Pedro Guerreiro e Bruno Louro É domingo. Mas isso aqui não quer dizer muito. Segundo os nosso colegas chineses só há amanhã ou depois de amanhã. E isso reflecte-se na actividade da base, não havendo um dia comum de descanso, parece que as folgas vão por turnos. No entanto parece haver sempre algum tempo de lazer após as refeições. Um dos aspectos interessantes de Great Wall é a existência de um pavilhão desportivo de dimensões consideráveis e ainda outro pequeno ginásio com algumas máquinas e outras formas de desporto ou jogos. No entanto, ao contrário das outras bases que conhecemos não existe propriamente uma sala de estar comum onde se possa confraternizar ou discutir ideias. E o local onde todos se juntam é o refeitório. No pavilhão joga-se basquete, futebol ou badmington. Este último é um favorito dos asiáticos, mas o campeão local do momento é Siwatt, um dos dois tailandeses que aqui fazem investigação desde o início de Janeiro. Enquanto treina para os campeonatos amadores da Tailândia dá-nos umas aulas e acaba por ser uma boa forma de fazer exercício. Outros favoritos são o ténis de mesa, como não podia deixar de ser, e o bilhar. Neste último o Bruno faz sucesso entre os chineses. À mesa as dificuldades de linguagem inibem a conversação. Dedicamo-nos a tentar perceber o que estamos a comer mas começamo-nos a habituar ao menu e aos pauzinhos... as variedades culinárias ficarão para outro relato. De vez em quando, lá somos obrigados a provar mais uma aguardente de arroz... parece que não acabam. CAMPEI! A verdade é que esta forma de convivência já nos deu novos nomes: Lao Pu e Lao Pei. Adivinhem quem é quem!
Pedro Guerreiro e Bruno Louro A base chinesa é a maior da Ilha do Rei Jorge, com edifícios amplos e maquinaria pesada. Um dos orgulhos da base é a nova grua, que permite movimentar os contentores. Como não existem outras em Fildes esta foi solicitada para levantar o Hercules C-130 da Força Aérea Brasileira que está a ser desmantelado na pista de Marsh. Outra curiosidade é a existência de um semi-reboque... Algo que não esperávamos ver na Antárctica... e no entanto... parece que é aqui que se esconde Optimus Prime, o dos Transformers. Ou um Jipe de tracção às quatro... lagartas! No entanto, para nós, um dos mais impressionantes veículos é uma mistura de limpa pistas e snowcat utilizado para transportar cargas e passageiros entre Great Wall e Frei. Um verdadeiro táxi de lagartas, com quase quatro metros de largura e que se chama Pisten Bully! Ei-lo aqui junto ao snowcat vindo de Fildes. Mas também há outros veículos mais costumeiros das nossas latitutes. Great Wall está a cerca de 3 km da pista de aviação e o parque automóvel “de verão” também não envergonha. Vários 4x4 em parada.
