DIÁRIOS DE CAMPANHA PROPOLAR 2017-18 |
O projeto Nunataryuk (https://www.nunataryuk.org/) – ‘Permafrost thaw and the changing Arctic coast, science for socioeconomic adaptation’ tem como principal objetivo avaliar o impacto da degradação do permafrost terrestre, costeiro e submarino no clima global e nas populações do Ártico de forma a desenvolver estratégias de adaptação e mitigação. O projeto é financiado pela Comissão Europeia através do programa H2020, compreende mais de 25 parceiros e instituições associadas e tem a duração de 5 anos (2017-2022). O IGOT-Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa é o parceiro português do projeto e que conta com a coordenação de Gonçalo Vieira e a participação de Carla Mora e Pedro Freitas, bem como as de Pedro Pina (CERENA/IST) e João Canário (CEQ/IST). Durante o Verão de 2018, participámos na campanha de campo no Ártico Canadiano para essencialmente efetuar levantamentos com VANT-Veículo Aéreo Não-Tripulado em vários locais de duas das suas regiões (Yukon e Territórios do Noroeste) e obter dados de muito elevada resolução espacial que ajudarão a calibrar, validar e melhorar a qualidade dos outros dados de deteção remota (de satélite e de avião). Este e seguintes posts, já concluídos depois da campanha de campo ter terminado, pretendem descrever e ilustrar brevemente as atividades realizadas. A campanha decorreu em 4 principais fases, primeiro na sua preparação em Inuvik, depois já no campo e mais a Norte na ilha de Qiqiktaruk (também conhecida por Herschel), que se prolongou por deslocações em helicóptero ao longo de cerca de 200 km da costa norte-canadiana em vários locais e que se veio a concluir numa curta estadia na povoação Tuktoyaktuk ,localizada mais a Este, junto à costa com o seu levantamento com imagens de muito elevada resolução espacial. Cada uma destas etapas teve objetivos complementares que serão descritos separadamente nos próximos posts. Pedro Pina e Gonçalo Vieira Nuntaryuk #02: Preparação em InuvikDepois de uma viagem em várias etapas desde Lisboa, chegámos a 18 de Julho a Inuvik, uma localidade relativamente pequena (com cerca de 3000 habitantes) localizada a 68° de latitude Norte, mas que à escala e características do Ártico Canadiano se pode considerar grande, visto a maioria das suas poucas localidades serem ainda de dimensões mais pequenas. Inuvik foi assim a nossa base para ultimar e concertar a campanha de campo com os colegas de outras nacionalidades e instituições (Alfred Wegener Institute da Alemanha, Universidades de Amsterdão da Holanda, Estocolmo da Suécia e Laval do Canadá) com quem iriamos colaborar, apesar da diversidade das várias atividades planeadas. Durante 3 dias, entre as várias tarefas mais específicas relacionadas com a verificação e empacotamento dos vários equipamentos ou organização de mapas, imagens e outros dados de apoio, também estivemos a cozinhar, depois de várias idas ao supermercado. Organizámo-nos em turnos para utilizar contínua e intensivamente as cozinhas dos dois apartamentos onde estávamos instalados para preparar e congelar todas as refeições para uma dúzia de pessoas durante quase um mês de estadia no campo. Foi por vezes prolongado e cansativo, mas também foi uma excelente maneira de todos nos conhecermos melhor e de sabermos com mais pormenor quais as tarefas que cada grupo iria desenvolver no campo. Eram bastantes e diversificadas, tais como recolher amostras de água no oceano e de sedimentos no fundo marinho em redor da ilha, recolher amostras de água doce e de solos na ilha e também no continente para melhor estimar as quantidades de carbono que se libertam por fusão do permafrost, medir in-situ as características espectrais da vegetação para depois comparar com várias imagens de satélite e também com as imagens aéreas hiperespectrais captadas com os voos do avião POLAR-5 do AWI, estimar a quantidade e tipo de sedimentos em suspensão no oceano e como se relacionam com as cores observadas nas imagens de satélite e também medir a altura das ondas no oceano de forma a avaliar melhor o seu impacto na erosão costeira. Como rapidamente se percebe a multidisciplinaridade de tarefas e competências científicas é muito elevada não sendo, no entanto, uma