A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
Dia 20 Janeiro 2011
O último dia na Antárctida chegou e nesse dia partiria também Craig, o microbiologista americano, Dácil e Gladys, investigadoras canarinas, e os quatro militares de visita à base que tinham chegado nessa semana. Nesse dia ainda havia muito a fazer: Retirar sedimentos e vegetação da estufa, limpar o laboratório e fazer as malas pessoais. Tarefas feitas com um nó na garganta. Essas tarefas demoraram praticamente todo dia o e só acabaram perto da hora do jantar. Durante o dia tivemos visitas de cientistas vindos de Livingstone, uma ilha a norte de Deception. Vieram no barco "Las Palmas" que nos iria transportar para Ushuaia nesse mesmo dia. No final do jantar tivemos a cerimónia formal de recolher da bandeira portuguesa e da bandeira americana. Os militares em continência alinharam-se com os cientistas enquanto eu e Craig recolhíamos a bandeira correspondente. Foi um momento muito simbólico e oficialmente marcava o fim da presença americana e portuguesa na base de Gabriel de Castilla. Logo de seguida fomos avisados de que iríamos partir dentro de breves instantes e começaram as despedidas finais. Aquela teria sido a nossa família por 20 dias e foi um momento muito emocionante para todos. Sentíamos um enorme privilégio de ter vivido esta experiência. Foram dias inesquecíveis, vividos com muita intensidade e no fundo sabíamos que era difícil voltarmo-nos a ver. Depois de muitos abraços e beijinhos, entramos finalmente para o "zodiac" para a nossa última viagem até ao barco "Las Palmas" que nos esperava na baía. Estávamos precisamente naquela altura do dia em que a luz começava a encher a baía com tons de azul. O vento parecia que nos tinha dado tréguas para a despedida final e o mar da baía estava calmo como raramente tínhamos observado. Aquele cenário só por si, era emocionante. Ravi, pilotava o "zodiac" mas não íamos em direcção ao barco. Navegámos pacificamente junto à linha da costa seguindo para norte. Passámos pela base argentina e pelas fumarolas. Finalmente, fomos em direcção à "arbor de navidad" para uma última despedida. Depois do adeus, virámos 90º em direcção ao "Las Palmas". Naquele momento já caía uma chuva miudinha que provocava pequenas crateras naquele espelho de água. O "Las Palmas" buzinava e lançava para o ar jactos enormes de água, e os militares da base puseram dois "zodiacs" ligados por umas fitas, junto à entrada para o barco, para nós passarmos por baixo. Uma espécie de tapete vermelho, um tratamento VIP para os que estavam de partida. Estávamos completamente maravilhados com todo aquele cenário. Fomos recebidos pela tripulação do "Las Palmas" e arrancámos instantes depois. Os "zodiacs" seguiram-nos e Alex, militar especialista em mecânica que tinha ficado na base, correu até ao topo de um monte e acendeu um verylight vermelho. Estávamos todos sem palavras, admirados com aquelas demonstrações de carinho e contemplávamos aquele momento até a base ficar reduzida a um minúsculo ponto da ilha. ------------------------------------//----------------------------------------- Com o início da viagem de barco até Ushuaia terminamos os diários do projecto Contantarc. O regresso a casa correu sem percalços de maior e estamos ansiosos para que as amostras recolhidas cheguem a Lisboa, sãs e salvas. O processo de análise será longo e durará muitos meses e esperamos no final contribuir para o conhecimento acerca dos contaminantes ambientais em Deception Island e responder a todas as questões a que no propusemos. Um especial obrigado a toda a equipa de Gabriel de Castilla. Adios amigos, hasta siempre!! [CONTANTARC] Os objectivos do projecto Contantarc foram todos conseguidos e até mesmo superados19/12/2011
19 Dezembro 2011
