![]() Chegámos a Punta Arenas no dia 18 de janeiro, iniciando a grande odisseia no Continente Branco. Nestes primeiros dois dias revemos o nosso cronograma, ajustamos os planos, calibramos os equipamentos e encontramos com outros colegas do ProPolar bem como de outras nacionalidades que vão compartilhar essa experiência. O clima do grupo como um todo é fantástico. Cada um tem seu projeto de pesquisa, sua experiência e sua bagagem acadêmica. Existem as diferenças de “background”, culturas, línguas, religião, credo e raça, mas comungamos da mesma essência, de cuidar e preservar este lindo planeta. Essa é a beleza da Antártida, a reunião de tantos povos e pesquisas mas com o intuito de somar conhecimento, agregar informação, visando multiplicar os resultados e benefícios. Isso aqui é como uma mini ONU, na busca do melhor caminho para o futuro de todos. Ontem, dia 20, fomos buscar a bênção do grande navegador e explorador Fernando Magalhães. Como não custa conferir a lenda, pegamos no pé para nos trazer boa sorte. Estamos preparados. Embarcamos para Sul dentro de 40 minutos, a partir da base Chilena de Escudero – que se inicie a epopeia! Gustavo Cantuária, Manuel Correia Guedes, Punta Arenas, Chile
"No mesmo dia uma tempestade de vento e o pôr do sol mais bonito que eu alguma vez vi. Aqui na base ainda está tudo completamente coberto de neve, tudo branco por todo o lado!", diz Ana Rita ![]() EM BAIXO: Transporte de equipamento com motos de neve No dia 17 aproveitou-se uma janela de tempo sem precipitação e fomos até à estação meteorológica onde foram descarregados todos os dados e verificámos que um dos sensores tinha saído da protecção (abrigo de radiação). Da parte da tarde fomos até ao local de trabalho da pintora (Ganka) que se encontra a fazer quadros de ícones para a capela ortodoxa. O seu trabalho é bastante belo, minucioso e bastante expressivo. No dia seguinte subimos com dois skidoos até ao monte Reina Sofia com 275m de altitude, mais próximo da base espanhola, um dos locais de monitorização mais importantes para o nosso projecto uma vez que tem a perfuração de 25m de profundidade. Todos os pontos de monitorização da solifluxão assim como os sensores da superfície do solo estavam debaixo de neve e gelo. Nesse local temos também uma máquina fotográfica que após descarregadas as fotos, foi verificado que tinha funcionado bem todo o ano. Foi realizada a primeira experiência de perfuração em solo com uma nova máquina. Será necessário atingir cerca de 1,2m para se poder instalar uma sonda de humidade no solo, semelhante ao já instalado em Crater Lake. O terreno neste local é bastante pedregoso o que dificulta imenso atingir a profundidade pretendida mas será mais tarde realizado uma nova experiência. À noite recebemos a previsão meteorológica para a semana da base Juan Carlos I que nos dizia que apenas amanhã iria ser um bom dia para realizar trabalho de campo. Assim no dia seguinte, eu e a Rita preparámos almoço para o campo e saímos para instalar todos os sensores e iniciar os trabalhos de monitorização de solifluxão com DGPS. No entanto, após termos terminado todas as instalações pelas 17h30 começou a chover o que impossibilitou continuarmos os trabalhos com DGPS. Tentámos terminar esta tarefa no dia dia 21, apesar de não estarem as melhores condições meteorológicas, algum vento e precipitação fraca. Alice Ferreira, 18 de Janeiro 2015, Ilha Livingston (Base búlgara St. Kliment Ohridski) POLAR LODGE / SICANTAR: Iglus insufláveis e outras ideias para módulos portugueses na Antártida19/1/2015
No dia 13 de Janeiro à noite chegámos eu e a Rita à Base Búlgara em Livingston e fomos recebidos com emoção por parte da dotação. Para mim foi especial voltar a rever alguns dos membros com que partilhei grandes momentos antárcticos o ano passado. Devido ao mau tempo apenas no dia 15 nos foi possível ir até aos nossos locais de monitorização e recolher os sensores.