dificuldade de maior, pois a integração de todas estas componentes é uma das principais valências do projecto Nunataryuk. As expectativas para a nossa primeira campanha num terreno que não conhecíamos eram bastante elevadas e, como se verá em seguida, não saíram defraudadas! Pedro Pina e Gonçalo Vieira Nuntaryuk #03: Fase 2 – Ilha Qiqiktaruk (ou Herschel)Partimos para a ilha Qiqiktaruk no dia 23 de Julho com um ótimo tempo. A viagem desde Inuvik, feita num pequeno avião Twin Otter, durou uma hora e picos e permitiu observar a fantástica paisagem estival do Ártico, em especial a do delta do rio Mackenzie e também verificar, já no oceano, que a quantidade de gelo nesta altura do ano era bem maior do que em anos anteriores. Depois do avião aterrar numa pequena faixa de terreno da ilha, verificámos que a anormal temperatura de cerca de 20 ºC nos permitia andar pouco agasalhados a descarregar toda a carga do avião e a instalarmo-nos. Mas foi sol de pouca dura, apesar de nesta altura do ano o dia ter todas as 24 horas para si (estamos acima do círculo polar ártico, a quase 70° de latitude), pois nos dias seguintes quase sempre bastou um único dígito para registar a temperatura. O Twin Otter fez ainda durante o resto do dia mais 2 viagens até Inuvik para transportar a restante equipa de 12 pessoas envolvida nesta fase da campanha do projecto Nunataryuk, bem como toda a grande quantidade de carga de equipamento científico e também de outro tipo, assim como a comida para quase um mês. Nós só ficámos uma semana, mas os colegas que permaneceram depois da nossa partida, bem como outros que se vieram juntar depois, tinham de ter mantimentos para todo esse período. No primeiro longo dia, só deu mesmo para nos instalarmos, mas nos seguintes começámos a voar o nosso drone eBee plus. Foram 3 dias de voos muito bem-sucedidos, apesar da meteorologia instável e de a chuva ter aparecido com alguma frequência. Começámos por levantar toda a zona mais baixa em redor de onde estávamos instalados e que constitui o pequeno aglomerado de edifícios recuperados (casas de habitação, casa comunitária com um pequeno museu, armazéns ou oficinas) e que eram essencialmente habitados pela comunidade envolvida na caça à baleia em finais de século XIX e inícios do século XX. Para além disso, efetuámos também, junto à costa oeste da ilha, o levantamento dos enormes deslizamentos retrogressivos resultantes da fusão do permafrost. Após os regressos diários à ‘base’ fomos pré-processando todas as imagens de forma a avaliar rapidamente a sua qualidade. Fomos verificando com satisfação que estávamos a obter imagens de muito elevada qualidade que dão a garantia de depois podermos construir mosaicos de imagens e modelos de elevação de resolução centimétrica. Estes produtos permitirão analisar com bastante mais pormenor as características destes deslizamentos, servindo também como informação de referência para comparações resultantes de levantamentos futuros. A partir do dia seguinte, 28 de Julho, iríamos novamente mudar de poiso. Pedro Pina e Gonçalo Vieira Nuntaryuk #04: Fase 3 – Linha de costa do YukonNesta nova fase da campanha tivemos como objectivo voar o drone em vários sítios da costa canadiana que são monitorizados há vários anos pelo Geological Survey of Canada (GSC), distando cerca de 200 km entre os seus pontos mais extremos, ou seja, desde a fronteira com o Alasca (EUA) mais a Oeste até King Point mais a Este. A deslocação a partir de Herschel, mais ou menos situada a meio entre os dois locais extremos, foi efetuada de helicóptero. A partir daqui passámos também a contar com a preciosa colaboração de colegas do GSC nas tarefas de campo. Tínhamos previsto 3 dias para estes levantamentos costeiros, mas que, devido ao mau tempo com muita chuva e nevoeiro denso, acabaram por ficar reduzidos a 2 dias. A pressão para fazer o mesmo em menos tempo aumentou naturalmente. No primeiro dia de bom tempo voámos para Oeste e até à fronteira com o Alasca regressando a Herschel para dormir no fim de um dia que acabou por ser extraordinariamente longo. Apesar de termos levantado voo de Herschel relativamente cedo e de termos aterrado no primeiro sítio escolhido (Komakuk), tivemos de esperar algumas horas para que o