DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Estar a ouvir sempre qualquer coisa quando se está a trabalhar faz parte da vida de um cientista, pelo menos da minha. Confessa, na tua também, certo? É acordar, ligar o PC (uso Mac) e pôr qualquer som, pode ser para ouvir as notícias do que se passa em Portugal (Antena 1 ) ou simplesmente música (Antena 3, BBC 1,...). Dá companhia e, surpresa das surpresas, ajuda-me a concentrar na tarefa (mesmo com o escritório cheio de estudantes e colegas). Também ouço muito os campeonatos de surf em direto (Frederico Morais no World Tour e Vasco, Teresa, Miguel, Zé e os restantes surfistas portugueses e europeus no Qualifying Tour)...surpreendentemente, torna o dia muito mais produtivo. Na Nova Zelândia foi assim. Regularmente vinham colegas ao lab. só para saber os últimos resultados do surf (os Nova Zelandeses também têm surfistas nestes campeonatos). Desde que fiz a mala, a 4 de Dezembro 2016, para a expedição à Península Antártica (com o José Seco) e vir à Nova Zelândia (passando 3 semanas em Portugal com um colega Russo, em Janeiro/inicio de Fevereiro) até agora, foi sempre muito intensivo mas bom. Desde a chegada à Nova Zelândia, a 10 de Fevereiro, deu para analisar todas as amostras do José Queirós, que incluiu desde lulas fantásticas, otólitos (ossinhos que estão junto ao cérebro, usados para manterem o seu equilíbrio) de peixe e até crustáceos que nunca tinha identificado. E sim, descobrir que o José Q. tinha trazido o polvo gigante do Antártico, com o interesse dos media da Nova Zelândia, foi fantástico!!! O que também me alegrou nestas semanas foi identificar que espécies de lulas e polvos continham as amostras da dieta dos albatrozes das Ilhas Adams e Antípodes, dos anos 2002 e 2016. Estava particularmente desejoso de descobrir se haveria diferenças entre anos (ou se comiam mais o menos as mesmas espécies todos os anos) e de que modo pode estar relacionado com a grande queda de sobrevivência que estes albatrozes têm estado a sofrer nos últimos anos. Estou a fazer a estatística agora (estão a ver como a matemática é importante para um cientista!?). As análises ascenderam aos 14 000 bicos! Fazendo as contas, um filhote de um albatroz da ilha Antípodes poderá chegar a comer 2 lulas por dia durante 8 meses. Se as lulas possivelmente só são 50% da dieta em peso (o restante é maioritariamente peixe), estavam a imaginar como os filhotes destes albatrozes estão a ser bem tratados pelos seus pais :). Também trabalhei com os meus colegas Nova Zelandeses numas amostras da dieta de pinguins Rockhopper (que se reproduzem na Ilha de Campbell), em que mostrou que estes pequenos pinguins (2-3 kg de peso) se alimentam bem junto ao fundo, comendo polvos pequenos Octopus campbelli e lulas (maiores) também junto ao fundo. O que achei interessante foi não encontrar bicos de outra espécie de polvo (maior do que O. Campbelli) mas que é abundante também nessa região. Outro fato interessante foi estes pequenos pinguins comerem também uma espécie de lulas M. hyadesi) que vive no meio da coluna de água...resumindo: Nos dias em que apetece cefalópodes (o grupo que compreende lulas e polvos), os nossos pinguins rockhopper exploram o redor da ilha junto ao fundo para apanhar polvos pequenos e 1 lula que vive também junto ao fundo, e vai mais à coluna de água comer outra espécie de lulas (poderei simplesmente explorar o fundo, não?). Fica um beijinho ou um abraço de Sidney já a caminho da neve em Coimbra (que já tiveram o prazer de me informar) !!! Vou pôr uma música para ajudar, pois ainda faltam 40 horas de viagem... Hearing something while working is surely something that is part of the life of a scientist, at least for mine. You too, right? Wake up, turn on the computer and put something on is the norm...it could be the news or a music channel. It helps me concentrate on the tasks of the day (even with the office crowed with colleauges and students). I also hear a lot of the surfing competitions (World Surfing League)...surprensingly ti turns my day even more productive. While in the lab in New Zealand, regularly colleagues would pop in