O "Las Palmas" chegaria no dia seguinte para levar cientistas da ilha de Livingston e de Deception Island para Ushuaia, e por isso o trabalho de campo tinha acabado, e era altura de fazer a contagem de amostras e de arrumar as malas. Feitas as contas, os objectivos do projecto Contantarc foram todos conseguidos e até mesmo superados e isso eram óptimas noticias. Na Antártida os imprevisto são muitos e quase nunca jogam a favor. A manhã foi dedicada a fazer o inventário de todas as amostras recolhidas e a armazenar todo o material do laboratório na caixa. Pela hora de almoço fui espreitar à cozinha a preparação do almoço. "Que nos vas abandonar!!" Dizia-me David, o militar cozinheiro. Não era verdade claro, o dia da partida estava planeado com meses de antecedência, mas depois de uma vivência tão intensa com toda a equipa de militares e de cientistas, a despedida nunca poderia ser fácil de lidar. Por toda a base sentiam-se as emoções a borbulhar. O trabalho de contagem e empacotamento das amostras continuou durante a tarde até ter sido surpreendido com o convite de Gladys, uma investigadora canarina. Entrou no Laboratório a correr e com um ar maroto perguntou, "Vamos a la agua en 15 minutos. Quieres vir?". O convite referia-se a tomar banho nas águas geladas da baía e claro que não pude recusar. Saímos da base de fato de banho e corremos até à água. Aquele vento gelado ao tocar na pele exposta doía como se estivéssemos a ser cortados por pequenos golpes de bisturi, mas ao entrar na água a sensação de frio passou a um pânico, um desespero, parecia que o corpo tinha entrado em modo de sobrevivência. A verdade é que quem não quis ir, ficou a ver e a tirar fotografias para se arrependerem mais tarde. Depois do banho gelado a única solução para acalmar o choque térmico era tomar outro banho desta vez quente no WC. O trabalho de laboratório prosseguiu o resto da tarde até à hora do jantar. Depois da sobremesa, fizeram-se as despedidas formais porque em princípio partiríamos no dia seguinte pela tarde. Passaram um video, que entretanto fizeram, especialmente para a despedida, distribuíram "regalos" e fizeram pequenos discursos de despedida que nos encheram a todos de orgulho e de emoções fortes. O trabalho de empacotamento continuou pela noite dentro. O dia seguinte seria o último dia em Deception Island A festa de mascaras do dia anterior durou até às tantas e acabou com todos a colaborarem na arrumação da bagunça e a pôr a mesa do pequeno almoço para o dia seguinte. Um gesto de amizade e de companheirismo para com os pobres "marias" desse dia que tinham trabalho redobrado.
Depois do pequeno almoço parti com Beatriz, a Sargenta 1º especialista em transmissões até Collado Vapor, a norte da base argentina e a meio caminho até às colónias de pinguins. O objectivo era tirar amostras de vegetação e encontrar equipamento que o Gonçalo Vieria tinha instalado nessa zona. Como estava a nevar aproveitei para levar tubos extra para se possível recolher amostras de mais neve fresca. A praia até à base Argentina estava coberta de branco e o caminho até ao topo de Collado Vapor foi feito debaixo de muita neve, chuva, vento e claro de uma satisfação enorme por encontrar aquelas paisagens impressionantes. A campanha do Contantarc estava a chegar ao fim e tentei apreciar cada minuto naquelas montanhas pintadas de preto e branco. Pela tarde, os DGT's instalados na baia precisavam de ser retirados. Parti com a mochila e com o Viking vestido. Havia cinco DGT's instalados na água, o primeiro estava a sul da base a cerca de um quilómetro e meio, e os restantes distribuídos para norte a cerca de 500 metros de distância entre si. A tarde foi passando e por fim cheguei ao último DGT. O vento acalmou e contemplei a paisagem. Mesmo ao meu lado estava de foca de Weddell que tinha passado despercebida aquele tempo todo. A sua pele tinha um padrão muito parecido com as rochas que compunham a praia, estava perfeitamente camuflada enquanto dormia a sesta. A reunião diária com o chefe começava daí a instantes e não havia tempo a perder. Durante o caminho de volta cruzei-me ainda com pinguins, ossos enormes de baleia e uma skua que descansava à beira da água. Na reunião o chefe perguntava-me como tinha corrido o dia, "Óptimo!", e quais eram as minhas necessidades para o dia seguinte, "Nenhumas...". A resposta era curta mas tinha peso, o silencio e o sorriso cúmplice del Jefe indicou-me que não era preciso ter dito mais nada para ser compreendido. A recolha de amostras tinha acabado, assim como o trabalho de campo e a despedida estava próxima. Já só faltava empacotar as amostras, arrumar o laboratório e fazer a mala para o regresso a casa. _Dia 17 Dezembro 2012
