Pedro Quinteiro, Ilha King George O projeto está a avançar a bom ritmo. Já entrevistámos investigadores e logísticos de programas uruguaios, chilenos, espanhóis e búlgaros. A expetativa é visitar outras bases e entrevistar outras nacionalidades. Temos caminhado muito entre bases, algumas vezes com muita lama e chuva, mas o frio vai-se embora rapidamente com o acolhimento caloroso que temos tido nas bases que visitamos. Hoje por exemplo falámos com um alpinista que subiu o Evereste duas vezes! A expectativa para os próximos dias é continuar a recolher mais relatos incríveis de trabalho em equipa e liderança.”
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Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 1 Fevereiro 2020 Chegamos! Com a meteorologia do nosso lado, embarcamos em Punta Arenas no avião que nos levaria para a Antárctica. Na ilha Rei Jorge, a embarcação espanhola Hespérides esperava para nos transportar até à ilha de Livingston. Assim, somavam-se dez horas de viagem às já cerca de três feitas até então.
O transito até ao destino desta etapa (base Juan Carlos I, península de Hurd) foi tranquilo e deu para explorar o navio, tendo direito a um jantar a bordo. O desembarque e recepção na base começaram por volta das 2.00h e às 4.00h já nos encontrávamos alojados e prontos para dormir o tempo que nos restava até ao início do dia seguinte. Pois bem, a viagem foi longa mas chegou a bom porto. A base Juan Carlos I será a nossa casa durante as próximas semanas. Neste tempo correremos a península com um DGPS e 3 drones. Há muito que andar, muitos kilos para transportar, muito trabalho a fazer, mas penso que estaremos à altura! Joana Baptista, Ilha de King George, 1 Fevereiro 2020 Motivados pelos resultados obtidos da perfuração, hoje preparámo-nos para a caça ao tesouro. Não somos exploradores de epopeias enviados por grandes impérios. Somos os otimistas que um ano antes instalaram 20 sensores enterrados no solo e totalmente invisíveis, para registarem temperaturas em áreas onde pistas ao estilo Steven Spielberg em Indiana Jones, são inexistentes. Para nós, estavam disponíveis coordenadas aproximadas GPS e pequenas mariolas edificadas aquando da instalação, mas sem a certeza de que iriam resistir aos ventos e à neve do inverno. Não discutimos a eficiência de cada método, até porque, não seria interessante ter uma rocha com qualquer forma animalesca a indicar a localização?
Os sensores foram instalados na península de Barton de acordo com diferentes fatores geográficos de que são exemplo a altitude, exposição e topografia, para melhor identificarmos a influência destes nos regimes térmicos do solo. Enterrados a 2 cm abaixo da superfície distribuíam-se por uma área de aproximadamente 1 km2. Com percurso de busca definido nos headquarters, saímos na expectativa de conseguir encontrar cada placa enterrada. Aqui reconheço que a experiência e idade de uns promovessem uma maior tranquilidade e positivismo face ao receio de outros. Ao fim de percorrer os 13 pontos estipulados no percurso, caminhávamos com 13 placas adicionais nas nossas mochilas. Cada uma com a feição do tipo de superfície onde tinha sido instalada, mas bem conservadas e, no essencial, sem indícios preocupantes de ferrugem ou dano. Bons indicadores para a possível sobrevivência dos sensores, a cujos dados só poderíamos aceder no laboratório da base. Estabelecidos no excelente laboratório cedido pelo KOPRI, começámos por dispor as placas na mesa para retirar de forma ordenada os sensores e fazer a sua leitura no programa -OneWireView. Nos primeiros segundos sofremos um pequeno impasse até recordar as particularidades do software e conseguir aceder aos dados, não fazendo caso da mensagem de erro no separador de abertura. Todos os sensores recolhidos estavam operacionais e foram fornecedores de séries de dados de temperatura do solo (próximo da superfície) correspondentes a 11 meses, com medições a cada 3 horas. Nos próximos dias, esperamos recolher os restantes 7 sensores, assim que a previsão seja favorável. Mohammad Farzamian and John Triantafilis, Livingston Island, Antarctica ANTERMON activities in 2020 are just starting, with the installation of a new A-ERT system in Livingston Island and EM and ERT surveys across the Island as well as maintenance of the A-ERT system in Deception Island, being conducted by 2 field teams. - Livingston Island: Mohammad Farzamian (IDL/ULISBOA) and John Triantafilis (UNSW ) will