A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
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"Palmer Station, Palmer Station - Drillers... leaving Palmer station heading to Lovers Lane"..."Drillers - Palmer Station, heading to Lovers Lane at 09:11". Assim começam os nossos dias de manhã, ao entrarmos na zodiac, com a comunicação entre o Stian e o operador de rádio da base. Lovers Lane é o romântico nome da baía onde costumamos deixar a zodiac, próximo da jovem ilha Amsler, que se formou há poucos anos devido ao retrocesso de um glaciar.
Ontem foi mais um dia de perfurações no Monte Amsler. No sábado tinhamos avançado apenas 1 metro, pois tinhamos tido alguns problemas com a coroa diamantada, que decidimos substituir já no final do dia. Mas no domingo, o dia correu bem melhor e furámos mais 2 metros, pelo que estamos agora a 12 metros de profundidade. Chegou a altura de tirar um dia para descanso na base e pôr o email e trabalho pendente em dia. Rever relatórios, acabar de lançar algumas notas ainda pendentes e, claro, descansar um pouco. Tivemos mais de uma semana non-stop a trabalhar nas perfurações e o cansaço acumulado sente-se. Hoje o amanhecer trouxe-nos uma paisagem coberta de neve e está a saber descansar um pouco, para amanhã voltarmos ao terreno. Gonçalo Vieira, Base Palmer - ilha Anvers. Estação Comandante Ferraz antes do incêndio (foto Pedro Guerreiro) Domingo 27 de Fevereiro de 2012 Arctowski - Faz hoje 35 anos que foi inaugurada esta base Antárctica de Henrik Arctowski. O dia não foi a celebração que se antevia ainda há uns dias atrás. Após os acontecimentos que destruíram a base brasileira Comandante Ferraz, o ambiente é de tristeza, mesmo alguma apreensão, pois durante o inverno Arctowski continuará aberta com 7 pessoas que estarão efectivamente isoladas durante mais de 6 meses. Mas, mesmo assim, ainda se fez um bolo de aniversário e uns pratos polacos - uma espécie de guisado com muita cebola, couve e vinagre, arengue em conserva, carnes fumadas e enchidos, rolos de carne com cebola e pickles de pepino. Além dos locais, estiveram os 4 habitantes da base americana Copacabana, que ficam connosco todos os fins de semana, para os duches e a lavagem de roupa - em Copacabana não há água canalisada. Depois de curtos discursos foi apagar as velas, comer e relaxar conversando e ouvindo música. Segunda-feira - A nossa semana também não se iniciou da melhor maneira. Os peixes que estavam a -2ºC morreram todos. Toca a ir à pesca para tentar apanhar mais alguns. Por sorte o tempo estava bom e foi uma hora de pesca, em condições excelentes. Foi também um dia de tentar progredir com relatórios e papelada em geral. Terça-feira - Três dos microbiologistas e 2 climatologistas voltaram para a Polónia. Daqui foram de zodíaco até à estação de Machu-Pichu (peruana), que fica do outro lado da baía, não muito longe da estação brasileira, para no dia seguinte seguirem de navio até à base de Frei para apanhar um avião Hercules para Punta Arenas. Para nós foi também mudar de habitação para mais perto do «samolot» (avião), o edifício central da estação em forma de T. Isto permitiu fechar os edifícios da zona onde estávamos, para poupar energia. Mais trabalho de secretária - rever artigos para publicação. Quarta-feira - Como estava planeada festa de aniversário para domingo, o chefe da base deu folga. Organizou-se uma excursão de zodíaco para irmos ver uma zona recondita da baía, rodeada de encostas íngrimes e glaciares, com uma ilha com um pico e alto sobressaindo. Quando saímos estava bom tempo, e depois de navegarmos uns 20 minutos, fizemos uma pequena caminhada pela margem. Uns tirando fotografias, outros procurando pedras interessantes e cristais. Nesta zona encontram-se comummente ágatas, cristais de quartzo e, nalguns locais, fósseis de plantas. Ainda tentámos ir a outro local mas levantou-se vento e havia muito gelo compactado a flutuar na água pelo que voltámos para a base. Embora estejamos bem protegidos do frio com fatos de sobrevivência, estas saídas algum esforço físico, pelo que muitos acabaram na sala a ver filmes, outros ainda forma cozinhar. Os colegas polacos ainda estavam retidos em Machu-Pichu. Isto quer dizer que perderam o avião para