nevoeiro que, entretanto, se tinha instalado, desaparecesse de vez. Refira-se como curiosidade que Komakuk, assim como Stokes onde aterrámos mais tarde, é o local de uma antiga estação da linha DEW (Distant Early Warning Line) que integrava o conjunto de estações radar instaladas pelos EUA e Canadá nos finais da década de 1950 ao longo de todas as suas costas do Ártico para detetar eventuais invasões áreas no âmbito da guerra-fria. Depois de algumas nebulosas horas, as previsões meteorológicas de bom tempo confirmaram-se e o dia tornou-se verdadeiramente espetacular (céu limpo e bem azul e sem vento algum). Fizemos o primeiro voo por volta das 17h locais, tendo depois conseguido ir a todos os outros sites previstos para voar o drone, mas num período que se prolongou até cerca da meia-noite. São as vantagens de aqui não termos noite nesta altura do ano. Para além da permanente e enorme presença de mosquitos e de outros bem incómodos insetos (usar redes protetoras e um repelente adequado é obrigatório), é também fundamental estar sempre alerta em relação à presença de ursos. Há sempre alguém com uns binóculos em permanente vigilância, mas felizmente não houve encontros a reportar. Regressamos bastante satisfeitos a Herschel onde pernoitamos, para continuarmos o mesmo tipo de levantamentos noutros locais no dia seguinte. E assim foi, no segundo dia fomos voando para Este até King Point, parando em vários sites junto à costa para voar o drone e efetuar também outro tipo de medições. As deslocações de helicóptero a relativamente baixa altitude ao longo da linha de costa permitiram-nos observar a elevada e acentuada erosão em muitos dos seus sectores. Depois de vários voos bem-sucedidos, começou a chover no último site escolhido. Foi o suficiente para darmos o nosso trabalho nesta fase como concluído. Desta vez já não voltámos a Herschel, regressando diretamente a Inuvik, pois no dia seguinte teríamos um novo tipo alvo para sobrevoar. Para além de voarmos o drone com um grande sucesso, também coletámos inúmeros pontos de controlo com DGPS nos vários sites costeiros, assim como efetuámos o levantamento de transectos ao longo da costa para comparar com dados existentes de anos anteriores. Adicionalmente, de forma a fornecer pontos de controlo precisos para os levantamentos a efetuar pelo avião POLAR-5 construímos várias marcas de grande dimensão com troncos de árvores existentes nas praias (‘driftwood’) e das quais medimos as respetivas coordenadas. Pedro Pina e Gonçalo Vieira Nuntaryuk #05: Fase 4 - Povoação de TuktoyaktukPor fim, na última fase da campanha, deslocamo-nos de carro de Inuvik até Tuktoyatuk, que quase todos nós abreviamos convenientemente para ‘Tuk’. Ao longo dos 140 km da novíssima estrada desta região, inaugurada no mês de Novembro de 2017, fomos observando que as árvores iam escasseando até naturalmente desaparecerem de vez da paisagem. Tendo as autorizações necessárias das autoridades locais para sobrevoar a recortada povoação costeira de Tuk com o drone metemos ‘asas’ à obra, conseguindo em pouco mais de 2 dias de muita e intensa atividade cobrir praticamente toda esta área habitada por cerca de 900 pessoas. Mais uma vez o trabalho foi muito intenso, mas a enorme quantidade de excelentes dados deixou-nos a todos muito satisfeitos. Achamos que estes dados poderão ser aplicados diretamente em ações de mitigação da erosão costeira e de perigosidade de inundações, visto irem dar origem a um modelo digital de elevação bastante preciso de toda a área bem como a um levantamento pormenorizado de grande parte das infraestruturas de Tuk. Depois desta nossa primeira experiência no Ártico Canadiano Ocidental, podemos afirmar que foi excecional a todos níveis, quer científica quer pessoalmente. A abordagem integradora interdisciplinar do projecto Nunataryuk, que junta investigação fundamental com investigação aplicada, permitirá certamente gerar resultados relevantes durante a sua execução. Após esta primeira campanha que nos permitiu ter um conhecimento bastante mais adequado da região, iniciámos já as tarefas de modelação 3D e de análise dos dados, desenvolvendo novas ideias para envolver novos estudantes nas atividades de investigação do projecto Nunataryuk.
