A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
31 de Janeiro de 2012
O projecto COOPANTAR chegou ao fim. Foram cerca de 21 dias de aprendizagem e de vivência numa realidade completamente diferente da minha. Conheci pessoas muito amáveis e acessíveis, que me ajudaram muito e aprendi a importância da cooperação entre programas/países - aliás, sem ela, não teria estado em Artigas! Recordam-se de que tive o apoio do Programa Polar Português, do INACH, viajei num navio chileno e fiquei instalada numa base uruguaia, com o apoio do Instituto Antártico do Uruguai! E como se não bastasse, presenciei um acontecimento de alto nível no que respeita à cooperação bilateral na Antártida, entre os Presidentes do Uruguai e do Chile! Recebemos também em Artigas elementos das bases vizinhas para um almoço em que se difundiu a qualidade da carne de vaca uruguaia e se celebrou a cooperação em King George. Assim, à mesa, juntaram-se uruguaios, chilenos, russos, coreanos e chineses! Conheci igualmente as bases russa e chilena e enviei correspondência a partir de uma estação de correios antártica. Resumindo: esta minha viagem não poderia ser mais preenchida, creio que cumpri os objectivos do projecto. Posso dizer que termino esta aventura conhecendo bastante melhor a realidade antártica e as diferentes dinâmicas de cooperação entre países, que podem passar tanto por compromissos políticos como por emprestar uma viatura à base vizinha. Agora resta-me deitar mãos à obra e começar a redigir a tese de doutoramento, aplicando e desenvolvendo todos estes ensinamentos! Last but not least, obrigada a todos os que me ajudaram na concretização deste projecto, e aos que me fizeram sentir sempre em casa. Sem vocês teria sido muito mais complicado! Vanessa Rei, Ilha King George ![]() 19 de Janeiro de 2012 Viver numa base na Antártida tem o seu lado de ficção científica - isolados numa zona fria e distante, trabalhando em prol da ciência - mas igualmente uma parte bem real de trabalho físico e bastante duro, onde se enquadra a manutenção de toda a estrutura e o abastecimento de víveres e combustível. E posso garantir-vos que esta última parte não é nada fácil, pois implica grande esforço e sujeição a condições extremas e a horários pouco convencionais. Esta terça-feira chegou então o navio da Armada uruguaia, o Vanguardia, com mantimentos e combustível, que teve de ser descarregado. A tarefa envolveu toda a guarnição da base e eu aproveitei para dar uma ajuda. Como estávamos dependentes das condições marítimas e do vento, só foi possível iniciar os trabalhos a partir das 23h00 e, claro está, a azáfama prolongou-se madrugada fora. Participei entre a 01h00 e as 03h30, mas o frio e o cansaço acabaram por vencer-me. O resto do pessoal da base ficou a trabalhar até às 07h00 (sem, no entanto, terem terminado de descarregar tudo)! Descansaram um pouco e, por volta das 13h00, foram efectuar a transfega de combustível. Ontem ao fim do dia chegou também o Hércules C-130 do Uruguai, com cerca de cinquenta pessoas a bordo (dez investigadores), que ficaram instalados na base. A tranquilidade do início da minha estadia aqui já lá vai, mas tem um lado positivo: como muitos deles vêm para conhecer a ilha, é mais fácil para mim sair da base uma vez que há sempre quem queira passear pelas redondezas! Vanessa Rei 17 de Janeiro de 2012