install a new monitoring electrical resistivity meter (A-ERT), which was built at IDL this year, in Reina Sofia site and perform EM and ERT surveys across the Island. - Deception Island: Miguel Esteves will do the maintenance of the existing A-ERT system as well as repeating ERT surveys to compare with observations one decade ago. The A-ERT system built at IDL this year. A set-up with 26 electrodes and 0.5 m spacing. An explorer cases 5833B was used, casing the 4POINTLIGHT_10W instrument, solar panel-driven battery and multi-electrodes connectors during data acquisition. A timer was used this year to optimize the energy consumption by turning on the system at each six hours for ERT measurements. Joana Baptista, Ilha de King George, 31 Janeiro 2020 A programação feita à chegada antevia este como um dia cheio de atividade. Para além da vontade que tínhamos em revisitar o local da perfuração, era necessário proceder à caracterização de amostras dos mantos de neve (neveiros) presentes na península de Barton, de modo a calibrar os dados de uma imagem de satélite Sentinel-1 (radar), cuja recolha estava prevista para esse mesmo dia. Os dados recolhidos, incidiram na medição da dimensão do neveiro e na caracterização da neve (estratigrafia, temperatura, densidade e dimensão dos cristais). Assim, em cada neveiro que se cruzava no nosso caminho foram marcados pontos delimitativos e um central, onde procedíamos à amostragem num pequeno buraco. Aí, escavávamos a neve até atingirmos um horizonte de gelo compacto, de re-congelação. De seguida procurávamos a existência de horizontes definidos na parede vertical do buraco, embora nos casos estudados, fossem praticamente inexistentes. Assim, concentrámo-nos na medição da densidade da neve e na descrição dos agregados na camada superficial, acompanhada com a observação à lupa dos pequenos grãos que já se encontravam em fusão e da medição da temperatura da neve, que estava sempre próxima de 0ºC. Analisados dois neveiros, fomos caminhando entre os pequenos blocos convertidos em peças de puzzle (superfícies de clastos fragmentados), até que ao longe avistámos a resistente estação de medição de temperaturas do ar, nas imediações da perfuração para monitorização do permafrost, que instalámos na campanha anterior. Esta, tinha resistido ao inverno e às intempéries distantes da nossa latitude de residência.
Quase descansados pela aparência sólida do equipamento, apressámos o ritmo na procura de indícios que confirmassem a integridade do furo. Após procedimentos metódicos que não comprometessem nada, ligamos o computador e o modem wifi e estabelecemos a ligação aos data loggers, na expectativa de ver os primeiros registos de dados. Sustivemos a respiração envoltos no silêncio proporcionado por aquele local onde um ano antes um gerador conduzia o ritmo das atividades pesadas e impedia qualquer noção de quietude. - “Temos dados! Temos dados de temperaturas ao longo de 13 metros de profundidade livres de falhas.” - Imaginem a felicidade, imaginem sobretudo que após 10 dias de trabalho de perfuração digno de titãs realizado no ano anterior e um ano de espera, chegamos a este local isolado onde apenas gaivinas e skuas disfrutam dos dias e recolhemos todos os dados com sucesso. Incontornavelmente felizes e sem tempo para maiores contemplações prosseguimos a jornada entre neveiros até chegar à base. Não tinha mencionado, mas era sexta-feira, dia de barbecue na base. Que melhor forma há de festejar? Joana Baptista, Ilha de King George, 30 Janeiro 2020 Com o despertar para a alvorada, demos os últimos retoques nas malas de viagem de forma a compactar e verificar todo o equipamento necessário para a campanha. Este ano menos pesado e menos mecânico, o equipamento era composto por pequenos instrumentos de medição (balança e termómetro) e alguns equipamentos de substituição ou manutenção dos instalados na campanha anterior. Terminadas as últimas verificações das malas, partimos em direção ao aeroporto para um voo que torcíamos para que fosse livre de imprevistos e atrasos. Já no ar, sobrevoámos o manto de nuvens que estabeleceu de forma persistente a ligação entre Punta Arenas e a ilha Rei Jorge limitando o bom apreciar das “vistas”. Aterrados no aeroporto Teniente Rodolfo Marsh Martin, na azáfama habitual, vimos de longe os que partiam da terra inóspita, e os que se tentavam organizar numa diversidade linguística enriquecida com a sonoridade dos motores das aeronaves.