Pedro Pina e Gonçalo Vieira
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(3ª feira dia 17 de Julho 2018) A nossa campanha de amostragem teve início junto ao glaciar Kronebreen (Figura 1), perto de Ny-Ålesund (Figure 2), uma estação de investigação estabelecida pelo Instituto Norueguês Polar em 1966. Percorremos depois um transecto com o total de 10 estações, cobrindo a região junto ao glaciar, o fiorde e estações oceânicas, até chegarmos ao declive da plataforma continental. Em cada estação fizemos recolha de água para diversas análises biogeoquímicas e biológicas a diferentes profundidades da coluna de água. Para tal, usamos um sistema de Rosette com uma série de garrafas de Niskin e sensores acoplados (Figura 3) que nos dão perfis em tempo real de salinidade, temperatura, oxigénio, fluorescência e intensidade de luz. A água é sempre recolhida para múltiplos frascos e depois processada no Wet Lab (laboratório húmido). As amostras para genómica (5L de água de cada estação e profundidade) são concentradas por nós em filtros onde ficam retidos todos os organismos planctónicos (que vivem na coluna de água) com um tamanho igual ou superior a 0.0002 mm (Figura 4). Recolhemos ainda água para incubações que fazemos a bordo, para medir as taxas de transformação de compostos de azoto pelas comunidades microbianas (Figura 5). Estas medições são importantes já que são estes os processos que vão produzir a forma de azoto necessária para o crescimento do fitoplâncton de quem está dependente toda a cadeia trófica do Ártico. (5ª feira dia 12 de Julho)
Por Camilo Carneiro (@Camilo_Carneiro) e José A. Alves (@_JoseAAlves_) Há já alguns anos que estudamos Maçaricos-galegos na Islândia (Numenius phaeopus islandicus). As aves apenas visitam este país nórdico para se reproduzir e rapidamente regressam aos seus locais de invernada, localizados maioritariamente no oeste Africano. No final deste texto encontram-se as ligações para outras notícias sobre o nosso trabalho e a biologia e ecologia desta espécie. A maioria dos animais segue um ciclo anual e por isso pode ser fácil pensar que ao estudar determina espécie durante um ano ficamos a conhecer os seus comportamentos e utilização do espaço no tempo. Mas a verdade é que de ano para ano as condições ambientais mudam, nomeadamente os parâmetros atmosféricos, e ainda mais num período de rápidas e severas alterações climáticas. No caso de animais com um tempo médio de vida relativamente curto, uma possível resposta e adequação a tais alterações poderá surgir de uma geração para a outra por mecanismos evolutivos. Mas no caso de animais com longevidade na ordem das décadas, será que potenciais respostas individuais existem, e se sim qual o processo? Poderão os indivíduos mostrar flexibilidade e ajustarem-se às alterações do seu meio natural? Apenas seguindo indivíduos ao longo de vários anos é que poderemos responder a tais questões. Os Maçaricos-galegos podem viver várias décadas, sendo 25 anos o actual recorde de longevidade (registado pelo British Trust for Ornithology). O nosso projecto começou em 2012, quando se colocaram 10 geolocators em 10 indivíduos no sul da Islândia. Desse primeiro grupo, duas aves têm regressado ao local de reprodução a cada ano e esse aparelho de seguimento substituído para que o registo dos movimentos seja realizado até ao ano seguinte. Infelizmente, um desses indivíduos viu este ano os ovos da primeira postura predados, e embora tenha feito uma postura de substituição, esta foi também predada… Isto impediu que o capturássemos e recuperássemos o geolocator colocado em 2017. Contudo, o seu “colega da classe de 2012” foi recapturado com sucesso e assim teremos o seu historial anual pelo séptimo verão consecutivo! Para nossa tristeza, o geolocator recuperado em 2017 apenas registou a migração outonal de 2016. Contudo, é muito