Esta é a minha 3ª campanha em Livingston e no primeiro ano em que estive em 2010, entre os nossos locais de monitorização e a base quase não havia neve, no 2.º ano em 2014, uma grande parte da área estava coberta por neve e este ano é sem dúvida o que mais neve registou desde que venho. Havia uma espessa camada de neve em quase toda a área sem gelo da área da Base Bulgara o que irá dificultar bastante algumas tarefas importantes desta campanha, nomeadamente os voos com o UAV e a monitorização da solifluxão com DGPS. Recolhemos os sensores de monitorização de temperaturas do ar, da neve, da superfície do solo e das perfurações, assim como da temperatura da rocha instalados o ano passado. Alguns dos sensores instalados na superfície do solo não foram recolhidos devido à enorme quantidade de neve e gelo. Seria necessário esperar algum tempo até que a neve fundisse para facilitar a retirada dos sensores. Entretanto, começou a precipitar neve com intensidade moderada o que impossibilitou fazer o download dos dados na estação meteorológica com o computador. Retirámos o cartão de memória da máquina fotográfica que efectua a monitorização da evolução da cobertura nival ao longo de todo o ano. Na base verificámos com enorme satisfação que o sistema tinha funcionado perfeitamente todo o ano e assim poderíamos ver de que forma a precipitação e acumulação de neve na área da BAB ocorre ao longo do ano. No dia seguinte estava um dia péssimo de ventos muito fortes com precipitação de neve e sem visibilidade quase nenhuma, de modo que foi um dia onde foi realizado todo o trabalho de laboratório necessário; foram descarregados os dados dos sensores recolhidos, reprogramados e preparados para serem instalados. Alice Ferreira e Ana Rita, 15.01.2015, Ilha Antártica de Livingston (Base búlgara St. Kliment Ohridski) No dia 10, a maior dificuldade seria subir a bateria carregada e tentar colocar em funcionamento o painel solar. Quando o sistema foi colocado a funcionar o painel não estava a carregar a bateria e a opção foi colocar um painel de menor capacidade da máquina fotográfica a funcionar com o grande painel, uma vez que o erro da máquina fotográfica não foi possível solucionar. Subi com o apoio dos militares argentinos até aos restantes pontos acima de 270m de altitude para instalar os restantes sensores nas perfurações superficiais. A paisagem é impressionante desde o topo; é possível ver a Calieta Escondida que nesse dia estava iluminada por sol parcial e a água estava parada e reflectia um espelho quase perfeito das pequenas ilhas na baía. À noite foi realizado então o batismo dos neófitos na Antártida e foi festa pela noite de sábado na base argentina pois no dia seguinte seria dia de descanso para os militares.
No Domingo foi dia de assado na rua apesar da constante queda de neve a temperatura rondava os 2º C e não havia quase vento algum. Pela tarde fomos pela última vez verificar o funcionamento da estação meteorológica. Partimos no Castillo para Deception cedo na manhã de 12 de Janeiro para deixar os 3 investigadores espanhóis e seguiriamos para Livingston onde me deixariam para continuar com as tarefas em Livingston. Alice Ferreira, 12 de Janeiro 2015, Ilha Anvers (Base argentina Primavera, Cierva Cove) No dia 7 de Janeiro embarcámos no Castillo à tarde e chegámos na madrugada de 8. A chegada à base argentina de Primavera era para mim sem qualquer dúvida emocionante, sendo que este seria o primeiro momento em que pisaria a Península Antárctica!! A viagem de zodiac foi longa devido à enorme quantidade de gelo que flutuava em redor da baia de Primavera. Éramos constantemente acompanhados por vários pequenos grupos de pinguins Gentoo que saltavam alegremente fora da água bastante próximos da nossa embarcação. Assim que chegámos à base, pelas 6h da manhã fomos recebidos calorosamente pela dotação militar argentina da base e com um pequeno almoço típico, “medias luas” acabadinhas de sair do forno!! A base Primavera é impressionante: está construída sobre pilares na rocha granítica e todos os edifícios são ligados por longas pontes de madeira.