Encaminhados para um veículo próximo, fomos guiados até à praia onde a embarcação Sejong II nos levaria até à Península de Barton e à Base Antártica Coreana. Na embarcação, partilhámos a viagem com um grupo de jovens estudantes do ensino secundário coreanos que estavam de visita. Na sua timidez enraizada, foram esboçando leves sorrisos e oferecendo bolachas a dois estranhos deslocados num idioma de difícil pronuncia. Chegados ao cais, foi o momento de subir as escadas que pareciam mover-se mais do que o barco, até chegar a terra firme. Agora, é momento de prepararmos as tarefas para os dias seguintes, de acordo com as previsões meteorológicas e o apoio do Roadsky, meteorologista da base. Gonçalo Vieira, Ilha de King George O projeto PERMANTAR – Permafrost e alterações climáticas na Península Antártica Ocidental, está de novo no terreno para mais uma campanha. O nosso objetivo principal é caracterizar o estado térmico do permafrost, a sua distribuição e sensibilidade climática. Para isso, mantemos na região uma rede de perfurações no solo onde medimos as temperaturas até profundidades que superam a dezena de metros. Estes observatórios são acompanhados da monitorização de outras variáveis, como sejam a temperatura do ar, humidade relativa, vento, radiação solar e a neve, quer através de estações meteorológicas, quer usando técnicas de deteção remota. As mudanças no permafrost da Antártida são especialmente importantes pelos seus efeitos na dinâmica hidrológica superficial e nos fluxos de nutrientes, com potenciais impactes nas comunidades vegetais, mas ainda para a erosão dos solos, instabilidade de vertentes e impactes nas infraestruturas. Apesar de ser uma das Variáveis Climáticas Essenciais (ECVs) da Organização Meteorológica Mundial, o permafrost é das mais difíceis de caracterizar, pois é um fenómeno subsuperficial e que muito dificilmente se observa diretamente. Por isso, no projeto PERMANTAR, usamos uma análise interdisciplinar e colaboramos também com outros projetos parceiros financiados pelo PROPOLAR e integrados no novo Colégio Universidade de Lisboa para o estudo de Ambientes Polares e Extremos (Polar2E).
Na campanha de 2019-20, o PERMANTAR tem a equipa financiada pelo PROPOLAR a trabalhar na Base Coreana King Sejong, na Península Barton (ilha de Rei Jorge), onde estamos a continuar os trabalhos iniciados na campanha passada, associados a uma nova perfuração de 13 m que aqui instalámos. Serão estas atividades que daremos conta neste diário de campanha, através dos relatos da Joana Baptista, estudante de mestrado do IGOT, que está comigo (Gonçalo Vieira) até ao dia 12 de fevereiro. Mas as atividades do PERMANTAR na presente campanha, são bastante mais amplas, com as seguintes equipas a colaborar no terreno:
O projeto PERMANTAR 2019-20 não seria possível sem o apoio do Programa Polar Português, Korean Polar Research Institute, Programa Polar Espanhol, Instituto Antártico Chileno, Instituto Antártico Argentino e NSF/USAP (Palmer Station), organizações a quem agradecemos sinceramente. Mais informações sobre o projeto em http://permantar.weebly.com Twitter: https://twitter.com/polar_zephyrus Pedro Quinteiro, Punta Arenas, Chile, 27 Janeiro 2020 A equipa está completa. O segundo dia em Punta Arenas serviu para passear um bocadinho e trabalhar. Tivemos um encontro inesperado com um investigador que acabou por nos dar uma entrevista excelente. Também aproveitámos para distribuir os primeiros questionários via e-mail. Esperemos que a adesão seja boa! Sobre Punta Arenas, há um grande contraste com a última vez que cá estive há dois anos. As lojas estão todas revestidas de chapa ou grades e as paredes estão cheias de grafitis com palavras de luta e revolta. As pessoas também estão menos sorridentes. A situação política no Chile parece longe de estar resolvida. Bernardo Rocha & Paula Matos, 28/01/2020, Livingston-Antártida Começa mais uma semana de trabalho. Afastados de tudo e todos em Portugal mas fazendo novas amizades com aqueles que, dia após dia, tudo fazem para que nós investigadores possamos fazer o nosso trabalho da melhor forma possível. A comida é boa, os banhos são quentes e a cama é confortável. Que mais podemos pedir?