Buenos Aires onde iam ficar durante uma semana. Má notícia, ao fim do dia, os peixes a baixa temperatura morreram novamente. Talvez seja por os colocarmos muito rapidamente a uma temperatura 4ºC inferior à da baía, mas não deixa de ser lago inesperado. Nada a fazer. Quinta-feira - Um dia geralmente frio (temperaturas negativas quase todo o dia), com muita neve ainda no solo do fim de semana. Esquecendo as alucinações que vêm da universidade, um dia de escrita - mais artigos para rever. Exercício de bicicleta de ginásio ao fim do dia e filme V de Vendeta, um Guy Fawkes (o conspirador inglês católico do século XVI que tentou fazer explodir o parlamento) moderno com estilo Orweliano. Vale a pena ver e há também em livro (uma comédia de Alan Moore). Sexta-feira - um dia morno, sem muito para contar. Mais escrita. Nos últimos dias o tempo tem estado excelente com muito sol e calmaria. Há uma alta pressão localizada próximo que nos tem estado a proteger das frentes que vêm da passagem de Drake. Esta é uma actividade diária, geralmente a seguir ao pequeno almoço. Carregar a previsão o tempo e ver a direcção e velocidade do vento. O vento é de facto o nosso «inimigo». O factor de arrefecimento pode colocar temperaturas positivas a fazer-se sentir como se tivesse uma dezena ou mais de graus centígrados negativos. Muito tempo em frente ao computador - o tempo passa depressa. Sábado - o dia em que todos os diabos se soltaram. Fui acordado pelas 6 horas ao som de um helicóptero. Ocasionalmente o helicóptero da estação de Frei vem até aqui para vir buscar correio, mas tão cedo? Quando me apercebi que ia aterrar resolvi ir dar uma vista de olhos e reparei que estava muito próximo, entre o nosso alojamento e o samolot. Na beira água, a uns 100 metros, um zodíaco e algumas pessoas. Achei estranho mas resolvi voltar para a cama. Minutos mais tarde o Pedro chama-me a dizer que Ferraz estava a arder. O helicóptero tinha vindo buscar um queimado que a equipa de Arctowski tinha trazido de Ferraz por zodíaco. Ao fundo, do outro lado da baía, fumo negro espesso subia lentamente. O alerta tinha sido dado à uma da manhã e pouco depois deixou de haver comunicação por rádio devido à falta de energia. O pessoal de Arctowski foi de imediato para Ferraz com uma cozinha de campanha para permitir preparação de bebidas quentes. Como era noite, o pessoal da estação chilena de Frei não podia utilizar os helicópteros - estes só entraram em acção cerca das 6 horas após o alvorecer. Por isso, também foram ajudar de zodíaco, uma viajem de duas horas! O resto já se sabe, está pela Internet. Há a lamentar duas vidas. Havia fumo e pequenas explosões até por volta do meio-dia de ontem. Nessa altura também começou a levantar-se vento. Hoje, quase dois dias não se vê fumo, mas depois ainda há combustão. Foi isso que nos disse via rádio o navio HMS Protector que ficou de vigia e fez o rescaldo. Da estação só restam os depósitos de combustível e os abrigos que estavam afastados do edifício principal. Foi nos abrigos que as pessoas se refugiaram para evitar hipotermia. A maior parte do material científico, apontamentos, trabalhos para tese, computadores e coisas pessoais foram perdidos pois não houve tempo de os resgatar. Tudo se iniciou com uma explosão na sala dos geradores, com perda de energia os alarmes não funcionaram e foram investigadores que tinham estado a celebrar uma festa de aniversário e foram ver as estrelas (um céu espectacular, diga-se) que viram as chamas. Agora há a limpeza a fazer para evitar contaminação ambiental (só para o ano). Após ter dado a notícia ao Ciência Hoje, jornalistas brasileiros descobriram-me a pedir informações. Nesta altura já o pessoal que estava na estação Ferraz deve estar a chegar a casa e a contar na primeira pessoa o que se passou. Vamos ver o que nos traz a próxima semana, talvez encontre uma pedrinha gira! Adelino Canário & Pedro Guerreiro, http://www.facebook.com/notes/adelino-canario/propolar-miss%C3%A3o-%C3%A0-ant%C3%A1rctica-n%C3%BAmero-sete/10151338926340384; http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151334243145384; [Permantar 2. Palmer] Incêndio na Estação de Pesquisa Brasileira na Antárctica Comandante Ferraz26/2/2012