just to know the results of the last “heat”. Since I made my suitcase, on the 4 December 2016 (to the Antarctic Expedition with José Seco) and coming to New Zealand (with 3 quick weeks in Portugal with a Russian colleague), has been always intensive but good. Since arriving in Wellington, it was possible to analyse all the samples of José Queirós that included amazing Antarctic squid , fish otoliths (fish little bonés located clsoe to their brain, used for orientation) and even crustaceans that I have never seen. And yes, to discover that José Q. brought a giant Antarctic Octopod was also interesting! What also made me happy during these weeks was to assess what the Antipodes and Adams Albatrosses feed and if there were diferences between years...and if these differnces can be associated with their decline. I am still doing the statistics (a note for young students: maths, like most disciplines, is really important in the life of a scientist!). This work lead to the analyses of more than 14 000 cephalopod beaks!!! Doing the maths, a wandering albatross chick from Antipodes islands may eat 2 squid per day for 8 months. If squid is likely to be only 50% of the diet by Mass (the other half is likely to be mostly fish), we can certainly conclude that these chicks have been well fed. I also worked on the diet of Rockhopper penguins from Cambell Island, that showed that these small penguins (up to 2-3 kg) feed mostly close to the bottom (on small octopods Octopus campbelli and 1 squid) but also in the water column on a pelagic squid called Martialia hyadesi. A kiss or a big hug from Sydney (Australia) on my way to snow in Coimbra (from what I heard)!!! I am putting some music now to help me coping with such news....only 40 hours of travelling to go....
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Quanto temos um grande desafio dizemos que “temos uma montanha pela frente!”. No meu caso, eu tinha um caso bicudo. Tinha 40 amostras (20 de cada albatroz, Diomedea gibsoni e Diomedea antipodensis) acabadas de chegar aqui ao instituto em Wellington, Nova Zelândia. Nessa altura ainda não sabia que esta seria “a minha montanha”. Com pouco tempo disponível no laboratório, deu para compreender que tinha um autêntico Everest à minha frente, pois estava a demorar muito tempo a analisar apenas 3-4 amostras por dia (a chegar ao lab. às 8.30 e sair às 6 da tarde, seguindo as regras de segurança do instituto em relação ao uso dos laboratórios), com cada amostras com 400 a 500 bicos de cefalópodes para analisar. Isso significa limpar cada bico, separar entre os bicos de cima e os bicos de baixo (cada lula ou polvo, possui um de cada), identificar e medir todos os bicos de baixo, além de preservar amostras para estudos futuros. Com o tempo a reduzir-se significativamente antes de regressar à Europa, a solução foi pedir ao instituto para poder trabalhar no fim de semana. Assim, nestas 2 últimas semanas não existiu a possibilidade de reduzir de ritmo de trabalho...foi sempre “subir a montanha”. Felizmente durante esse fim de semanas acabei as primeiras 20 amostras do albatroz Diomedea antipodensis, no entanto não saberia como seriam as restantes 20 amostras da outra espécie. Seriam tão complicadas com as primeiras? Para minha alegria, estas 20 últimas amostras aparentemente continham um número muito mais reduzido de bicos...nessa altura senti que estava “no topo da montanha a ver o horizonte!” Nos 2 dias seguintes consegui terminar estas amostras, comparativamente com mais de 1 semana para as primeiras...estava literalmente no fim da “descida da montanha”!!! Esta semana tive também de acabar de identificar uns crustáceos com os colegas de cá da dieta do bacalhau da Antártida, do projeto de mestrado do José Queirós, e passar 2 dias a concluir muito do trabalho pendente (vocês sabem: muitos emails, artigos para rever,...). Será sempre assim, perguntam vocês, a trabalhar com pouco tempo para mais nada? Não. Existe tempo para “aproveitar o passeio pela montanha”. Como sou otimista, este desafio também me ajuda sempre a refletir das coisas boas que temos junto de nós. Desde que cheguei, emprestaram-me