interessante ver o quão pontual é este indivíduo na saída do seu local de invernada a cada primavera (possivelmente no Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau; Tabela 1), independentemente de optar por voar directamente para a Islândia ou fazer uma paragem durante a migração. Juntamente com os dados de outros maçaricos, poderemos estudar a flexibilidade temporal ao longo do ano e eventuais respostas individuais e interanuais às alterações ambientais. Tabela 1. Datas de saída e chegada na migração primaveril e outonal, desde 2012, de um indivíduo de Maçarico-galego. Este ano foi recuperado o geolocator colocado em 2017 e esperamos em breve saber as datas e rotas das migrações no último ano; *o geolocator colocado em 2016 apenas registou a migração outonal. A Estratégia de migração outonal foi sempre um voo directo entre Islândia e África de ca. 5500-6000 km Miguel Araújo Ano após ano, a excitação do primeiro dia mantém-se elevada e aumenta com a incerteza do que vamos encontrar na Islândia. A incerteza da meteorologia, naquele que é dos países mais ventosos do mundo, faz com que seja sempre difícil prever o que os nossos fiéis “amigos” vão fazer e quando vão chegar aos seus locais de chegada no entre o Sul e o Este da Islândia. Ventos favoráveis permitem que as aves limícolas que se reproduzem no Ártico e Subártico consigam chegar mais rapidamente e com menos esforço aos seus locais de reprodução. Durante a primeira semana de campo, foi difícil encontrar grandes bandos de Maçaricos-de-bico-direito em locais reconhecidos como locais de chegada muito importantes para esta espécie. Por isso entre os dias 26 de Abril e 2 de Maio ficamos apenas pela parte Sul da Islândia, tentando encontrar aves com anilhas coloridas, que iam formando pequenos bandos onde se alimentavam freneticamente. As viagens migratórias são extremamente desgastantes, sendo por isso muito importante que estas aves encontrem bons locais de alimentação nos primeiros momentos pós migração. No dia 3 de Maio, fomos de malas e bagagens para o lado Este da ilha, já depois de ter testado todo o material para capturar as aves. Após uma longa viagem de quase 8 horas, chegamos a Alftafjordur (Westfjords) um dos mais importantes pontos de chegada para a nossa espécie de estudo. Apesar da grande importância deste local para as nossas aves, os números presentes eram pouco entusiasmantes. Montamos as redes durante 3 dias, mas devido aos baixos números de aves, e as marés serem muito baixas, não conseguimos amostrar as aves. Apesar desse contratempo, foram observadas 6 aves com anilhas coloridas que já estamos a estudar o seu trajeto migratório. Entre os dias 7 e 12 de maio no Sul da ilha foram encontrados vários bandos em locais com muito potencial para realizar capturas, no entanto, a permanência das aves nestes locais estava a ser muito limitada. A grande disponibilidade de habitat, devido à pouca chuva durante o Inverno, tornou muito difícil a realização de sessões para capturas de aves. Contudo, com a informação obtida através de aves marcadas permitiu perceber quais as principais áreas de invernada e quais as rotas de migração para esta espécie.
Ana Barroso, 20 Maio 2018, Andenes Com certa ajuda das condições meteorológicas, foi possível recolher amostras de partículas aerossóis em todos os filtros colocados, o que significa que teremos amostras diárias para analisar. O primeiro grupo da campanha polarUBI regressa a Portugal com estas primeiras amostras na bagagem para dar início ao trabalho de laboratório a realizar na Covilhã. Esperam-nos muitas horas de laboratório para realizar a análise individual de partículas aerossóis. Tamanho, morfologia e análise química são os parâmetros de interesse. O próximo grupo da equipa polarUBI está prestes a chegar a Andenes e a recolha de partículas continuará até meio do mês de junho.