Embora o mau tempo tenha atrasado o tempo de trabalho de campo em Caleta Cierva, os próximos 4 dias seriam sem dúvida intensos em trabalho. Assim que terminámos o pequeno almoço, eu e a Vanessa, investigadora espanhola, que estuda sísmicidade, fomos fazer a manutenção da sua estação que mede dados todo o ano. E pela tarde, eu e mais 2 cientistas espanhóis subimos até ao local onde estão instalados alguns locais de monitorização incluindo uma estação meteorológica e uma perfuração de 15m. A oportunidade de trabalhar em Calieta Cierva surge de uma colaboração com uma equipa americana que estuda criossolos na Antárctida liderada por James Bockheim. Quando chegámos à estação meteorológica, verificou-se que não estava a funcionar e que seria necessário descer a bateria e carregá-la e colocar o sistema de energia solar a funcionar correctamente. Também no mesmo local havia uma máquina fotográfica que realizava 3 fotos por dia para monitorizar a cobertura de neve. Fiz as ligações necessárias e o aparelho que realiza o disparo estava a dar um erro. Deste modo, retirei todo o equipamento da máquina fotográfica e levei para a base para poder avaliar os problemas e testar o seu funcionamento. No dia seguinte, preparei todos os sensores para colocar nas perfurações superficiais (<2m) em posições topográficas distintas e descarreguei os dados dos sensores. Pela tarde foram instaladas as cadeias de sensores que se encontravam abaixo dos 200m e com a ajuda dos militares foi recolhida a bateria da estação meteo para carregar. Foi também instalado um termonivómetro nessa área. Após o jantar houve algo como uma pré-festa de batismos na base Primavera. É tradição nas bases argentinas haver um batismo onde as pessoas que estão da perfuração de 15m pela primeira vez na Antárctida efectuam algumas provas definidas pelos mais veteranos em campanhas antárcticas. Alice Ferreira, 9 de Janeiro 2015, Ilha Anvers (Base argentina Primavera, Cierva Cove)
Despedi-me do navio espanhol Hespérides e dos meus companheiros de campanha, Pedro Pina e Ana Rita, e desembarquei em Deception no dia 5 de Janeiro. Embora seja a segunda vez que estou em Deception, continuo a ficar espantada com a paisagem desta ilha onde confluem processos de origem periglaciária e vulcânica. A minha primeira impressão deste ano em Deception foi a grande quantidade de neve existente.
Assim que cheguei à base espanhola de Gabriel de Castilla, encontrei o colega de projecto Miguel A.de Pablo que iria embarcar com a sua estudante de mestrado no Hespérides para irem até ao acampamento na Península de Byers. Tivemos então oportunidade de falar sobre alguns pormenores da campanha em Livingston, onde iriamos trabalhar em conjunto. Apesar de não estar planeada, existia uma tarefa a realizar num dos nossos mais importantes locais de monitorização do estado térmico do permafrost em Crater Lake (Ilha Deception). A verificação do estado de uma nova instalação realizada pelo investigador da Universidade de Buenos Aires, Gabriel Goyanes, um registrador automático da humidade do solo na camada activa, com sensores até 1m de profundidade. A camada activa é o solo que descongela sazonalmente. Pela manhã subi a Crater Lake com o apoio dos militares de Gabriel de Castilla para realizar a manutenção dos sensores de humidade do solo. À tarde seria necessário realizar o download dos dados para verificar se estaria tudo a funcionar correctamente. Devido ao mau tempo, o navio argentino Suboficial Castillo, que nos levaria a Calieta Cierva (Península Antárctica), não pode recolher-me e a mais 3 investigadores espanhóis. Seria necessário esperar que a tempestade passasse. No dia seguinte foi impossível sair da base devido à tempestade e apenas no dia seguinte, realizei a última verificação da instalação de datalogger em Crater Lake. Alice Ferreira, 06.01.2015, Ilha Antártica de Deception (Base espanhola Gabriel de Castilla) |
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