uma bicicleta que tem feito a minha delicia todos os dias para chegar ao instituto (e Wellington é uma cidade linda para passear). Deu para rever e conhecer amigos de cá, incluindo Portugueses do melhor que temos, para ir ao cinema, para explorar a cidade, para deliciar-me com os gelados, ir ver as ondas em Lyall Bay (ainda vi um surfista mas as ondas estavam um pouco pequenas), tudo isto a tentar cuidar das saudades da família e amigos por facebook, skype...concluindo: no meio do meu percurso “a subir a montanha”, é sempre importante manter a alegria de fazer ciência, e principalmente perceber o que nos faz felizes. Agora olho para trás e vejo a montanha lá longe, com um sorriso... When we have a big challenge we say “we have a mountain in front of us!”. In my case, I had a very complicated 40 samples (20 from each albatross, 'Diomedea gibsoni' and 'Diomedea antipodensis') that recently arrived at the institute in Wellington, New Zealand to be analysed. At that time I did not know that this would be “my mountain” to climb. With little time available in the lab., it became obvious that I had the “Everest” in front of me, as I was taking considerable more time that expected to analise 3-4 samples per day (arriving in the lab. at 8.30am and leaving at 6pm, following NIWA laboratory regulations), with each containing up to 400-500 beaks. For each sample, it is necessary to clean each beak, separate upper from lower beaks (each squid or octopus has a 1 of each), identify and measure all lower beaks and preserve all beaks for future studies. With time getting shorter and shorter before returning back to Europe, the solution was to request the institute to work during the weekend. Therefore, in the last 2 weeks, there was no time to reduce the pace of work, working during the weekend....I was literally “climing the mountain”. Happily, during that weekend I finished the first 20 samples, however I did not know how much time would the final 20 samples from 'D. gibsoni' would take. Would they be the same nightmare as before (i.e. another mountain?)? You should have seen my face of happiness when realized that these final samples contained far less beaks ...at that time I felt I was “at the top of the mountain looking at the lanscape and to the horizon!” In the following two days all samples were analised, far less than 7 days for the first 20 samples...I was literally going “fast down the mountain”. Como a ciência não para, ser cientista significa também trabalhar durante os fins de semana...como este ( " :-) ) Devido às amostras de 2017 terem sido recolhidas em Janeiro, elas só me chegaram nesta semana. Assim, com o tempo a ser cada vez mais reduzido até regressar, a opção foi dedicar-me ao trabalho também neste fim de semana...sem problemas. Como sou otimista, analisei os pontos positivos desta questão, além de avançar significativamente com a análise das minhas amostras. Enquanto trabalhei no laboratório, deu para ouvir o relato do futebol do FC Porto e Sporting ao vivo! É super engraçado, devido às 11 horas de diferença, que um jogo às 8 da noite de Portugal corresponde às 9 da manhã do dia seguinte na Nova Zelândia. Assim, neste Sábado ouvi o FC Porto a jogar com o Arouca (que acabou com 4-0 para os Portistas) e no Domingo ouvi o Sporting a jogar com o Tondela (4-1 para o Sporting) ... Durante a semana também dá para ouvir o programa do José Candeias (Antena 1) aos fins da tarde que ajuda a cuidar de quase todas as saudades de Portugal e das suas bonitas gentes. Na Antártida, o trabalho de campo também não pára aos fins-de-semana, e trabalha-se todos os dias, seja quando se está num cruzeiro científico ou numa estação científica. E aqui na Nova Zelândia, a vida é igualmente intensa. Aqui acordo todos os dias às 6.30 da manhã para ver os emails. Como estou a dormir enquanto a Europa está acordada (são as 11 horas de diferença), assim que abro o PC, sou inundado com todos os emails imediatamente, que variam entre os 40 e os 50 emails diários. Assim, pretendo resolver todas as questões pendentes até às 7.30 de modo a conseguir chegar ao instituto antes das 8.30. Depois do pequeno-almoço, é pegar na bicicleta e aproveitar a viagem até ao instituto (20-30 minutos). O tempo voa no laboratório e estou lá até às 6 da tarde, com um pequeno período para o almoço (basicamente com alguém ou à frente do PC, pois tem-se sempre assuntos a resolver). Ainda vou ao escritório ao fim do dia verificar questões pendentes de emails e colocar os dados obtidos no dia...