Ontem saí pela primeira vez da base, para acompanhar os colegas do projecto SNOWCHANGE. Estava um dia muito bonito e pude testemunhar a beleza desta ilha, onde os glaciares se confundem com o céu! Foi muito engraçado acompanhá-los, para além do convívio e da boa disposição, aprendi bastante sobre neve e pude perceber como pode ser duro o trabalho no terreno! Por outro lado, soube muito bem fazer um pouco de exercício físico, depois de cinco dias num navio e três na base! Hoje o dia amanheceu muito cinzento, com chuva e vento, condições que vão dificultar o trabalho da equipa da base. Chegou um navio de abastecimento de combustível e mantimentos, que tem de ser descarregado. Uma vez que a trasfega é um actividade muito sensível - tem, inclusive, planos de contigência para derrames do combustível - não se adivinha uma tarefa fácil para a guarnição da Artigas! Amanhã a equipa terá novamente mais um dia preenchido, pois chega um Hércules C-130 do Uruguai com cerca de quarenta pessoas (dez cientistas) e equipamento, que terá igualmente de ser descarregado. Não é fácil trabalhar numa base! Vanessa Rei 15 Janeiro 2012 Após cinco dias a bordo do navio Aquiles, cheguei finalmente à Base Uruguaia de Artigas, onde fui muito bem recebida pelo Chefe da Base, Tenente Coronel Calvo e pela sua equipa. São pessoas muito bem dispostas e simpáticas, acolheram-me como se pertencesse “à família”. Como Artigas é uma base permanente, ou seja, funciona todo o ano, tem sempre uma equipa de apoio, neste caso, composta por oito militares e dois civis, dois quais cinco elementos permanecem no terreno durante um ano. Nesta equipa estão integradas duas mulheres - uma meteorologista/psicóloga e uma operadora de rádio. Dos investigadores, fui a primeira a chegar, espera-se que nas próximas semanas a base acolha cerca de cinquenta pessoas, todas uruguaias, entre cientistas e pessoal de apoio. Ou seja, continuarei a ser uma espécie rara por estas paragens! Os primeiros dias na base não poderiam estar mais ligados ao COOPANTAR. No dia em que cheguei, recebemos a visita do Presidente do Uruguai, José Mujica e da Primeira-Dama, a Senadora Lucía Topolansky, que nos acompanharam ao jantar. Foi um serão muito agradável, conversámos sobre variados temas desde a Antártida à História mundial! No dia seguinte, sábado, foi a vez de recebermos na base o Presidente do Chile, Sebastian Piñera e a sua mulher, Cecília Morel, acompanhados por uma comitiva de 33 pessoas, entre staff presidencial, Senadores, Ministros, Chefes dos ramos militares, Direcção do Instituto Antártico Chileno (INACH) e jornalistas. José Mujica foi convidado pelo homólogo chileno a visitar a Antártida (foi a primeira visita do Presidente uruguaio ao “continente branco”) e retribuiu o convite oferecendo um almoço na base Artigas. Foi discutida a cooperação entre os dois países, ainda que entre comensais e de forma muito ligeira, mas foi passada a mensagem de que os laços entre Chile e Uruguai no que respeita à presença na Antártida são importantes e deverão ser reforçados no futuro, com maior intercâmbio de cientistas e apoio logístico. A Primeira-Dama uruguaia ficou instalada na base durante o fim-de-semana, enquanto o Presidente Mujica visitava outras bases chilenas. Foi uma companhia agradável ao pequeno almoço e durante um curto passeio pela base, onde fotografámos um grupo de pinguins muito curiosos (Pygoscelis antarctica), que fizeram pose para as fotos! Vanessa Rei A viagem no AP-41 Aquiles começou na segunda-feira, 9 de Janeiro de 2012, pelas 08h00. Já estava alojada no navio desde Domingo à noite, pelo que às 06h15 acordei com um apito estridente, que vim a perceber que era uma forma de comunicação no mar... Tomei o pequeno-almoço (pão com manteiga e chá) e um comprimido anti-enjoo, para garantir que seria uma travessia pacífica!