25 de Fevereiro de 2012 Ao voltarmos de mais um dia de trabalho de campo, recebemos uma noticia que nos deixou em choque. O incêndio na estação Brasileira e a morte de dois militares. Os meus profundos sentimentos às famílias dos militares falecidos. Também quero deixar uma mensagem de força ao grupo-base e aos cientistas que se encontravam na base. A primeira vez que vi a base brasileira foi em 2006 na minha primeira campanha à Antárctida, apesar de não ter visitado a base, foi das primeiras que vi e recordo-me de a ter achado espectacular. O ano passado tive o privilegio de ficar instalado na base e de partilhar momentos inesqueciveis com todas as equipas que constituem esta base. É um momento difícil e deixo que estas fotos da base falem por mim.... Alexandre - Base Norte-Americana de Palmer 25 de Fevereiro de 2012 Soubemos há pouco que houve um incêndio muito grave na base Antártica Brasileira Comandante Ferraz na ilha de Rei Jorge. A base ardeu por completo e há a lamentar duas mortes. Esta é uma situação que nos deixa muitíssimo tristes e aproveitamos para enviar um grande abraço e para dar os nossos muito sinceros sentimentos aos nossos grandes amigos brasileiros. Os nossos pêsames às famílias dos marinheiros que faleceram no incêndio. Esta foi uma perda muito grande para o Brasil e para a ciência antártica. Aproveitamos para esclarecer que não havia portugueses na base Ferraz. A alguns quilómetros, na base polaca Arctowski encontram-se o Adelino Canário e o Pedro Guerreiro, que nos enviaram a notícia do incêndio e que abaixo transcrevemos. Gonçalo Vieira, Base Norte-Americana de Palmer ************** Arctowski, King George Island, Antárctica, 25 de Fevereiro de 2012 Um fogo irrompeu na noite passada, cerca da meia-noite local (menos 3 horas que em Portugal), na unidade de geradores da base Antárctica brasileira Estação Comandante Ferraz, tendo-se progressivamente propagado à sala comunitária de refeitório e convívio e daí aos aposentos e a toda a instalação. Ao início da manhã a estação estava praticamente consumida, com excepção dos tanques de combustível e pequenos abrigos que se encontravam afastados do edifício principal. Do incêndio resultaram 2 feridos com queimaduras, um em estado mais grave e com hipotermia, que foi evacuado de barco zodíaco para a estação polaca de Arctowski, no outro lado da baía de Admiralty, donde um helicóptero o levou para as instalações hospitalares da base chilena Eduardo Frei. Estavam na altura na base brasileira 65 pessoas, entre pessoal técnico e investigadores, que foram também evacuados de helicóptero para Frei e de barco para o navio polar brasileiro Almirante Maximiano, que se encontrava ancorado na baía em frente à base brasileira. A base brasileira era uma das mais modernas da região estando aberta em permanência ao longo do ano. Foi instalada em 1986 tendo recebido a visita do Presidente Lula da Silva em 2008. Tinha capacidade para 106 pessoas, das quais 1/3 cientistas, e era formada por um conjunto de contentores metálicos ligados entre si por uma cobertura contínua. Estava equipada com sistema anti-incêndio, que não funcionou devido à perda de energia motivada pela falha de geradores, não havendo um sistema de fornecimento de energia alternativo. As condições de muito baixa humidade relativa em geral na Antárctica e, nesta zona, nos últimos dias com pressão atmosférica muito elevada, fazem com que o risco de incêndio seja elevado e a sua contenção difícil. Uma equipa de pessoal da estação de Arctowski, onde me encontro, prestou auxílio logístico disponibilizando bebidas quentes através de uma cozinha portátil e no transporte de feridos. Participaram na evacuação helicópteros chilenos e brasileiro. Este será provavelmente um inverno solitário para a equipa polaca de Arctowski, já que não deverão existir condições de habitabilidade em Ferraz. Programa Antárctico Brasileiro- http://www.mar.mil.br/secirm/proantar.htm Adelino Canário, Base Polaca Arctowski, ilha de Rei Jorge A vida numa base militar não é muito diferente de uma casa com uma família muito grande, onde todas as tarefas têm de ser bem organizadas e especialmente muito bem coordenadas entre militares e científicos. Isto tanto se aplica nas tarefas de manutenção