Enquanto estudante de primeiro ano de mestrado, ainda com algumas incertezas do que quero para o meu futuro profissional, esta viagem teve um papel preponderante na minha decisão. Embarcar nesta aventura, foi sem dúvida das melhores decisões que já tomei. Fazer parte da equipa PolarUBI foi o “abrir portas” para o mundo da investigação, saindo da rotina académica e ingressar no mundo da investigação científica. Poder viver duas semanas como uma jovem cientista, foi incrível. Esta viagem foi a melhor experiência científica que poderia ter vivido, desde viajar para outro país; conhecer novas culturas; lidar com diferentes pessoas e conhecer as suas áreas científicas de trabalho; ter acesso ao trabalho de campo de uma campanha; ganhar novos conhecimentos; etc. Tudo isto levou a um maior enriquecimento tanto pessoal como académico. Pois se até aqui o “bichinho da investigação” já existia em mim (mas com incertezas), após esta viagem a certeza de seguir por esta área é agora absoluta. Ana Barroso, 17 Maio 2018, Andenes Durante a estadia em Andenes, a recolha das nossas partículas aerossóis atmosféricas correu sem qualquer tipo de imprevistos. Todos os dias, subíamos até ao observatório de ALOMAR do Andøya Space Center, para verificar os equipamentos e realizar a troca do filtro. Nos primeiros dias as condições meteorológicas estavam ótimas, 18 a 19˚C, era verão para o povo norueguês. No entanto, o tempo começou a mudar e veio frio, chuva e rajadas de vento fortes, 7 a 10 ˚C. Aí sim, já deu para sentir o frio nórdico. Na segunda semana de aquisição, celebrou-se o dia nacional da Noruega (17 de maio). Este é um dia muito importante para todos os noruegueses e na cidade de Andenes houve festa, mas também se trabalhou. Depois de subir até ALOMAR e realizar a troca do filtro, fomos até ao centro de Andenes. Neste dia a população reuniu-se toda e realizaram um pequeno desfile com as crianças pelas ruas principais. No desfile, crianças e adultos, iam vestidos a rigor com os "trajes" típicos de cada zona da Noruega. Houve a presença de música por parte de duas bandas, uma com jovens e outra com adultos, que aqueciam a alma não só dos noruegueses como dos estrangeiros que ali se encontravam. Foi um dia diferente, marcado pela boa disposição e simpatia do povo norueguês. Islândia, 2018-05-17, Camilo Carneiro e José A. Alves No dia 12 de Maio celebrou-se o Dia Mundial das Aves Migradoras. Por todo o mundo foram organizadas diversas actividades para chamar a atenção para essas espécies, muitas das quais com populações em declínio severo. Na Islândia, o esforço conjunto do Instituto Nacional de História Natural, Birdlife Iceland, Katla Geopark e do Centro de Investigação da Universidade da Islândia, no Sul da Islândia (ao qual estamos ligados) deu origem ao “Spóadagurinn”, que em português significa dia do Maçarico-galego (Numenius phaeopus islandicus, http://www.worldmigratorybirdday.org/node/17158). Sendo esta a nossa espécie de estudo, fomos convidados para falar sobre ela. Durante a manhã foi organizada uma saída de observação de aves, liderada pelo Tómas Gretar Gunnarsson nosso colaborador de longa data. Além de Maçaricos-galegos em voos nupciais, foram observadas outras espécies, entre as quais: Ostraceiro (Haematopus ostralegus, Milherango (Limosa limosa), Perna-vermelha (Tringa totanus), Narceja (Gallinago gallinago) e Falaropo-de-bico-fino (Phalaropus lobatos). Ao contrário do que se poderia esperar nesta altura do ano, o tempo esteve óptimo, permitindo um almoço no parque de Hvolsvöllur, junto ao auditório onde durante a tarde se realizaram quatro palestras. A primeira, a cargo da Borgný Katrínardóttir, foi sobre o período de reprodução da espécie, na Islândia. Seguiu-se o Camilo Carneiro, que mostrou à audiência onde a espécie passa o inverno e a vida que lá leva, que é consideravelmente diferente do que se observa nos locais de reprodução. Após uma pequena pausa para café, o José A. Alves falou sobre o período do ciclo anual que não tinha ainda sido abordado: as migrações. Se nós que já sabemos há uns anos que esta espécie faz tão longas migrações sem parar continuamos boquiabertos com o facto, imagine-se os membros da audiência que o ouviram pela primeira vez! Ficava assim o ciclo anual dos Maçaricos-galegos explicado e faltava conversar sobre as ameaças e desafios à conservação das aves migratórias nos ecossistemas árticos e sub-árticos . Essa discussão teve lugar após a última palestra, pelo Tómas, que mostrou exemplos locais, com os quais a audiência se pôde