às 20.30-21 horas, estou a regressar a casa. Jantar e trabalhar mais um pouco...e cama. Horas depois começa tudo outra vez, tal como quando se está na Antártida! Neste fim-de-semana continuou assim durante o fim-de-semana, apenas com a única diferença que no Domingo, já não tenho tantos emails, pois já é Sábado na Europa " :-) As science does not wait, to be a scientist means also working at weekends... like this one ( :-) ). Due to some of my 2017 samples were collected in January, they only arrived this week. Therefore, with my time in NZ getting closer to returning to Europe, the option was to work during this weekend...without any problems. As I am an optimist, I also saw the positives out of this, beyond avancing with the analyses of the samples. While in the lab, I was able to follow LIVE the football in Europe!! It is truly funny listening to football when it is 9am (with 11 hours of difference, in Portugal/UK is 8pm of the previous day). Here I wake up at 6.30am everyday to check my emails. As I am sleeping while everyone is Europe is awake, as soon as I turn my PC on, I get overwhelmed by 40-50 emails daily. I do try to sort them out before 7.30am, so that I get time for breakfast, get on the bike and go to the institute (20-30 minutes bike ride). Time flies in the lab. and I am there until 6pm, with only a brief interval for lunch (uusually with someone or in front of the PC, as there are always issues to be solved). Still manage to got the office to check any unsolved issues, check more emails and put the data in the PC...by 8.30pm-9pm, I am arriving at home. Dinner and work a big more....and go to bed. Hours later everything starts again. During this weekend, the working schedule did not finish but wth the plus that, on Sunday there was not many emails, as it is Saturday in Europe ( :-) ) “Após tantos anos de cientista, ainda não descobriste tudo?” Boa pergunta. Tem uma resposta simples e humilde: Não. Interessante que esta pergunta é-me feita regularmente, principalmente nas escolas. Vamos por partes. Ser biólogo marinho, alguém que estuda o mar, exige ir regularmente à Antártida... para recolher amostras no Oceano Antártico, várias vezes (ou colegas as recolhem por mim). Tudo depende da pergunta que se pretende responder. Por exemplo, para estudar o que os pinguins rei na Geórgia do Sul comem, bastará ir uma vez. Mas imagina que queres estudar o que eles comem em redor da Antártida, então terá de se ir várias vezes. E para estudar se as suas dietas variam entre anos? E se quisermos estudar a dieta das focas também? E dos albatrozes? Os anos vão certamente acumulando, e serão cada vez mais... tudo dependendo da pergunta que se deseja responder. Neste exemplo, ao estudar a dieta dos pinguins, poderemos também saber se come espécies que são capturadas também comercialmente por barcos de pesca (como os peixes do gelo – Icefish), ou seja eles estão a competir diretamente com as pescas. Ou alternativamente, os pinguins capturam espécies que não existem pescas dirigidas a elas, como as lulas da Antártida. Elas (lulas) são extremamente raras e ainda hoje, são ainda literalmente desconhecidas.... temos lulas que ainda não as conhecemos e possuem nomes como A, B ou C.... por exemplo, na dieta dos albatrozes que estou a estudar nesta viagem à Nova Zelândia, temos Moroteuthis sp. B (Imber) ou Taonius sp. (Clarke). Recentemente finalmente saiu um artigo em que classificou os bicos de lulas a que eu chamava ?Mastigoteuthis A (Clarke) como lula Asperoteuthis lui. E ainda esta semana, ainda estou a descobrir bicos de lulas e polvos desconhecidos... exemplos de que ainda não sei tudo ocorrem diariamente.... “After so many of being a scientist, don´t you know everything by now?” Good