DIÁRIOS DE CAMPANHA PROPOLAR 2017-18 |
Miguel Araújo Ano após ano, a excitação do primeiro dia mantém-se elevada e aumenta com a incerteza do que vamos encontrar na Islândia. A incerteza da meteorologia, naquele que é dos países mais ventosos do mundo, faz com que seja sempre difícil prever o que os nossos fiéis “amigos” vão fazer e quando vão chegar aos seus locais de chegada no entre o Sul e o Este da Islândia. Ventos favoráveis permitem que as aves limícolas que se reproduzem no Ártico e Subártico consigam chegar mais rapidamente e com menos esforço aos seus locais de reprodução. Durante a primeira semana de campo, foi difícil encontrar grandes bandos de Maçaricos-de-bico-direito em locais reconhecidos como locais de chegada muito importantes para esta espécie. Por isso entre os dias 26 de Abril e 2 de Maio ficamos apenas pela parte Sul da Islândia, tentando encontrar aves com anilhas coloridas, que iam formando pequenos bandos onde se alimentavam freneticamente. As viagens migratórias são extremamente desgastantes, sendo por isso muito importante que estas aves encontrem bons locais de alimentação nos primeiros momentos pós migração. No dia 3 de Maio, fomos de malas e bagagens para o lado Este da ilha, já depois de ter testado todo o material para capturar as aves. Após uma longa viagem de quase 8 horas, chegamos a Alftafjordur (Westfjords) um dos mais importantes pontos de chegada para a nossa espécie de estudo. Apesar da grande importância deste local para as nossas aves, os números presentes eram pouco entusiasmantes. Montamos as redes durante 3 dias, mas devido aos baixos números de aves, e as marés serem muito baixas, não conseguimos amostrar as aves. Apesar desse contratempo, foram observadas 6 aves com anilhas coloridas que já estamos a estudar o seu trajeto migratório. Entre os dias 7 e 12 de maio no Sul da ilha foram encontrados vários bandos em locais com muito potencial para realizar capturas, no entanto, a permanência das aves nestes locais estava a ser muito limitada. A grande disponibilidade de habitat, devido à pouca chuva durante o Inverno, tornou muito difícil a realização de sessões para capturas de aves. Contudo, com a informação obtida através de aves marcadas permitiu perceber quais as principais áreas de invernada e quais as rotas de migração para esta espécie.
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Ana Barroso, 20 Maio 2018, Andenes Com certa ajuda das condições meteorológicas, foi possível recolher amostras de partículas aerossóis em todos os filtros colocados, o que significa que teremos amostras diárias para analisar. O primeiro grupo da campanha polarUBI regressa a Portugal com estas primeiras amostras na bagagem para dar início ao trabalho de laboratório a realizar na Covilhã. Esperam-nos muitas horas de laboratório para realizar a análise individual de partículas aerossóis. Tamanho, morfologia e análise química são os parâmetros de interesse. O próximo grupo da equipa polarUBI está prestes a chegar a Andenes e a recolha de partículas continuará até meio do mês de junho.
