DIÁRIOS DE CAMPANHA PROPOLAR 2017-18 |
Por Camilo Carneiro (@Camilo_Carneiro) e José A. Alves (@_JoseAAlves_) Há já alguns anos que estudamos Maçaricos-galegos na Islândia (Numenius phaeopus islandicus). As aves apenas visitam este país nórdico para se reproduzir e rapidamente regressam aos seus locais de invernada, localizados maioritariamente no oeste Africano. No final deste texto encontram-se as ligações para outras notícias sobre o nosso trabalho e a biologia e ecologia desta espécie. A maioria dos animais segue um ciclo anual e por isso pode ser fácil pensar que ao estudar determina espécie durante um ano ficamos a conhecer os seus comportamentos e utilização do espaço no tempo. Mas a verdade é que de ano para ano as condições ambientais mudam, nomeadamente os parâmetros atmosféricos, e ainda mais num período de rápidas e severas alterações climáticas. No caso de animais com um tempo médio de vida relativamente curto, uma possível resposta e adequação a tais alterações poderá surgir de uma geração para a outra por mecanismos evolutivos. Mas no caso de animais com longevidade na ordem das décadas, será que potenciais respostas individuais existem, e se sim qual o processo? Poderão os indivíduos mostrar flexibilidade e ajustarem-se às alterações do seu meio natural? Apenas seguindo indivíduos ao longo de vários anos é que poderemos responder a tais questões. Os Maçaricos-galegos podem viver várias décadas, sendo 25 anos o actual recorde de longevidade (registado pelo British Trust for Ornithology). O nosso projecto começou em 2012, quando se colocaram 10 geolocators em 10 indivíduos no sul da Islândia. Desse primeiro grupo, duas aves têm regressado ao local de reprodução a cada ano e esse aparelho de seguimento substituído para que o registo dos movimentos seja realizado até ao ano seguinte. Infelizmente, um desses indivíduos viu este ano os ovos da primeira postura predados, e embora tenha feito uma postura de substituição, esta foi também predada… Isto impediu que o capturássemos e recuperássemos o geolocator colocado em 2017. Contudo, o seu “colega da classe de 2012” foi recapturado com sucesso e assim teremos o seu historial anual pelo séptimo verão consecutivo! Para nossa tristeza, o geolocator recuperado em 2017 apenas registou a migração outonal de 2016. Contudo, é muito interessante ver o quão pontual é este indivíduo na saída do seu local de invernada a cada primavera (possivelmente no Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau; Tabela 1), independentemente de optar por voar directamente para a Islândia ou fazer uma paragem durante a migração. Juntamente com os dados de outros maçaricos, poderemos estudar a flexibilidade temporal ao longo do ano e eventuais respostas individuais e interanuais às alterações ambientais. Tabela 1. Datas de saída e chegada na migração primaveril e outonal, desde 2012, de um indivíduo de Maçarico-galego. Este ano foi recuperado o geolocator colocado em 2017 e esperamos em breve saber as datas e rotas das migrações no último ano; *o geolocator colocado em 2016 apenas registou a migração outonal. A Estratégia de migração outonal foi sempre um voo directo entre Islândia e África de ca. 5500-6000 km
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