question. It has a simple and humbling answer: no. Interesting that this question is done to me regularmente, particularly in schools. Funny enough, numerous children think that it is easy and that knowledge is at a distance of a click of a computer. But in numerous occasions, i tis not easy. Answering by steps. Being marine biologist, someone that studies the Ocean, I have to go the Antarctic to collect the material I need to examine (we call them samples)...numerous times (unless colleagues collect thr samples for me). Everything depends on the scientific question we are trying to answer. For example, to study what king penguins from South Georgia eat, I would just need to go once. But imagine that I want to know what king penguins eat all around the Antarctic? I would have to go more times. And to assess diferences between years? And compare with the diets of seals? And of albatrosses? The fieldwork seasons surely pile up. But everything dependo n the question you are trying to address. In this example, studying the diet of penguins, we could also ask if the prey species they are catching are the same that local fisheries are catching (example, icefish), which tells us that they might compete for icefish. Alternatively, penguins may catch prey naturally, which there is no fisheries directed to them, such as Antarctic squid. They are extremely rare and still today, some are still unknown to science. We still have squid species that are called A, B or C...as examples, in the diet of the albatrosses I am studying in this research trip to New Zealand, I encountered Moroteuthis sp. B (Imber) or Taonius sp. (Clarke). Recently there was a research article that finally attributed the beaks of ?Mastigoteuthis A (Clarke) to the squid Asperoteuthis lui. And still this week, I came across squid and octopod beaks unknown to me....examples reminding me that we do not know everything occur EVERYDAY ;) E como é fazer ciência na Nova Zelândia? Bem, possui grandes vantagens...mas são as pequenas coisas que fazem toda a diferença. Estes apoios atuais do Programa Polar Português permite ir a institutos estrangeiros para analisar amostras que foram recolhidas por colegas (neste caso Neozelandeses), reduzindo os custos (pois já não é necessário ir à Antártida (ou área de estudo) recolher amostras, que exige elevados custos das viagens, equipamento, burocracias, e muito tempo disponível para ir) e maximiza os resultados (pois assim permite ter mais tempo no laboratório a analisar as amostras, e escrever os artigos científicos). Com esta colaboração, que se estende para mais de 5 anos, os resultados vão desde artigos científicos, reforçar esta colaboração cientifica com colegas da Nova Zelândia, e ligações à educação e à diplomacia, beneficiando ambos os países. Mas ainda há mais...aprende-se a apreciar um diferente modo de vida ao fazer ciência, o que ajuda os cientistas portugueses a serem melhores cada dia. Assim que se chega a Wellington, longe da Europa, és logo acariciado por um calor ameno assim que chegas. Sim, é Verão!!! Sendo Wellington junto ao mar, um dia de sol torna-se num magnifico dia. Os gelados (provar Hokey Pokey é uma obrigação; cujo sabor é de baunilha e pepitas de caramelo) são fantásticos. E como estamos perto da Antártida, alusões a pinguins é constante (como nos pacote das batatas fritas, por exemplo). Vê-se muita gente a correr, na praia da cidade (pequena mas acolhedora), competições de barcos Maori (a cultura Maori está à nossa volta constantemente, o que é muito bonito), e...muitos Europeus: existe um rumor que 60-70% dos habitantes de Wellington são europeus!!! A moeda é diferente do nosso Euro (New Zealand Dollars) e o que vi de Portugal foi as famosas sardinhas no supermercado. És logo convidado para jogar futebol (é logo “amigo” do Cristiano Ronaldo, que é confundido por apenas sermos do mesmo país). No instituto, o modo de trabalhar é exemplar. Tens de seguir numerosas regras de segurança e de saúde no trabalho, que é levado muito a sério, o que nos ajuda a compreender as diferenças entre estes sistemas de trabalho europeu com o Nova Zelandês. O