Enquanto estudante de primeiro ano de mestrado, ainda com algumas incertezas do que quero para o meu futuro profissional, esta viagem teve um papel preponderante na minha decisão. Embarcar nesta aventura, foi sem dúvida das melhores decisões que já tomei. Fazer parte da equipa PolarUBI foi o “abrir portas” para o mundo da investigação, saindo da rotina académica e ingressar no mundo da investigação científica. Poder viver duas semanas como uma jovem cientista, foi incrível. Esta viagem foi a melhor experiência científica que poderia ter vivido, desde viajar para outro país; conhecer novas culturas; lidar com diferentes pessoas e conhecer as suas áreas científicas de trabalho; ter acesso ao trabalho de campo de uma campanha; ganhar novos conhecimentos; etc. Tudo isto levou a um maior enriquecimento tanto pessoal como académico. Pois se até aqui o “bichinho da investigação” já existia em mim (mas com incertezas), após esta viagem a certeza de seguir por esta área é agora absoluta. Ana Barroso, 17 Maio 2018, Andenes Durante a estadia em Andenes, a recolha das nossas partículas aerossóis atmosféricas correu sem qualquer tipo de imprevistos. Todos os dias, subíamos até ao observatório de ALOMAR do Andøya Space Center, para verificar os equipamentos e realizar a troca do filtro. Nos primeiros dias as condições meteorológicas estavam ótimas, 18 a 19˚C, era verão para o povo norueguês. No entanto, o tempo começou a mudar e veio frio, chuva e rajadas de vento fortes, 7 a 10 ˚C. Aí sim, já deu para sentir o frio nórdico. Na segunda semana de aquisição, celebrou-se o dia nacional da Noruega (17 de maio). Este é um dia muito importante para todos os noruegueses e na cidade de Andenes houve festa, mas também se trabalhou. Depois de subir até ALOMAR e realizar a troca do filtro, fomos até ao centro de Andenes. Neste dia a população reuniu-se toda e realizaram um pequeno desfile com as crianças pelas ruas principais. No desfile, crianças e adultos, iam vestidos a rigor com os "trajes" típicos de cada zona da Noruega. Houve a presença de música por parte de duas bandas, uma com jovens e outra com adultos, que aqueciam a alma não só dos noruegueses como dos estrangeiros que ali se encontravam. Foi um dia diferente, marcado pela boa disposição e simpatia do povo norueguês. Islândia, 2018-05-17, Camilo Carneiro e José A. Alves No dia 12 de Maio celebrou-se o Dia Mundial das Aves Migradoras. Por todo o mundo foram organizadas diversas actividades para chamar a atenção para essas espécies, muitas das quais com populações em declínio severo. Na Islândia, o esforço conjunto do Instituto Nacional de História Natural, Birdlife Iceland, Katla Geopark e do Centro de Investigação da Universidade da Islândia, no Sul da Islândia (ao qual estamos ligados) deu origem ao “Spóadagurinn”, que em português significa dia do Maçarico-galego (Numenius phaeopus islandicus, http://www.worldmigratorybirdday.org/node/17158). Sendo esta a nossa espécie de estudo, fomos convidados para falar sobre ela. Durante a manhã foi organizada uma saída de observação de aves, liderada pelo Tómas Gretar Gunnarsson nosso colaborador de longa data. Além de Maçaricos-galegos em voos nupciais, foram observadas outras espécies, entre as quais: Ostraceiro (Haematopus ostralegus, Milherango (Limosa limosa), Perna-vermelha (Tringa totanus), Narceja (Gallinago gallinago) e Falaropo-de-bico-fino (Phalaropus lobatos). Ao contrário do que se poderia esperar nesta altura do ano, o tempo esteve óptimo, permitindo um almoço no parque de Hvolsvöllur, junto ao auditório onde durante a tarde se realizaram quatro palestras. A primeira, a cargo da Borgný Katrínardóttir, foi sobre o período de reprodução da espécie, na Islândia. Seguiu-se o Camilo Carneiro, que mostrou à audiência onde a espécie passa o inverno e a vida que lá leva, que é consideravelmente diferente do que se observa nos locais de reprodução. Após uma pequena pausa para café, o José A. Alves falou sobre o período do ciclo anual que não tinha ainda sido abordado: as migrações. Se nós que já sabemos há uns anos que esta espécie faz tão longas migrações sem parar continuamos boquiabertos com o facto, imagine-se os membros da audiência que o ouviram pela primeira vez! Ficava assim o ciclo anual dos Maçaricos-galegos explicado e faltava conversar sobre as ameaças e desafios à conservação das aves migratórias nos ecossistemas árticos e sub-árticos . Essa discussão teve lugar após a última palestra, pelo Tómas, que mostrou exemplos locais, com os quais a audiência se pôde