DIÁRIOS DE CAMPANHA PROPOLAR 2017-18 |
(3ª feira dia 17 de Julho 2018) A nossa campanha de amostragem teve início junto ao glaciar Kronebreen (Figura 1), perto de Ny-Ålesund (Figure 2), uma estação de investigação estabelecida pelo Instituto Norueguês Polar em 1966. Percorremos depois um transecto com o total de 10 estações, cobrindo a região junto ao glaciar, o fiorde e estações oceânicas, até chegarmos ao declive da plataforma continental. Em cada estação fizemos recolha de água para diversas análises biogeoquímicas e biológicas a diferentes profundidades da coluna de água. Para tal, usamos um sistema de Rosette com uma série de garrafas de Niskin e sensores acoplados (Figura 3) que nos dão perfis em tempo real de salinidade, temperatura, oxigénio, fluorescência e intensidade de luz. A água é sempre recolhida para múltiplos frascos e depois processada no Wet Lab (laboratório húmido). As amostras para genómica (5L de água de cada estação e profundidade) são concentradas por nós em filtros onde ficam retidos todos os organismos planctónicos (que vivem na coluna de água) com um tamanho igual ou superior a 0.0002 mm (Figura 4). Recolhemos ainda água para incubações que fazemos a bordo, para medir as taxas de transformação de compostos de azoto pelas comunidades microbianas (Figura 5). Estas medições são importantes já que são estes os processos que vão produzir a forma de azoto necessária para o crescimento do fitoplâncton de quem está dependente toda a cadeia trófica do Ártico.
1 Comentário
(5ª feira dia 12 de Julho)
Por Camilo Carneiro (@Camilo_Carneiro) e José A. Alves (@_JoseAAlves_) Há já alguns anos que estudamos Maçaricos-galegos na Islândia (Numenius phaeopus islandicus). As aves apenas visitam este país nórdico para se reproduzir e rapidamente regressam aos seus locais de invernada, localizados maioritariamente no oeste Africano. No final deste texto encontram-se as ligações para outras notícias sobre o nosso trabalho e a biologia e ecologia desta espécie. A maioria dos animais segue um ciclo anual e por isso pode ser fácil pensar que ao estudar determina espécie durante um ano ficamos a conhecer os seus comportamentos e utilização do espaço no tempo. Mas a verdade é que de ano para ano as condições ambientais mudam, nomeadamente os parâmetros atmosféricos, e ainda mais num período de rápidas e severas alterações climáticas. No caso de animais com um tempo médio de vida relativamente curto, uma possível resposta e adequação a tais alterações poderá surgir de uma geração para a outra por mecanismos evolutivos. Mas no caso de animais com longevidade na ordem das décadas, será que potenciais respostas individuais existem, e se sim qual o processo? Poderão os indivíduos mostrar flexibilidade e ajustarem-se às alterações do seu meio natural? Apenas seguindo indivíduos ao longo de vários anos é que poderemos responder a tais questões. Os Maçaricos-galegos podem viver várias décadas, sendo 25 anos o actual recorde de longevidade (registado pelo British Trust for Ornithology). O nosso projecto começou em 2012, quando se colocaram 10 geolocators em 10 indivíduos no sul da Islândia. Desse primeiro grupo, duas aves têm regressado ao local de reprodução a cada ano e esse aparelho de seguimento substituído para que o registo dos movimentos seja realizado até ao ano seguinte. Infelizmente, um desses indivíduos viu este ano os ovos da primeira postura predados, e embora tenha feito uma postura de substituição, esta foi também predada… Isto impediu que o capturássemos e recuperássemos o geolocator colocado em 2017. Contudo, o seu “colega da classe de 2012” foi recapturado com sucesso e assim teremos o seu historial anual pelo séptimo verão consecutivo! Para nossa tristeza, o geolocator recuperado em 2017 apenas registou a migração outonal de 2016. Contudo, é muito interessante ver o quão pontual é este indivíduo na saída do seu local de invernada a cada primavera (possivelmente no Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau; Tabela 1), independentemente de optar por voar directamente para a Islândia ou fazer uma paragem durante a migração. Juntamente com os dados de outros maçaricos, poderemos estudar a flexibilidade temporal ao longo do ano e eventuais respostas individuais e interanuais às alterações ambientais. Tabela 1. Datas de saída e chegada na migração primaveril e outonal, desde 2012, de um indivíduo de Maçarico-galego. Este ano foi recuperado o geolocator colocado em 2017 e esperamos em breve saber as datas e rotas das migrações no último ano; *o geolocator colocado em 2016 apenas registou a migração outonal. A Estratégia de migração outonal foi sempre um voo directo entre Islândia e África de ca. 5500-6000 km |
DIÁRIOS DA CAMPANHA
|