da casa, onde sempre que seja necessário contribuímos com o nosso apoio e temos todo o gosto em poder ajudar. Como o contrário também se aplica! Sempre que precisamos de apoio nas nossas actividades, os militares mostram-se sempre disponíveis e tal como diz o chefe de base “estamos aqui para vos apoiar”. E assim foi! Nos 2 locais CALM (Circumpolar Active Layer Monitoring) que temos entre mãos, Crater Lake e Irizar, tínhamos a tarefa medir a espessura da camada activa, levantamento topográfico com DGPS Trimble R4, e recolher amostras de solo para mais tarde ser analisado em laboratório. O sítio CALM é constituído por uma rede de 100x100m onde a cada 10m são efectuadas medições de espessura de camada activa e levantamento topográfico, num total de 121 pontos. As amostras de solo foram recolhidas no centro de cada quadrícula de 10x10m. Sem contar com o levantamento topográfico, o trabalho é um pouco árduo e moroso, especialmente nestes últimos dias que o frio se faz sentir um pouco mais e a camada de solo superficial encontra-se congelada. Foi aqui que o apoio dos militares foi bastante precioso, onde nos organizámos por grupos divididos pelas tarefas em cargo. A coordenação foi excelente e um trabalho que demoraríamos umas 4 horas a realizar conseguimos reduzir para metade. E dado que as condições exteriores são por norma algo agrestes, duas horas faz muita diferença. O mais difícil de tudo foi o transporte para a base dos cerca de 100 quilos de amostra recolhida. Mas nada que um bom espírito de equipa e entreajuda não consigam superar. Miguel Cardoso, Ilha Deception A perfuração está a avançar bastante bem. Hoje chegámos a 9 metros de profundidade e estamos bastante animados. O apoio que nos foi dado pelo Patrick e Michel Blètry, tanto na formação que com eles tivemos na Suiça em Junho, como agora por email, tem sido excelente. Por outro lado, as dicas que o António Barbosa da Soporfuso, a empresa que nos vendeu parte do equipamento, têm sido excelentes. Em particular, a dica de picarmos de vez em quando, com uma lima os dentes da coroa diamantada, tem tido um efeito monumental na capacidade de perfuração. Deixamos algumas fotos dedicadas ao Patrick, Michel e António no post de hoje. Infelizmente, da parte mais complicada da perfuração, o momento em que temos que sacar os 9 metros de tubo, ainda não temos fotos...temos estado todos ocupadíssimos e não tem havido mãos livres...é fundamental não deixar cair o core, nem os tubos no buraco, senão estamos fritos. O tempo excelente mantem-se. As temperaturas estão próximas de 0ºC, mas não temos tido qualquer vento, situação que para nós, que estamos acostumados a trabalhar nas Shetlands do Sul, nos tem surpreendido muito. Trabalhar nestas condições tem sido fantástico! Amanhã de manhã, voltamos a sair pelas 8h30 e vamos ver como corre o dia. Gonçalo Vieira, Base Palmer, ilha Anvers. 23 de Fevereiro de 2012
Depois de um inicio complicado, os nossos dias na perfuração têm sido melhores. De momento estamos a 7 metros de profundidade e estamos a furar cerca de 2 metros por dia em rocha muito dura. O tempo tem sido nosso amigo, com sol e pouco vento, que facilita muito o trabalho. Os nossos dias estão a ficar uma rotina. Acordamos pelas 7h da manha e depois do pequeno almoço, viajamos de Zodiac até à ilha Amsler. A caminhada até ao local da perfuração demora cerca de 20 minutos, onde subimos sempre com as mochilas carregadas de roupa extra e os nosso almoços. Antes de iniciar a perfuração temos que preparar o sistema de abastecimento de agua que arrefece o motor e a coroa diamantada, aquecer o gerador e colocar as ferramentas que auxiliam a enroscar/desenroscar os tubos. O Gonçalo e eu vamos alternando no manuseamento da perfuradora, e somos auxiliados por mais uma pessoa, principalmente na parte em que temos que retirar os tubos da sondagem, que confesso, estão a ficar cada vez mais pesados. O cansaço também vai acumulando, mas apenas iremos descansar quando a perfuração estiver terminada. No final do dia o Gonçalo regista e descreves os testemunhos de rocha que retiramos da perfuração, e distribuímos pelas nossas mochilas, voltando ainda mais carregados para o Zodiac. Esperamos manter este ritmo e que não ocorram mais