O trabalho continua sendo igual, as mãos continuam a doer com o frio e as aves continuam a tentar bicar-nos mas a alegria permanece pois continuamos a ser brindados com mais e mais paisagens que nos fazem sentir que estamos numa realidade paralela. Aqui é difícil pensar nos problemas do mundo exterior, nas dificuldades do mundo exterior. Vivemos numa pequena bolha quase que parecendo que estamos num outro planeta tal é a diferença entre tudo isto e o mundo que conhecemos. Esta semana foram mais 40 pontos de amostragem divididos por Sally Rocks, Glaciar Johnson, Punta Hanna e vários picos perdidos por entre os glaciares da ilha. [imagem 3 whatsapp-pico Mirador, ] Mas como a Antártida tem sempre surpresas que nos maravilham, esta semana podemos percorrer os glaciares de mota de neve. As paisagens foram mais uma vez de cortar a respiração mas o ponto alto foi sem dúvida na quarta feira onde a nossa primeira paragem foi um pico nunca antes acedido pelos nossos amigos espanhóis. Assim sendo, coube-nos a nós batizá-lo. E com que nome ficou? PROPOLAR com certeza, que outro nome poderia ser? Pico Cristiano Ronaldo? Ele já tem um aeroporto. A PROPOLAR merece. Luís Madeira e Tânia Correia, 26 de janeiro de 2020, Great Wall Station (KGI, Antártica) O projeto WHY Antarctica pretende desenvolver um sistema de cultivo hidropónico (cultivo sem solo) que reutilize águas residuais domésticas (ou seja, toda a água que utilizamos nas nossas casas ou, neste caso, nas bases) como solução nutritiva para produção de plantas comestíveis. Em hidroponia as plantas obtêm os nutrientes (principalmente azoto e fósforo) para o seu desenvolvimento através de uma solução aquosa (solução nutritiva) que passa junto às suas raízes. Devido à grande concentração de nutrientes em águas residuais domésticas estas possuem o potencial para assegurar o desenvolvimento de plantas. A reutilização de águas residuais domésticas em cultivo hidropónico permite em simultâneo que estas águas sejam tratadas pois os nutrientes são considerados poluentes e são removidos pelas plantas. O nosso dia a dia como investigadores do projeto WHY Antarctica na Great Wall Station inicia-se com um delicioso pequeno-almoço pelas 7:30. Após a primeira refeição do dia regressamos ao laboratório da estação, o nosso local de trabalho permanente nesta campanha. Diariamente monitorizamos e fazemos a manutenção do sistema hidropónico, desde a avaliação do estado das alfaces (folhas e raízes), análise da qualidade da água (solução nutritiva), funcionamento do Hydruíno (monitorização de parâmetros ambientais), sistema hidráulico e renovação de solução nutritiva (sempre que for necessário). Seguidamente temos o almoço pelas 11:30h, na companhia dos outros investigadores e do pessoal da base. À tarde, é realizada alguma pesquisa e normalmente comunicados os resultados e/ou imprevistos verificados ao resto da equipa (em Portugal) de modo a obter feedback em relação a alterações a efetuar para que este projeto possa atingir os melhores resultados. Por vezes também realizamos atividades de divulgação da nossa atividade, junto de meios de comunicação, através dos serviços de divulgação do IPBeja ou dos membros da equipa em Portugal. Entretanto, o jantar chega às 17:30 e, de seguida, temos importantes momentos de lazer para renovar a mente para o dia seguinte, que vão desde ginásio, ioga, jogos (futebol, basquetebol, badmington, ténis de mesa ou snooker) com os investigadores e o staff de Great Wall, bem como passeios no ambiente antártico.
No dia 16 de janeiro a equipa fez a apresentação do projeto WHY Antarctica na Great Wall Station, dando a conhecer o que já foi alcançado com o projeto no ano anterior (como parte do projeto ESTEeM Antarctica), bem como quais são objetivos a alcançar este ano em Great Wall Station). A sessão de perguntas e respostas terminou com grande interesse visto aqui existir um sistema de cultivo hidropónico que fornece a cozinha da estação com alguns vegetais. |
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