Pedro Guerreiro e Bruno Louro Na terça feira iniciámos a montagem dos tanques. Levamos algum atraso e é necessário apressar o passo. As 12 caixas de arrumação, com cerca de 150 litros cada, que adquirimos em Punta Arenas serão os nossos seis tanques, com circulação em circuito fechado assegurada por uma bomba que eleva a água da caixa inferior para a superior que depois cai por gravidade o que ajuda a oxigenar a água, bastante saturada em O2 nestas temperaturas. Os termostatos que nos construiu o Dr. Joâo Reis (muito obrigado João) medem a temperatura e põem em marcha as resistências que serão utilizadas para aquecer a água, enquanto que nos tanques controlo a temperatura baixa é mantida pela passagem numa serpentina colocada dentro de água e gelo. Sem acesso a uma câmara refrigerada a 4°C, que se avariou antes da nossa chegada, é preciso mais alguma imaginação para ter tudo a funcionar. Nessa mesma tarde o Zodiac está na água e parece boa oportunidade para pescar. No entanto os sistemas ainda não estão cheios de água. Assim, enquanto o Bruno e um grande contingente chinês vão à pesca, eu fico a fazer exercício braçal para encher a balde, desde o cais, quatro tanques a tempo de receber os peixes. Felizmente no dia seguinte pudemos calmamente montar a bomba e renovar a água nos tanques passa a ser uma tarefa bem menos complicada. Indo directamente ao local definido, em cerca de uma hora 25 peixes são capturados e há que ser expeditos a trazê-los para terra e colocados nos tanques. A bordo são mantidos em dois contentores com renovação de água para manter a temperatura baixa e o oxigénio alto mas apenas é suficiente para um certo número de animais. No contentor tudo a postos para os receber e a mortalidade é zero. Na tarde do dia seguinte há nova sessão de pesca. De manhã alguns membros da base visitaram a base coreana de King Sejong e voltaram perto da hora do almoço. O processo de colocar os barcos na água é aqui bem mais complicado que aquele que conhecíamos na estação polaca de Arctowski. Aqui, apesar da praia de fácil acesso e dos reboques, os Zodiacs são levantados por uma escavadora que os transporta para dentro de água, o que mobiliza mais meios humanos e maquinaria e por isso de cada vez que os barcos estão na água há que aproveitar. Desta vez ambos vamos a bordo, mas a maioria da pesca fica a cargo dos chineses, que o fazem com grande entusiasmo, excessivo até. Aparentemente encontraram um novo hobby, o que nos serve perfeitamente. Quase libertos dessa função podemos controlar se os animais vêm em bom estado, retirando cuidadosamente os anzóis, mantendo a qualidade da água e definindo o número de animais a pescar. Outros 25 peixes, que são distribuídos pelos seis tanques e estamos prontos para iniciar o período de aclimatação às condições de cativeiro.
No fim do dia todos querem visitar o contentor e ver os peixes... um sucesso diplomático! Lourenço Bandeira
Península Hurd, ilha de Livingston, Base St. Kliment Ohridski Dia 26 acordámos para um dia de pouco vento e por isso corremos para o campo na expectativa de captar imagens com o drone da área de estudo “Papagal”, onde ano após ano temos efectuado medições. Aproveitámos para levar connosco os sensores que tínhamos recolhido dias antes, para os voltar a colocar a registar temperaturas a diferentes altitudes e profundidades. O trabalho decorreu bem, mas o vento começou a acelerar e quando estávamos finalmente prontos para voar, o vento já estava forte demais, e tivemos que cancelar o voo. Contudo, conseguimos instalar diversos tipos de sensores da temperatura em quatro postes e duas perfurações antes de regressarmos para a base, gelados, para uma sopa quente de lentilhas. A parte da tarde foi passada com os nossos colegas à espera da chegada do Hesperides, que levaria 9 dos 22 elementos da base Búlgara. À hora marcada chegou um bote de borracha e toda a gente apressou-se a carregar as bagagens e a descer até à praia rochosa e gelada. O pequeno barco teve que