problemas. Se assim acontecer e o tempo continuar a ajudar, possivelmente terminaremos na segunda ou terça-feira. Vamos torcer por isso. Alexandre, Base Norte-Americana de Palmer . En nuestros últimos días en la Base Decepción, y aprovechando que disponíamos del DGPS Trimble R4 del IGOT en nuestra base, comenzamos nosotros a dar apoyo a los militares argentinos, en forma de agradecimiento a la logística que ellos nos brindaron durante nuestra estadía. Nuestra función fue la de desarrollar un mapa topográfico desde la casa principal hasta Pto. Foster, para posteriormente marcar un perfil topográfico con la mejor pendiente para realizar un desagüe. La tarea se llevó a cabo utilizando el DGPS con la función topo continuo. Una vez realizado el mapa se encontró el mejor perfil y posteriormente se clavaron 9 estacas, con una equidistancia de 30 m aproximadamente, que es donde posteriormente se ubicaran las cámaras. Todo este trabajo fue realizado en GIS y posteriormente entregado al jefe de base Argentino, para que sea entregado al regresar al continente a sus superiores. Fue muy gratificante poder ayudar de alguna forma, más aún cuando se trata de una obra que será para reducir aún más el impacto ambiental generado por la base en esta isla. 22 Fevereiro 2012 Fomos forçados a antecipar o nosso regresso, mudando mesmo o trajecto da viagem, porque por motivos logísticos incontornáveis o nosso barco de regresso não ia conseguir chegar a Ushuaia a tempo de apanharmos os nossos voos de regresso. Assim, fomos obrigados a fazer uma rápida passagem por Punta Arenas, Chile, de menos de 24 horas. Aí começamos a trocar voos e eu, não conseguindo trocar o meu voo, faço agora uma viagem de 12 horas de autocarro entre Punta Arenas e Ushuaia para conseguir regressar a casa. Este género de coisa acontece, mas dá umas dores de cabeça imensas, principalmente após quase 50 dias deslocado. Felizmente esta mudança não afectou nenhum do trabalho em mente, pois aproveitamos bastante bem o tempo e conseguimos adiantar tudo. Saí de Portugal dia 28 de Dezembro de 2011. Ontem, dia 21 de Fevereiro, pisei pela última vez a Antárctida. A aventura de investigação em Livingston no projecto Permantar-2 e em King George no projecto Holoantar foi longa, exaustiva, stressante, fisicamente e psicologicamente desgastante, mas nem por isso me sinto feliz por abandonar esta parte do mundo, antes pelo contrário, o regresso tem um distinto travo amargo. A beleza natural é demasiada para gostarmos de sair daqui. Investigar nesta parte do mundo implica abdicar de confortos, falar 4 línguas por dia se necessário e saber resolver com recursos muito limitados todos os problemas que se nos deparam. Desde sensores avariados, a tempestades de neve que nos bloqueiam o trabalho, tudo aconteceu (menos pernas partidas, ufaaa), mas tudo foi superado graças ao apoio dos países que nos receberam: Argentina (Base Jubany), Bulgária (Base St. Kliment Ohridski), Coreia do Sul (Base King Sejong), Espanha (Base Juan Carlos I), Uruguai (Base Artigas), sem o esforço e recursos gastos por eles o nosso trabalho em Livingston e King George seria impossível. Muito obrigado! Também tenho de agradecer o apoio dos restantes colegas portugueses, que não sendo nem do Permantar-2 nem do Holoantar ajudaram e deram apoio em campo (trabalhando ou apenas fazendo companhia a ver filmes após o jantar) e à distância, com o apoio logístico imprescindível da Ana Salomé. O regresso custa porque fizemos literalmente dezenas de amigos, de imensos países, e porque o local mexe connosco. Afinal, poder voltar do trabalho e ver pinguins à porta de casa é um raro prazer. Só que para vir todos pagámos um preço alto para vir aqui, o Dermot deixou a criança com dois anos em casa, o Marc precisa de regressar por motivos familiares e eu não vejo a família, a minha companheira e os meus amigos e colegas há dois meses. Talvez haja mais oportunidades noutra altura de regressar à Antárctida, mas para já, queremos todos voltar e eu pessoalmente quero uma bica e um travesseiro de Sintra com urgência. Este foi o meu último post, obrigado pela oportunidade. João Agrela, em viagem entre Punta Arenas e Ushuaia. |
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