A previsão era de que naquela manhã o vento continuaria muito forte, e assim foi. No dia anterior terminámos a reunião com o chefe de base dizendo "Amanhã teremos de esperar para ver o que é possível fazer, vamos ver, vamos ver...". Sair da base com um temporal daqueles estava fora de hipótese e a prevenção é a palavra de ordem na Antárctica, uma vez que o apoio médico é bastante condicionado. A manhã foi preciosa para actualizar as entradas no computador, e os diários de campanha. Ao meu lado, uns contemplavam a paisagem ou liam o email, outros ensaiavam uns passos de dança. A música e aquele ambiente familiar de partilha e amizade faziam um contraste abismal com a agressividade do clima em Deception. Depois do almoço o chefe de base reuniu-se com os militares junto à janela e tomaram a decisão. O vento estava mais calmo e apontou-se a saída de 1 Zodiac para as 16h, o destino era a praia coberta de ossos de baleia, Colatinas, para ir retirar os DGT's que foram instalados três dias antes. Hoje o dia seria muito longo, e depois de chegar à base tinha ainda de retirar os 5 DGT's junto à baia. Connosco vinham mais 4 militares que tinham chegado a Gabriel de Castilha durante essa semana. A viagem até Colatina foi feita com muito cuidado, as águas da baía de Deception continuavam muito agitadas e o Zodiac balanceava com dificuldade pelas ondas. Os DGT's estavam em bom estado, e enquanto trabalhava um dos militares filmava-me com uma câmara profissional "Serás muy famoso en España" dizia-me na brincadeira. Ao embarcar Ravi perguntou-me se conhecia a baía dos baleeiros. Mal esperou pela minha resposta e disse-me "Entonces vamos!" Paciência pensei, teria de adiar trabalho. A baía de baleeiros era realmente um ponto de paragem obrigatória na ilha. Da praia a vista era desconsertaste. Mesmo em frente erguiam-se enormes contentores de armazenamento de gordura e maquinaria parcialmente enterrados na areia negra de piroclasto. Os anos de exposição a este clima impiedoso desfizeram e corroeram todo aquele complexo industrial fantasmagórico agora devorado pela natureza. Aqui e ali havia aquilo que restava das casas e barracões de madeira onde os trabalhadores dormiam e faziam a sua vida diária. Aproximámo-nos devagar para lermos o letreiro informativo pregado à velha e desgastada parede de madeira. Explicava que Deception Island tem uma história de ocupação humana desde 1911 desde a instalação daquela baleeira por uma empresa Norueguesa. Mais tarde em 1931 o complexo foi abandonado e em 1944 parte dos edifícios foram adaptados para a instalação de uma base britânica. As erupções de 1967 e de 1969 provocaram destruição e deslocamentos de terra que forçaram o encerramento da base até aos dias de hoje. Aquele enorme casarão de madeira abandonado dava arrepios na espinha. A luz do sol entrava pelas janelas partidas e iluminava camas, secretárias, armários, objectos pessoais e maquinaria, e as paredes e telhados estavam completamente contorcidos pelas alterações do terreno impostas pelo vulcão. Imaginar a vida de uma equipa de homens há precisamente 100 anos atrás, lutarem contra este tempo e trabalharem em condições tão adversas enchia-nos de espanto e admiração por este lugar. A 100 metros desta casa havia duas sepulturas que inocentemente impunham um ambiente catastrófico a todo aquele cenário surreal. Os contentores de armazenamento tinham cerca de 20 metros de altura, havia muitos outros invisíveis completamente enterrados e a capacidade de armazenamento dava-nos uma ideia da dimensão da matança. Ravi dizia que mesmo assim por vezes os contentores não chegavam e que teriam mesmo de interromper a caçada. Olhou para mim e suspirou " La barbarie humana..." Na praia ao lado, a areia estava coberta de focas de Weddell e de pinguins gentoo. Disseram-me mais tarde que aquela zona está sempre quente e por isso é uma das paragens obrigatórias para as focas que anseiam por uma sesta. Descansavam relaxadamente ao lado de enormes ossos de baleia e faziam o contraste perfeito entre vida e morte em Deception. Dia 17 seria marcante também pela festa de sábado à noite. Desta vez tínhamos uma temática: "Baile de mascaras!", em que todos nos mascarámos num personagem à escolha. Houve piratas, palhaços, assaltante de bancos, batmans, dorminhocos e até anjinhos. O nível de diversão batia no vermelho! Festas destas só acontecem na Antárctica... Isto garantiram-me os veteranos Antárcticos. Lamento mas os pormenores não podem ser revelados por este meio. Ficarão novamente à mercê da vossa i m a g i n a ç ã o. 16 de Dezembro de 2011