A travessia do Estreito de Magalhães foi muito tranquila, sempre com uma vista fantástica. De um lado e do outro do navio, as montanhas acompanhavam-nos silenciosamente, certificando-nos que ainda estávamos no Estreito! A seguir ao almoço, outro comprimido e uma bela sesta, apenas quebrada pela voz que no radio dizia: “Aténcion pasageros, vamos a empezar a cruzar El Drake”. Sentiu-se um movimento diferente no navio, mais forte, mas graças aos meus comprimidos maravilha, continuei a dormir!A bordo, embora estivéssemos num navio militar, não pude deixar de pensar no Love Boat e isto porquê? Não é que as pessoas estivessem enamoradas, nada disso, mas pelas origens, destinos e objectivos tão distintos que foi inevitável associar a uma daquelas histórias que animavam as tardes dos idos anos 80. Senão vejamos: - Uma equipa de 30 elementos (militares e civis - Instituto Antártico Equatoriano) que iam preparar a base do Equador para que possa estar em funcionamento todo o ano. A acompanhá-los viajava um escritor equatoriano cuja missão consistia em recolher dados para escrever um livro sobre os 25 anos da presença daquele país no “continente branco” e quatro investigadores venezuelanos. - Duas estudantes de artes que estavam a realizar um filme sobre a Antártida. - Uma nadadora chilena, Julieta Nuñez, que procurava bater um recorde pessoal nadando nas águas geladas de Baía Paraíso. - Jornalistas que acompanham a Armada e que preparavam a chegada a bordo do Presidente chileno, Sebastian Piñera. - Um elemento do Rotary Clube de Santiago, que acompanhava duas crianças numa viagem prémio à Antártida. - Militares chilenos que viajavam para as bases. - Uma professora e uma aluna da Universidade do Chile que viajavam em turismo, visitando as bases. - Uma equipa de investigadores ligados ao INACH, que iam realizar um projecto relacionado com a contaminação ambiental em torno das bases permanentes. A travessia do Drake foi muito tranquila para mim (sempre a dormir, vá) e na quarta-feira, dia 11 de Janeiro, chegámos à Antártida, à ilha de Greenwich, para deixar o grupo de equatorianos. Porém, estava muito vento e o desembarque foi impossível, pelo que tivemos de permanecer ancorados ao largo da ilha durante dois (longos) dias... Na sexta-feira, 13 de Janeiro, cheguei finalmente a Fildes, à Base Artigas, com uma curta passagem pela Base Escudero (chilena), onde pude encontrar a equipa do SNOWCHANGE e falar português! Vanessa Rei ![]() 07/01/2012 O meu nome é Vanessa Rei e sou a única investigadora na área das ciências sociais integrada na Campanha Antártica Portuguesa 2011-2012. Estou a desenvolver o Projecto COOPANTAR - Dinâmicas de Cooperação na Antártida, no âmbito do doutoramento em História, Defesa e Relações Internacionais (ISCTE-IUL e Academia Militar), projecto esse que pretende analisar a história da presença científica no continente, os programas polares de diferentes nacionalidades, a cooperação internacional no quadro da investigação científica e a vivência no terreno dos cientistas. Em Portugal, a Antártida, na vertente das ciências sociais, tem sido pouco estudada, sendo a literatura sobre cooperação e desenvolvimento de missões científicas praticamente inexistente, pelo que o COOPANTAR terá igualmente como objectivo dar a conhecer o que de melhor se faz no âmbito dos programas polares e da cooperação. A primeira fase do COOPANTAR teve início ontem, 06 de Janeiro de 2012, com uma visita ao INACH - Instituto Antártico Chileno, em Punta Arenas, que me permitiu conhecer um pouco do Programa Polar chileno. Porém, a parte mais interessante do projecto está quase a começar, com uma viagem de navio rumo à ilha de King George, onde ficarei instalada na base de Artigas, do Programa Polar uruguaio. Desde já, um agradecimento especial ao Programa Polar Português por todo o apoio que me têm dado e por tornarem esta aventura possível, ao INACH e ao Programa Polar Uruguaio, pelo apoio logístico e estadia. Muito obrigada! Vanessa Rei |
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