fazer três viagens para concluir o embarque de todos, e as despedidas alargaram-se por horas. Sentia-se a mistura de sentimentos nas pessoas que iam partir, entre a alegria de regressar às suas famílias e amigos, e a pena de largar esta experiência. A certa altura a neve começou a cair, lentamente a princípio, e apesar do frio, ninguém mexeu um músculo até todos terem partido. Ontem (dia 27) esteve um dia espectacular: praticamente sem vento, céu azul com nuvens muito altas e rápidas, e um Sol quente. Montámos a base do D-GPS no topo de um monte perto da base onde conhecemos as coordenadas com precisão, e a Ana começou a registar as coordenadas cartesianas de pontos marcados com o objectivo de monitorizar o movimento do solo e georeferenciar as imagens captadas com o drone. Ao mesmo tempo, eu realizei três voos a cerca de 100 metros de altitude das mesmas zonas, e as imagens que resultaram ficaram magníficas. Para conseguirmos ir carregando as baterias do drone à medida que estas se iam gastando, levámos connosco um pequeno gerador de campo. Foi um dia em cheio, e só regressámos à base ao pôr-do-sol. Hoje o dia não esteve nada agradável: muito vento, frio e totalmente encoberto. No entanto, com tantos dados recolhidos no dia anterior, tínhamos muito trabalho para fazer no laboratório. Além do mais, fomos convidados a realizar uma apresentação do nosso trabalho para os restantes cientistas da base, pelo que aproveitámos para a preparar durante a tarde. José Xavier e José Seco Primeiros resultados| First results Uma das grandes diferenças entre o meio marinho e o meio terrestre, é que em terra é relativamente fácil de ver e contar os animais e plantas, enquanto no oceano é bastante mais difícil. Se desconhecemos o que se encontra debaixo de água, o que podemos fazer? Primeiro é preciso saber as caraterísticas da água (se é quente, se é densa, se é muito ou pouco salgada). Para isso faz-se um CTD. Este instrumento é usado para determinar a condutividade (C), temperatura (T) e profundidade (do Inglês Depth; D) do oceano, em que garrafas são fechadas a determinadas profundidades e recolhem amostras de água dessa região. Para o nosso estudo de metais pesados, estamos a usar água onde a quantidade de clorofila (que se encontra dentro das plantas) é maior e aos 500 metros de profundidade, onde os valores de clorofila serão muito baixos. Assim, ao filtrar estas amostras vamos poder saber a quantidade de metais pesados nas amostras, quando há muita ou pouca clorofila. Depois de sabermos as caraterísticas da água, o próximo passo é conhecer que animais marinhos vivem na água. Assim, usamos diferentes tipos de redes para apanhar diferentes tipos de animais. Por exemplo, para apanhar pequenos organismos na coluna de água usa-se MAMOTH. Este instrumento é um conjunto de 9 redes com uma malhagem muito fina (de 300 microns) usada verticalmente. As nossas primeiras redes apanharam maioritariamente larvas de camarão do Antártico, salpas, muito fitoplâncton, e alguns crustáceos (copépodes, anfípodes) em pouca quantidade. Estes organismos foram guardados para futuras análises. Estamos agora exatamente a 60° Sul e 47° Oeste. Várias espécies de predadores de topo alimentam-se nesta região. Diz-nos isto com toda a certeza pois temos colegas nossos nas colonias de algumas espécies (Otárias do Antártico, pinguins gentoos e pinguins de Barbicha) a colocar GPS nos animais. As viagens de alguns pinguins de Barbicha está abaixo. A nossa colegas Claire Waluda está a coordenar um website (www.bas.ac.uk/project/krill-hotspots) e um twitter (@clairewaluda and @BAS_News) da expedição, particularmente relacionado com os predadores. O nosso objetivo é assim comparar o que encontramos no oceano com o que os nossos colegas estão a encontrar na dieta dos predadores. Temos também alguns colegas a bordo de um barco Norueguês que esta a pescar camarão do Antártico nesta região do oceano austral, o que nos ter outro termo de comparação para os nossos resultados.