Da janela da sala, o chefe de base olhava para o tempo com um ar desconfiado. Por uma questão de segurança todos os planos para aquela manhã tinham de ser cancelados e o aviso foi dado enquanto tomávamos o pequeno almoço. O vento fustigava a base sem piedade, conseguíamos ouvi-lo e senti-lo nos abanões das paredes do pré-fabricado e ficámos todos na sala durante a manhã. A calma e o convivio matinal contrastavam com a azáfama habitual de inicio de dia. Na verdade não me deu grande estorvo, havia imensos dados para meter no portátil e claro escrever os diários em atraso para o propolar. A manhã passou e a hora de almoço chegou. Depois do postre o chefe de base olhou novamente para o tempo a partir da janela. Pela agitação das bandeiras podíamos dizer que o vento continuava muito enfurecido. Os comandantes militares juntaram-se e chegaram a uma conclusão. Tínhamos autorização para sair, mas com vigilância redobrada. Nessa tarde os planos de trabalho eram recolher os DGT's na praia de Colatinas assim como amostras de vegetação no vale do Mecon. Parti então com Aitor, veterinário companheiro de maria e de camarata, até ao vale do Mecon para a recolha de vegetação. Andávamos com dificuldade e muito inclinados para não sermos derrubados pelo vento. As nossas caras eram bombardeadas constantemente por piroclastos voadores, e as rajadas mais fortes conseguiam levantar a água do Mecon e lança-la para o ar como se fosse um jet wash. As condições de trabalho eram complicadas, e Aitor não parecia muito entusiasmado em ir a Colatina depois de acabarmos com a recolha de amostras. Demoraria cerca de 1hora a caminhada só de ida e tudo podia acontecer nestas condições. Depois de recolher as amostras voltámos à base, para tranquilamente tomar uma decisão. Ao entrar na sala vimos da janela tampas das enormes caixas de mantimentos a voarem e saímos a correr para recolher o que era possível. A coisa estava feia e os militares juntaram-se para tentarem conter o voo de mais material. Finalmente o chefe deu a ordem por rádio, estávamos todos proibidos de sair da base. Estava realmente perigoso andar lá fora. Fui para o laboratório tentar adiantar trabalho mas não pude fazer grande coisa. O vento fazia tremer as paredes e era impossivel para a sensível balança estabilizar o peso das amostras. Ao meu lado Mariano monitorizava o vento em tempo real através da estação meteorológica da base e ia avisando quando os recordes de velocidade eram batidos. 90, 100, 110, 120 km/h. Durante o resto do dia restou-me contemplar a furia dos ventos Antárcticos e planear o dia seguinte, iria certamente haver trabalho redobrado. André Mão de Ferro & João Canário Dia 15 Dezembro 2011 Fernando, Capitão perito em transmissões juntou-se à caminhada. Ao chegar ao lago reparamos que água tinha pura e simplesmente desaparecido. Ao se infiltrar neste solo formado por piroclastos porosos, deixou uma aureola perfeita à volta do centro. Por sorte os sedimentos e o gelo ainda estavam no mesmo sitio, e uma pequena parte foi directamente para os sacos e os tubos de ensaios das amostras. Subimos até ao monte Irízar. O interesse era recolher amostras nas nascentes que alimentam os cursos mais a montante do rio Mecon. Comparar as várias amostras de água recolhidas em diferentes locais do Mecon irá ajudar-nos a entender o fluxo de contaminastes nesta bacia hidrográfica e o modo como se deslocam no ecossistema. Enquanto subíamos pelas encostas reparávamos nas nascentes escavadas no gelo e no piroclasto. Como o solo é poroso, algumas delas apenas sobreviviam poucos metros antes de serem engolidas pela terra. A vista para Norte era incrível. A base Gabriel de Castilla e o Las Palmas tinham ficados reduzidos a dois pontos vermelhos e os montes a Este formavam ondas até perder de vista de branco da neve, e de preto do piroclasto. Quando voltámos fui preparar a mala para colocar 5 DGT's espalhados pela baia, nas imediações da base. Tive o cuidado de colocar um mesmo em frente à base, para tentar-mos perceber a nossa contribuição de contaminantes para a água da baía. O método era simples mas cansativo. Chegar ao local, encher um saca de areia, atar a bóia e a saca com uma corda e preparar o fio de nylon que liga o DGT à saca. Com o Viking vestido entrava na água a deixava o saco debaixo de água, com uma luva de latex atava o DGT ao fio de nylon e registava as coordenadas, pH, temperatura e salinidade. Arrumava a tralha e depois era mais do mesmo noutro local da baía. Enquanto caminhava deparei-me com 3 focas, aves predadoras, pinguins e ossos enormes de baleia. André Mão de Ferro & João Canário Dia 14 Dezembro 2011
