DIÁRIOS DE CAMPANHA
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O tempo aqui muda consideravelmente e desta vez parece que escutou os nossos pedidos. O dia de hoje acordou cheio de sol e com uma temperatura de +1ºC. Esta alteração fez, no entanto, que tivéssemos de alterar o percurso para o vale BGR pois o guia não achou seguro seguir pelo rio.
A grande vantagem é que com este tempo se consegue ser muito mais produtivo. Enquanto nos dias anteriores fazíamos um lago por dia devido ao congelamento da água dentro dos equipamentos de amostragem, neste dia fizemos os quatro lagos restantes em tempo record. É muito mais fácil trabalhar nestas condições, no entanto, o nosso objetivo era mesmo trabalhar em condições de inverno e por isso as condições dos dias anteriores seriam as expectáveis. Conseguimos fazer muito e depois à chagada a Umiujaq tivemos muito trabalho de laboratório. Foi uma noite intensa de trabalho. No outro dia seria o regresso a Montréal.
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Apesar de algum sol no dia 6 de Março foi impossível ir para o campo devido ao mau tempo. Quando se fala em mau tempo falamos em temperaturas de cerca de -40ºC e ventos da ordem da ordem dos 80km/h. Embora o dia 6 tenha sido mais ou menos o dia 7 foi muito pior. O sol desapareceu, o vento piorou e passámos a ter blizzard e blowing snow o que diminuiu consideravelmente a visibilidade e tornou impossível mesmo o sair de casa.
No entanto como o laboratório ficava relativamente perto aproveitámos para por as amostras em dia e preparar os próximos dias. Foram dois dias muito aborrecidos e começávamos a ficar preocupados pois só teríamos um dia para fazer o resto do trabalho de campo. Muitas vezes nos perguntam como é viver entre inuits. Ainda se tem muito a ideia, particularmente os mais novos, que eles ainda vivem em iglos, caçam e pescam para comer, enfim, que vivem num mundo à parte.
Na verdade, e apesar de viverem no Ártico a vida é, com algumas exceções, igual à nossa. Têm televisão, rádio, internet, telefone, supermercados onde fazem as suas compras e pagam com multibanco, e claro, também fazem iglos e caçam. Num dia de folga (domingo) decidimos dar uma volta por Umiujaq. A comunidade tem cerca de 450 habitantes, vê-se em 30 minutos e até tem uma igreja. Depois é sempre uma experiência interessante pois são muito simpáticos e gostam de nos conhecer, saber de onde vimos e o que fazemos e comemos. Curiosamente alguns deles até sabem onde fica Portugal e nunca ouviram falar no Cristiano Ronaldo. Pudera o seu desporto é o hockey no gelo. Foi um dia interessante que deu para descansar. O primeiro dia de amostragem correu como previsto, pois com o trail já definido era relativamente simples lá chegar. Relativamente porque ainda são cerca de 30 km em cada sentido e a temperatura por volta dos -25ºC (felizmente sem vento) não facilita.
Quando chegámos ano nosso lago, o BGR1, foi fácil reconhecer pela depressão em volta e também por estar uma câmara fotográfica do CEN apontada para o lago e que tira uma foto a cada 24h. Nós tivemos muitas dificuldades em tirar mais fotos pois com a temperatura ambiente e com o tempo de viagem as baterias vão logo abaixo. Depois da tentativa frustrada de complementar com mais fotos demos inicio à recolha de amostras de água para os mais diversos parâmetros e profundidades. Foi um dia frio, mas em cheio. O primeiro dia de trabalho foi dedicado a procurar o caminho para o nosso site de trabalho (BGR valley). Isto porque todas as vezes que lá fomos, fomos por helicóptero e de verão. De inverno teremos de ir de mota de neve (ski doo). Como temos as coordenadas GPS dos locais de amostragem apenas teríamos, pensávamos nós, de com o auxilio de um mapa definir um “trail” para nos guiarmos nos dias seguintes.
Não foi tarefa fácil. Para começar saímos cerca de 9h da manhã e estava uma sensação térmica de -41ºC. Depois embora o mapa ajude, não indica se os trilhos poderão estar em condições. E assim foi o dia inteiro e só pelo meio da tarde encontrámos um caminho seguro até ao local que passaríamos a utilizar. O que nos vale, é que passamos por paisagens de cortar a respiração. Depois o contacto direto com o nosso guia Inuit é sempre muito enriquecedor pelas histórias que nos conta. Amanhã começamos a amostragem. A viagem para norte demora em geral 2 dias. Isto porque os voos para as comunidades Inuits (equimós) saem sempre de Montreal pelas 8 da manhã o que torna impossível fazer todo o percurso num dia só.
Este ano a ida para Montreal foi via Frankfurt o que nos fez sair de Lisboa pelas 5 da manhã. A vantagem é que se chegou pelo meio dia e desta forma tivemos a tarde livre. À espera estava o colega do Environment Canada que nos fez tomar um segundo almoço e fazer as ultimas compras. Hotel perto do aeroporto pois teríamos de fazer o check in pelas 6h. O voo para Umiujaq foi normalíssimo. Sempre feito num avião a hélice BOMBARDIER DASH-8 COMBI 300 SERIES e que a partir de Kuujjuarapik, pára em todas as comunidades. Como Umiujaq foi a terceira, chegámos por volta das 13h debaixo de um sol intenso e com -33ºC. Depois foi ir para a nossa casa (Estação cientifica do CEN) e arrumar o nosso laboratório improvisado. O PERMACHEM II já está em marcha. Este projeto interdisciplinar é coordenado pelo Centro de Química Estrutural e envolve diversos grupos deste centro e também Universidades e Institutos de Investigação Canadianos.
Estamos a dois dias da partida para o Canadá e como tal convém começar a verificar a check list para ver se não falta nada. Confirmado todo o material que inclui frascos e equipamentos para recolha de amostras, sondas para os mais diversos parâmetros, amostradores passivos e as não menos importantes autorizações para tudo o que possam imaginar. Na verdade, a questão das autorizações é muito importante pois uma parte significativa do Ártico canadiano está em parques naturais. Agora, trata-se de preparar o material pessoal e isso começa sempre por verificarmos a temperatura que nos espera no campo. E não é muito animadora tendo em conta o site do Environment Canada. Apesar de sol, pelo menos até sábado, estaremos com temperaturas abaixo dos -20ºC o que conduzirá a sensações térmicas abaixo dos -30ºC. Nada que mais roupa polar não resolva. Esta questão não pode ser descurada pois geralmente estamos no campo entre as 9h da manhã e as 16h. A expectativa para a partida é grande, mas agora é preciso arrumar tudo com cabeça. |
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