profissionalismo de todos é de enaltecer. Esta semana foi literalmente dentro do laboratório a ajudar a terminar as análises das amostras do José Queirós vindas da Antártida (José partiu na Quarta-feira) e começar com as minhas amostras de lulas vindas da dieta de albatrozes...mas explicar o que estou a encontrar fica para a semana... And how is to do science in New Zealand? Well, there are numerous advantages...but are the little things that makes all the difference. Today´s research support of the Portuguese Polar Programme allows scientists to go to research institutes to analise samples collected from colleagues (in this case, from New Zelanders), reducing the costs (as there is no need to go to the Antarctic/research áreas that requires high travel costs, equipment, burocracy and lots of time available) and maximizes the results (as it allows more time to be in the lab analising the samples, to write the research papers, reenforce the scientific collaboration with New Zealand, beneficial to both countries). With this collaboration, that goes over 5 years now, the results go from research scientific papers to education and diplomacy. But there is more than that... It allows the scientists, under this scheme, to appreciate a diferente way of life in doing science, which helps the portuguese scientists to be better everyday. As soon as we arrive in Wellington, well far from Europe, a nice warmth welcomes you. Yes, i tis Summer here!!! As Wellington is by the Sea, a sunny day is a wonderful day. Como cientista, é preciso ir recolher amostras na área de estudo (no meu caso na Antártida), escrever artigos científicos, dar aulas, dar palestras nas escolas, ir a conferências, estar presente em organizações/programas internacionais, e, não esquecer, de trabalhar no laboratório. Eu adoro todas estas vertentes do cientista...e sim, estou sempre a aprender algo novo quase todos os dias. E foi o que aconteceu esta semana. Reuni-me com o meu estudante José Queirós, e revemos todo o seu bom trabalho a bordo de um barco de pesca na Antártida, cujos resultados serão usados para a sua tese de Mestrado na Universidade de Coimbra. Com as muitas amostras obtidas, um dos objetivos desta semana foi analisarmos estas amostras no laboratório de Darren Stevens, na NIWA (National Institute of Water and Atmospheric Research) em Wellington, Nova Zelândia. A nossa prioridade foi identificar os cefalópodes, o grupo que animais que contém polvos e lulas, encontrados na dieta do bacalhau da Antártida Dissostichus mawsoni. Estes animais foram recolhidos durante 3 meses, de Novembro 2016 e Fevereiro 2017, e finalmente estávamos com eles nas nossas mãos. As lulas e os polvos foram identificados pela sua morfologia (quantos linhas de ventosas possui um polvo, poderá determinar o seu género ou até a sua espécie) e através dos seus bicos (mandibulas, tipo bicos de papagaio que os polvos e lulas têm). As espécies mais abundantes foram Psychroteuthis glacialis, uma lula muito abundante da dieta dos meus conhecidos albatrozes e pinguins, Kondakovia longimana uma lula grande e também a lula colossal Mesonychoteuthis hamiltoni. Muitas vezes encontrávamos só partes das lulas, tais como os tentáculos, bicos e alguma pele...mas dava para as identificar. Em caso de dúvida, recolhíamos tecidos para genética, que nos irá confirmar a espécie mais tarde. O momento alto da semana foi termos a atenção da TV Nova Zelandesa sobre o polvo gigante Megaleledone setebos que o José Queirós recolheu, que foi o maior de sempre encontrado na Antártida. Chegava aos 18.5 Kg e 120 cm de comprimento! Estão a imaginar a nossa alegria a analisar todas estas amostras; é como no Natal, em que cada amostra é como um presente de Natal que não sabes o que estará lá dentro. Muito trabalho mas com um sorriso enorme! Obrigado Renato, Marta, Afonso e Miguel pelo excelente jantar e como nos receberam em Wellington!!!! As a scientist, it is important to go and collect samples in the field (in my case, in the Antarctic), write research papers, give talks in schools, lecturing at University, go to conferences, be actively involved in international