De manhã recebi outro pedido de entrevista, desta vez a RTP queria tentar fazer uma entrevista em directo para o telejornal da tarde através do Skype. Também queriam celebrar o centenário da conquista da Antárctica pela expedição de Amundsen, e claro falar com um português neste continente. Dei-lhe a mesma resposta: "Vamos a isso então!" O chefe de base ficou bastante entusiasmado com a ideia, bem mais do que eu como devem calcular. Teríamos que escolher o local para a transmissão. Não havia um sitio ideal, havia vários. Por isso decidi fazer a entrevista enquanto fazia uma visita guiada pela sala de estar, sala comandos, sala de transmissões, e claro para a vista excepcional que temos da baía e das bandeiras. Correu tudo bem, o chefe adorou a publicidade a Gabriel de Castilla e os papás o protagonismo do filhote. Ainda antes de almoço havia muito trabalho pela frente. À tarde ia colocar 3 DGT's em colatina e era preciso preparar as bóias, as cordas e os sacos de areia. No Zodiac vinha também Ravi e Aitor. Depois de 15 minutos de viagem chegamos à baia de Colatinas. Ao instalar o 3º DGT mais a Este, encontrei um osso de baleia, e depois outro e mais outro. Só aí então me apercebi do que eram feitas as tantas e invulgares pedras brancas ao longo da praia. À vinda para cá o Aitor explicava-me que no tempo em que era permitido a caça à baleia, esquartejavam-nas nesta praia e traziam-nas em pedaços para o outro lado da baía para extrair o óleo. Fazer estas operações em praias diferentes era a única maneira de resolver o problema das quantidades enormes de ossos que restavam da matança. Quando chegámos à base fui preparar a mala para retirar amostras de permafrost em cerro de la cruz, um monte junto da base argentina. A vista do topo era de cortar a respiração e o cabelo devido aos fortes ventos. Foi um dia longo e depois de jantar ainda havia trabalho de laboratório para fazer. As tarefas só terminaram às 23:30. Estava muito cansado mas a satisfação pelos objectivos cumpridos deram-me forças para ainda preparar o trabalho do dia seguinte. André Mão de Ferro & João Canário Dia 13 Dezembro 2011
Hoje estou de maria novamente, no inicio da campanha Mariano fez de maria por mim e estou agora a fazer a vez dele. Depois do pequeno almoço limpámos as mesas e o chão da sala. Fui espreitar a caixa do correio e pelos vistos havia um jornalista da TSF interessado em fazer uma entrevista para celebrar os 100 anos da conquista da Antárctica. "Vamos a isso então", e combinámos o telefonema via satélite pela hora de almoço. Depois do almoço os DGT's em Moreture deixados há dois dias atrás esperavam que os fossem buscar. Aproveitei para tirar amostras de água para medir os níveis de carbono, de sedimentos e de gelo que cobria parte da ravina. Fomos embora e olhei para trás para uma última despedida. Ao regressar de Zodiac um bando de Cormoran subantártico seguiu-nos metade do caminho. Claro que nesse dia me esqueci da máquina e o momento Kodac foi por água abaixo. Depois de tratar as amostras no laboratório, ainda havia a reunião com o chefe de base antes do jantar. Depois aproveitei o serão para actualizar os dados no portátil, e claro, escrever os diários para poder partilhar as vivências com vosotros. Tinha um cansaço acumulado enorme dos últimos 3 dias, quando terminei fui directo para o vale dos lençóis. Ouça a entrevista com a TSF: "Expedição científica portuguesa na Antártida cem anos após a chegada de Amundsen" André Mão de Ferro e João Canário Dia 12 Dezembro 2011 Partimos de manha em direcção ao monte Irízar, fica a sul do mecon e é onde se encontram as primeiras nascentes do rio. Havia dois objectivos a cumprir: Encontrar o equipamento de monitorização que o projecto do Gonçalo Vieira teria deixado uns anos atrás, e apanhar amostras de permafrost.
