em laboratório estudar ao detalhe a diversidade destes locais. NATALPHEN_#01: José Alves parte rumo ao Ártico para trazer novos dados sobre aves migratórias12/4/2021 José Alves, investigador e coordenador do projeto NATALPHEN – Consequences of natal phenology for juvenile migratory bird’ social experience and winter settlement, iniciou a sua missão no dia 27 de Março de 2021, num voo rumo à Islândia. São no total 13 horas de viagem, até chegar ao Centro de Investigação South Iceland Research Centre da Universidade da Islândia, onde ficará alojado até final de Julho. Durante estes meses, José Alves e a sua equipa de investigação e colaboradores preparam-se agora para receber as aves migratórias que começam a chegar aos seus locais habituais de nidificação a altas latitudes. É objetivo desta investigação estabelecer a relação entre a data de eclosão das crias, a experiência social por elas adquirida a e ocupação dos locais de “invernada”, partindo das hipóteses que:
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