identificar e melhor compreender estas problemáticas. Este dia foi passado bem próximo dos nossos locais de estudo, onde os Maçaricos têm chegado, incluindo alguns com geolocators, e em breve começarão a nidificar. Mas sobre isso, escreveremos mais tarde. Ana Barroso, 7 de maio 2018, Andenes-Noruega No passado dia 7 de maio deixamos Portugal para mais uma campanha do projeto PolarUBI. Lá foi novamente a equipa do PolarUBI para a magnífica ilha de Andøya, na Noruega, em mais uma campanha de aquisição de partículas aerossóis atmosféricas. Ao fim de 3 voos e muitas horas em aeroportos, lá chegamos a Andenes às 22 h. O cansaço já se fazia sentir, mas ao mesmo tempo ansiosos pelos próximos dias. Começou bem cedo o dia seguinte, 8h da manhã, e lá fomos dar início à primeira fase de trabalhos – a montagem dos equipamentos. No topo da montanha, no observatório de ALOMAR, com uma paisagem ainda com vestígios do inverno, iniciamos a nossa campanha. Procedeu-se à montagem dos equipamentos, verificou-se o circuito e, mesmo no final do dia, deu-se início a aquisição de dados. E assim começaram as quatro semanas de recolha das nossas partículas aerossóis atmosféricas na região Ártica. REACT_#01: As expetativas eram altas e o entusiasmo era muito grande, no seio da nossa equipa.1/5/2018 Durante a cerimónia de comemoração dos 10 anos após o IV Ano Polar Internacional (API), o momento auge de especial agradecimento ao Professor João Sentieiro, uma das principais forças impulsionadoras para a construção do é hoje o Programa Polar Português - PROPOLAR
Play Foi a primeira vez para todos nós e era um sonho para todos nós. Somos os três biólogos, por natureza sonhadores e admiradores do mundo natural… Pisar solo polar e poder observar aqueles ecossistemas únicos era por si só uma experiência única. Poder fazê-lo no contexto daquilo em que trabalhamos foi uma oportunidade única! A viagem não correu como esperado. Dada a instabilidade das condições atmosféricas na ilha de King George, os voos de ida foram sendo sucessivamente adiados e o regresso sofreu também uma antecipação, que depois acabou por não se concretizar. Este é um cenário comum nestas missões, com o qual temos que saber lidar, e apesar da ansiedade, ultrapassámos o contratempo com boa disposição e com animação para concretizar os objetivos do projeto. E os 10 dias inicialmente previstos para trabalho de campo foram reduzidos para 6, todos vividos e aproveitados ao máximo! Chegámos a King George num dia muito nublado e chuvoso, que contrastou com o carinho e atenção com que fomos recebidos na Base chilena Julio Escudero, onde permanecemos alojados durante a nossa campanha. No primeiro dia viajámos, de zodíaco (bote insuflável), até ao glaciar de Nelson, onde tínhamos um ponto de amostragem de referência; no segundo, para não perdermos a prática, viajámos de novo de zodíaco até à ilha de Ardley, para recolhermos amostras no nosso segundo ponto de referência. A partir daí, todos os dias foram dedicados à amostragem em Ardley Cove, ao longo de uma grelha com 20 pontos. Em cada ponto recolhíamos cerca de 5 Kg de solo e mais algumas amostras pequenas para parâmetros específicos, em recipientes apropriados. Não foi sempre fácil devido às condições atmosféricas e à carga diária (o nosso record foram 12 Km de percurso num dia, com transporte de amostras nas mochilas incluído), mas foi sempre feito com boa disposição e espírito de missão. A noite foi sempre de trabalho no laboratório da Base. Processávamos as amostras dos dias anteriores, o que incluiu crivagem de todo o solo, secagem de algumas amostras e preservação por congelação de outras, assim como medição de parâmetros básicos dos solos e das águas dos lagos amostrados. Depois de 6 dias intensos, chegou o momento de acondicionar toda a carga e amostras, de arrumar tudo e de nos despedirmos de todos os que estiveram connosco na base. Veio também a melancolia do regresso, junto com as saudades antecipadas desta aventura… Agora, em Portugal, a aguardar a chegada das nossas amostras, preparamos todo o trabalho de análise que se segue para cumprirmos os objetivos do projeto ReACT com os restantes membros da equipa. Confiantes de que foi uma missão muito bem sucedida, que garante um trabalho futuro estruturado e inovador no âmbito da análise de risco ecológico de solos potencialmente contaminados na Antártida. Guilherme Jeremias (Universidade de Aveiro), Joana Pereira (Universidade de Aveiro) e Ruth Pereira (Universidade do Porto) |
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