identificar e melhor compreender estas problemáticas. Este dia foi passado bem próximo dos nossos locais de estudo, onde os Maçaricos têm chegado, incluindo alguns com geolocators, e em breve começarão a nidificar. Mas sobre isso, escreveremos mais tarde. Ana Barroso, 7 de maio 2018, Andenes-Noruega No passado dia 7 de maio deixamos Portugal para mais uma campanha do projeto PolarUBI. Lá foi novamente a equipa do PolarUBI para a magnífica ilha de Andøya, na Noruega, em mais uma campanha de aquisição de partículas aerossóis atmosféricas. Ao fim de 3 voos e muitas horas em aeroportos, lá chegamos a Andenes às 22 h. O cansaço já se fazia sentir, mas ao mesmo tempo ansiosos pelos próximos dias. Começou bem cedo o dia seguinte, 8h da manhã, e lá fomos dar início à primeira fase de trabalhos – a montagem dos equipamentos. No topo da montanha, no observatório de ALOMAR, com uma paisagem ainda com vestígios do inverno, iniciamos a nossa campanha. Procedeu-se à montagem dos equipamentos, verificou-se o circuito e, mesmo no final do dia, deu-se início a aquisição de dados. E assim começaram as quatro semanas de recolha das nossas partículas aerossóis atmosféricas na região Ártica. REACT_#01: As expetativas eram altas e o entusiasmo era muito grande, no seio da nossa equipa.1/5/2018 Durante a cerimónia de comemoração dos 10 anos após o IV Ano Polar Internacional (API), o momento auge de especial agradecimento ao Professor João Sentieiro, uma das principais forças impulsionadoras para a construção do é hoje o Programa Polar Português - PROPOLAR
Play Foi a primeira vez para todos nós e era um sonho para todos nós. Somos os três biólogos, por natureza sonhadores e admiradores do mundo natural… Pisar solo polar e poder observar aqueles ecossistemas únicos era por si só uma experiência única. Poder fazê-lo no contexto daquilo em que trabalhamos foi uma oportunidade única! A viagem não correu como esperado. Dada a instabilidade das condições atmosféricas na ilha de King George, os voos de ida foram sendo sucessivamente adiados e o regresso sofreu também uma antecipação, que depois acabou por não se concretizar. Este é um cenário comum nestas missões, com o qual temos que saber lidar, e apesar da ansiedade, ultrapassámos o contratempo com boa disposição e com animação para concretizar os objetivos do projeto. E os 10 dias inicialmente previstos para trabalho de campo foram reduzidos para 6, todos vividos e aproveitados ao máximo! Chegámos a King George num dia muito nublado e chuvoso, que contrastou com o carinho e atenção com que fomos recebidos na Base chilena Julio Escudero, onde permanecemos alojados durante a nossa campanha. No primeiro dia viajámos, de zodíaco (bote insuflável), até ao glaciar de Nelson, onde tínhamos um ponto de amostragem de referência; no segundo, para não perdermos a prática, viajámos de novo de zodíaco até à ilha de Ardley, para recolhermos amostras no nosso segundo ponto de referência. A partir daí, todos os dias foram dedicados à amostragem em Ardley Cove, ao longo de uma grelha com 20 pontos. Em cada ponto recolhíamos cerca de 5 Kg de solo e mais algumas amostras pequenas para parâmetros específicos, em recipientes apropriados. Não foi sempre fácil devido às condições atmosféricas e à carga diária (o nosso record foram 12 Km de percurso num dia, com transporte de amostras nas mochilas incluído), mas foi sempre feito com boa disposição e espírito de missão. A noite foi sempre de trabalho no laboratório da Base. Processávamos as amostras dos dias anteriores, o que incluiu crivagem de todo o solo, secagem de algumas amostras e preservação por congelação de outras, assim como medição de parâmetros básicos dos solos e das águas dos lagos amostrados. Depois de 6 dias intensos, chegou o momento de acondicionar toda a carga e amostras, de arrumar tudo e de nos despedirmos de todos os que estiveram connosco na base. Veio também a melancolia do regresso, junto com as saudades antecipadas desta aventura… Agora, em Portugal, a aguardar a chegada das nossas amostras, preparamos todo o trabalho de análise que se segue para cumprirmos os objetivos do projeto ReACT com os restantes membros da equipa. Confiantes de que foi uma missão muito bem sucedida, que garante um trabalho futuro estruturado e inovador no âmbito da análise de risco ecológico de solos potencialmente contaminados na Antártida. Guilherme Jeremias (Universidade de Aveiro), Joana Pereira (Universidade de Aveiro) e Ruth Pereira (Universidade do Porto) |
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