organizations/programs,..and not forgeting...to work in the laboratory. I really enjoy all of these tasks...and yes, I do learn something new almost eveyday. And that´s what happenned this week. I met my student José Queirós to review all his good work onboard o fan Antarctic fishing vessel, whose results will be used for his MSc thesis at the University of Coimbra. With so many samples obtained, one of the objectives of this week was to analyse these samples at the laboratory of Darren Stevens, NIWA (National Institute of Water and Atmospheric Research) in Wellington, New Zealand. Our priority was to identify the cephalopods (group of animals that contains squid and octopods) found in the diet of Antarctic toothfish Dissostichus mawsoni. José Xavier, 13 de Fevereiro de 2017, Londres, em viagem de Portugal para a Nova Zelândia Esta época de trabalho de projetos relacionados com a Antártida tem sido a voar. Fazendo as contas: com a co-coordenação da expedição do Mar de Ross e Kerguelen (José Queirós está ainda a bordo de um navio Australiano), a expedição da Geórgia do sul e Frente Polar Antártica (a bordo com José Seco), a coordenação de recolha de amostras da dieta de predadores (particularmente albatrozes, pinguins e lobos marinhos) na Geórgia do Sul, este será o quarto projeto e a última viagem de trabalho relacionado com projetos Antárticos deste ano. E valerá a pena!
Esta será a terceira ida à Nova Zelândia (depois de 2013 e 2014), para colaborar com os meus colegas do National Institute of Water and Atmospheric Research (NIWA), particularmente David Thompson, na bonita cidade de Wellington. Novamente ouvi as mesmas frases: “Mas a Nova Zelândia fica do outro lado do mundo, não fica?”, “Eu também quero ir!” e “Tu não páras um minuto no mesmo sítio!”. E se fizermos um buraco no chão, iríamos ter à Nova Zelândia, como a dizer que não poderia ir mais longe de Portugal. Pois é... e isso vê-se no tempo que demora a lá chegar. A viagem de avião, de Portugal a Nova Zelândia, demorará mais de 2 dias (partida às 10.40 da manhã de dia 8 de Fevereiro 2017 com chegada às 11 da noite do dia 10 de Janeiro; são 13 horas de diferença em fuso horário, com a Nova Zelândia com + 13 horas que em Portugal). O avião partiu a horas de Lisboa e estou-vos a escrever de Londres (Heathrow Airport). Depois vou para Singapura, Sidney e finalmente Wellington, a capital da Nova Zelândia. Sim, deverei chegar bastante cansado... mas com o sorriso de sempre. Já vos consigo ouvir a perguntar: “e o que vais lá fazer?” Bem, o programa Antártico Neozelandês é muito forte e possui excelentes equipas a trabalhar na Antártida (a Catarina Magalhães também trabalha com o programa polar Neozelandês), logicamente devido à sua proximidade deste continente. Eu vou estudar os bicos das lulas e polvos (peçam lulas grelhadas e vejam a sua “boca”, lá encontram “dentes” semelhantes aos picos de papagaio) que que os albatrozes (Diomedea antipodensis e Diomedea gibsoni) da Nova Zelândia se alimentam. Como estes albatrozes cobrem enormes áreas do Oceano Antártico, e águas adjacentes em redor da Nova Zelândia, à procura de alimento (incluindo muitas espécies de lulas), nada melhor que estudar as suas dietas. Estes dados são a parte do puzzle que falta, após o nosso estudo publicado anteriormente (Xavier, Walker, Elliot, Cherel, Thompson (2014) 'Cephalopod fauna of South Pacific waters: new information from breeding New Zealand wandering albatrosses'. Marine Ecology Progress Series 513:131-142). Como cereja no topo do bolo, vou estar com o José Queirós (cientista polar, e também meu estudante de Mestrado da Universidade de Coimbra) no laboratório com Darren Stevens (NIWA) a analisar as suas amostras trazidas do Mar de Ross e de Kerguelen, após a sua expedição desde Novembro 2016. O nosso projeto CEPH 2017, envolve instituições de Portugal, Nova Zelândia, Reino Unido e França, com o apoio do programa polar português PROPOLAR, e estará a decorrer até ao fim de Março 2017! Até lá, muitas aventuras para vos contar e muito trabalho no laboratório...com um grande sorriso! |
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