Nessa manhã a neve que caía mudou a paisagem do vale do mecon de preto para branco em poucas horas. Depois destes objectivos serem cumpridos, descemos em direcção à base. Faltava só mais uma coisa: Apanhar neve fresca. Um dos objectivos que à partida não sabíamos se seriam cumpridos por estarmos dependente do tempo. Ao analisarmos neve fresca podemos conseguir perceber qual o input de contaminantes transportados pelo vento vindos de outras partes do globo, e perceber melhor o contributo que o vulcão tem no input de metais pesados na ilha de Deception. Hoje era o último dia de recolhas diárias de amostras do Mecon. A neve que tinha caído de manhã rebolava pelas encostas e cá em baixo formava uma espécie de jardim de rosas brancas pintadas de piroclasto. O Mecon hoje estava muito tímido e a água era escassa. À vinda para a base trouxemos as estacas que serviam de marco para as recolhas e fiz a última despedida. André Mão de Ferro & João Canário Dia 11 Dezembro 2011 Como era domingo levantámo-nos uma hora mais tarde. A fiesta partiu a louça, ficámos de rastos e o chefe de base deu ordem para atrasar a alvorada. Desculpem mas os pormenores da festa ficam no segredo dos deuses da Antárctida. De manhã o destino era um pequeno lago um pouco mais a sul do rio Mecon, Ravi juntou-se à caminhada. Ravi é capitão de infantaria, e meu companheiro de camarata. De todos os militares ele é capaz de ser o que melhor conhece a ilha e por isso é tão requisitado quando os cientistas precisam de se deslocar a pé para outros locais da ilha. Este percurso era canja para ele, e aproveitava para tirar fotos enquanto eu trabalhava na recolha das amostras de gelo, água e sedimentos. A sobremesa do almoço desse dia foi memorável. O cozinheiro fez um bolo de anos delicioso de chocolate para comemorar o meu dia de anos. Beatriz, 1º sargenta especialista em transmissões fez um boneco de mim mesmo para decorar o topo do bolo e ainda tive direito a um regalo oficial. Um relógio com o símbolo da base. Serviram champanhe e fizemos um brinde. Que momento! Chema e Alex, militares especialistas em motores ajudaram-me com as bóias e as poitas para voltar a instalar 3 dispositivos no mar de Murature. Estes dispositivos chamam-se DGT's têm uma membrana gelatinosa que absorvem os metais dissolvidos no mar. Depois de estarem em contacto com água da baía por 2 dias, são levados para Lisboa e permitem-nos medir a concentração e especiação dos metais dissolvidos na água da baia de Deception Island. Desta vez iria bem apetrechado com sacas de areia, cordas e boias do exército para evitar novamente imprevistos. Chema e Alex estavam bem dispostos com o almoço e escreveram em cada bóia "João" e "André 25", o número do meu aniversário. Depois de tudo pronto partimos para Murature e depois de instalar os DGT's fomos de Zodiac espreitar uma praia ao lado. "Mira el arbor de navidad". Chema estava-se a referir à rocha mais famosa por estas bandas, tem uma forma incrível extremamente parecida com uma árvore de natal. O mar estava calmo e o sol por vezes espreitava, a disposição festiva do almoço ainda reinava e fartámo-nos de tirar todas aquelas fotos tipo "olhó turista" enquanto caíam flocos de neve. Depois de voltar, ainda fui ao Mecon retirar as amostras diárias de água. O leito do rio estava quase seco provavelmente devido às baixas temperaturas desse dia, as mudanças no vale do Mecon continuam fascinantes. André Mão de Ferro |
A CAMPANHA PROPOLAR 2011-12 Arquivo de notícias organizadas por:
» Projeto
Tudo
» Ordem cronológica
Março 2012
|