DIÁRIOS DE CAMPANHA
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DIÁRIOS DAS ATIVIDADES DE CAMPO DOS PROJETOS DURANTE A CAMPANHA PROPOLAR 2016-2017
Depois de perder uma hora na vida a voar para Madrid, já a estou a recuperar e o saldo, quando aterrar em Santiago do Chile, até será positivo – um bónus de 2 horas nas pouco mais de 438 mil horas já vividas até agora. Isto começa bem!! Entretanto a única coisa interessante a relatar nesta viagem, com o avião completamente apinhado de pessoas, tem a ver com a nova experiência sensorial, com a designação “concertos a bordo”, que a Ibéria Airlines proporciona aos seus clientes nas viagens intercontinentais, de modo a que as longas horas de trânsito não custem tanto a passar. O concerto criteriosamente seleccionado para esta viagem, que durou cerca de 13 horas, teve como título “concerto nocturno sobre o atlântico, de crianças para adultos, em si bemol maior”, interpretado por um fabuloso trio de lindos bebés com um vozeirão único e inalcançável, gerado quando as suas perfeitas e doces boquinhas se escancaravam, acompanhados por um espernear e esbracejar desenfreados e intensos, para que os sons magnificamente gerados, nas correspondentes cordas vocais, se espalhassem por toda a assistência a bordo do airbus A320, que cumpria escrupulosamente o silêncio, que tem de ser de oiro quando se ouve um concerto desta magnitude. Depois do “entusiasmo” inicial ao ouvir a miscelânea conjunta das três vozes, incluídas no intervalo de escalas sonoras que vai do tenor-dramático ao do barítono-lírico, que me deixaram os olhos arregalados e as pupilas dilatadas, procurei nos meus acessórios, cuidadosamente preparados em casa, o equipamento que metaforicamente me atribuía o passaporte para uma calma e apaziguante noite sobre o atlântico: um comprimidinho de Olanzapina Mylan, a venda-para-os-olhos imprescindível e os insubstituíveis tampões-para-os-ouvidos, estrategicamente conjugados com a bela almofadinha e cobertor gentilmente cedidos pela Iberia. E é então que tive o meu primeiro calafrio desta missão – a percepção do esquecimento dos tampões…. As horas passaram, não sei quantas, nem quis saber, lá fechei os olhos para mais tarde os abrir como resultado de uma tremenda sede que tomou conta dos meus sensores cerebrais. Toca de carregar no botãozinho para chamar a assistente de bordo – sem resultado algum!! Depois de várias insistências, sem resposta da tripulação, decidi experimentar as minhas capacidades artísticas de criar um som harmonioso, ao carregar continuamente no botão de chamada das “hospedeiras”, decidido a somente parar até me aparecer uma! La acabou por dar à costa da fila 29 “um” hospedeiro, com cara de caso - com uma grande telha - diria um simples português – perguntando-me, um pouco irritadamente, o que eu queria? Lá lhe respondi, com uma expressão desconsolada, que estava muito desidratado e que necessitava urgentemente de um copinho de água. A sua reacção deixou-me boquiaberto: fez-me olhar para o sinal que indicava a necessidade de estar com os cintos apertados, referindo-me, em tom de complemento, que nesta situação de elevada turbulência aérea a tripulação não estava autorizada a sair dos seus lugares para acudir aos passageiros e satisfazer as suas necessidades mais prementes, virando-me imediatamente as costas e abalando para o seu poiso na cauda do airbus!! Momentaneamente, fiquei baralhadíssimo, pois não se sentia uma única vibração!! O avião atravessava o atlântico calma e serenamente….
La fui buscar a teoria ubiquamente posta em prática na ciência – teoria das múltiplas hipóteses alternativas – para concluir que toda a tripulação tinha assistido entusiasmada e integralmente a este fabuloso concerto nas nuvens, e que agora se regozijavam de um merecido descanso!! A luz dos cinturones de seguridad só se apagou ao fim de uma hora. Finalmente consegui, então, hidratar-me. Acordei, ainda nas nuvens, com a paisagem magnífica dos Andes…
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