Com esta intensidade de trabalhos passámos a trabalhar 12 horas seguidas, das 6 da tarde às 6 da manhã, horário da noite. Sim, aqui apesar de estarmos a 60° Sul, há algumas horas de noite (entre as 10 da noite às 3 da manhã). E porquê lançar as redes a estas horas? Porque no período da noite muitos animais vêm das profundezas para se alimentar junto à superfície (< 200 metros de profundidade), o que nos permitirá aumentar as nossas probabilidade de os apanhar nas redes. Estamos a falar particularmente de peixes, lulas e o zooplâncton (como o camarão da Antártida). Assim, com estes pequenos passos estamos a conhecer melhor a biodiversidade Antártica. O nosso próximo objetivo é usar redes maiores para apanharmos organismos marinhos maiores, como peixes e lulas, além do camarão do Antártico em quantidades significativas…estamos ansiosos! João Branco Bem, o plano era continuar os trabalhos nos dias que se seguiam, mas a previsão de mau tempo para Domingo dia 24 de Janeiro veio a confirmar-se. De manhã cedo assistimos à chegada a Barton de um veleiro de 24m que tinha atravessado o Drake proveniente de Ushuaia, com cientistas malaios, que participavam num cruzeiro científico. Acabaram por ficar instalados na base sul-coreana em resultado do mau tempo que se avizinhava. O comandante do veleiro, um australiano com 20 anos de navegação na Antárctida ancorou a embarcação na vizinha Baía de Potter, mais resguardada do vento do que em frente à base. Ainda antes da hora de almoço o vento começou a aumentar e rapidamente começou a nevar. Pela tarde as condições agravaram-se, aumentando a queda de neve e o vento chegando a velocidades superiores a cem quilómetros por hora. A visibilidade baixou para menos de dez metros. Assim estivemos debaixo deste blizzard até Segunda-feira à tarde e só nos deslocávamos entre os edifícios da base às horas refeições, em direcção ao refeitório... ⬇ Hoje saímos para o campo e com a neve fresca que congelou durante a noite era muito mais fácil caminhar. Mais de 24h de queda de neve provocaram grandes alterações na paisagem mas o efeito menos desejável foi ter coberto dois dos sensores da temperatura do solo tornando-se impossível encontrá-los debaixo da neve. Recuperei os restantes sensores mas vou ter de contar com a ajuda dos investigadores sul-coreanos para os remover depois da neve fundir pois a nossa partida está prevista para amanhã dia 27.
Isto relembra-nos que o clima e o estado do tempo é um factor incontornável em todas as actividades neste continente. Pedro Ferreira (LNEG) e João Mata (FCUL) Barton Peninsula; King George Island, Antárctida Depois do reconhecimento de parte da área da Península de Barton na companhia de Gonçalo Vieira e João Branco (IGOT), colegas que já realizaram várias missões de campo nesta região, iniciámos os nossos trabalhos de campo com a realização de dois “cortes” geológicos junto ao litoral: o primeiro, entre a estação King Sejong e um pequeno esporão localizado 4 km a Este (foto 1). O segundo corte ao longo da costa de Marian Cove, em direcção ao Glaciar Furcade (foto 2). Em ambos os trajectos efectuados tivemos sempre no nosso horizonte vários icebergs, alguns com dimensões significativas, que este ano proliferam na região (foto 3). O primeiro “corte” permitiu observar as litologias da Formação de King Sejong (definida pelos geólogos Sul-Coreanos autores da Carta Geológica da Peninsula de Barton, em 2002). É principalmente formada por rochas vulcaniclásticas (rochas muito heterogéneas, com clastos vulcânicos de distintas dimensões, numa matriz geralmente fina), onde se intercalam escoadas lávicas (foto 4). Com frequência são observadas estruturas intrusivas do tipo dique (foto 5) e, com menor frequência, algumas estruturas interpretadas como chaminés vulcânicas. Durante este “corte” foi possível observar Focas de Wedell (dormitando e refrescando-se pacíficamente na neve que bordeja a praia de cascalho - foto 6), Elefantes Marinhos fêmea, Andorinhas-do Ártico, Petréis (foto 7) e Skuas, a ave dominante, pelo menos nesta parte da ilha. Mas o deslumbramento para ambos ocorreu no atravessamento da ASPA 171 (uma área Antárctica especialmente protegida – foto 8) que corresponde a uma zona de reprodução de pinguins Gentoo. Por estarmos especialmente autorizados tivemos ocasião de seguir pela muito movimentada “auto-estrada para a pinguineira” (foto 9). Aqui, muitas eram as crias (facilmente identificáveis pela sua penugem acinzentada) que se encontravam sob proteção e aconchego das progenitoras (foto 10). Este primeiro “corte” concluiu-se num pequeno esporão formado por um dique, apresentando uma interessante disjunção prismática (foto 11). O segundo corte geológico realizado fez-se para NE em direcção ao glaciar de Furcade. Foi possível observar afloramentos das rochas intrusivas, essencialmente de natureza diorítica e granodiorítica (as mais abundantes). Pontualmente, rochas mais máficas, do tipo gabro, são também observadas. Pequenos veios centimétricos aplíticos cortam, por vezes, estas rochas plutónicas.
Mais NE, já próximo do glaciar, estas rochas deixam de aflorar, passando-se a observar rochas vulcânicas, com uma matriz fina, preferencialmente afanítica (sem minerais visíveis), mas por vezes porfiríticas, com microfenocristais de plagioclase, e que estão descritas como tendo uma composição química que varia entre o basalto e o andesito. Depois desta longa caminhada… o bem merecido descanso!!!!! (foto 12) Pedro Guerreiro e Bruno Louro No sábado à tarde saímos para uma sessão pesca de “reconhecimento do terreno”, para averiguar os melhores locais na baía junto à base de Great Wall, e que serviu também para convencer os nossos interlocutores que a pesca de barco era a forma mais expedita de obter peixe em quantidade para as nossas experiências. Fizemos vários pontos entre a pequena Geologists Island, uma pequena ilha rochosa frente à base, e a maior Ardeley Island, onde existe uma colónia de pinguins de barbicha. Num dos pontos o cheiro a guano afectou claramente os nossos colegas chineses e tivemos de regressar. No entanto a pesca foi um sucesso e encontrámos um “spot” no lado nordeste da Geolosgists Islands onde pareceu fácil obter todas as Notothenia rossii que vamos necessitar. O entusiasmo entre os membros da base que foram pescar era grande e talvez isso tenha contribuído para que finalmente ao fim do dia fosse possível ter o contentor no cais. No entanto, no Domingo e Segunda feira o pouco que conseguimos fazer foi transportar algum do equipamento para o interior do contentor. Ventos gelados de mais de 75 Km/h, acompanhados de neve, muita neve impediram qualquer movimento na base e era demasiado perigoso transportar mais materiais e trabalhar na instalação dos tanques. O pavimento do cais gelou e corríamos o risco de cair à água. Também o acesso ao exterior, físico ou virtual, através da internet, foi severamente diminuído e o que pudemos fazer foi apreciar como a paisagem se cobriu de branco, enquanto as estruturas eram fustigadas pela tempestade.
PROJETO ANTUAV 2015-16: falhada a primeira tentativa de trabalho no Glaciar Rochoso de Hurd25/1/2016
Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Dia 24, logo pela manhã, caía um enorme nevão, e lá se foram por água abaixo as nossas expetativas de ir ao glaciar rochoso nesta semana. O glaciar rochoso (GR) que se situa na vertente sudeste da Península Hurd, voltado para a baía Falsa, é uma grande acumulação de sedimentos em forma de língua, com permafrost no seu interior, que se deforma lentamente por ação a gravidade. O objetivo nesta área de estudo é estudar a deformação do GR mediante a monitorização das mudanças acumuladas na sua superfície. Esta preocupação com a ida ou não ao GR deve-se a este ser um dos locais prioritários no nosso trabalho de levantamento de campo, e que já conta com vários anos de monitorização, pelo que falhar a série de medições anuais seria um problema importante. Transportamos também connosco um equipamento UAV que utilizamos para cartografia dos locais de estudo e de monitorização do permafrost. Este modelo tem características distintas do UAV Suzanne Daveau (Sensefly ebee) que está de momento a ser utilizado pelo grupo do projeto PERMANTAR, Gonçalo Vieira e João Branco, em trabalho de campo na Ilha King George. Temos também urgência para testar se o nosso drone se irá comportar bem nos levantamentos de imagens para modelação topográfica, pois caso contrário, teremos que pedir aos permantar’ianos que nos façam chegar o seu drone antes de se irem embora (dia 26 de Janeiro). Aqui quem manda é o tempo, e nós ajustamo-nos aos seus desígnios, pois lutar contra eles, separados quase 2000 km da cidade mais próxima, é imponderável e irresponsável. Paciência e esperança requerem-se por estas bandas, e claro que acompanhadas sempre por uma generosa dose de flexibilidade e motivação. E perguntarão os leitores, o porquê desta apreensão toda, sendo que solução logicamente mais segura seria a de ficar com os dois drones. Bem, a resposta é que tratam-se de equipamentos muito caros, sensíveis no acondicionamento e transporte, e que devem viajar connosco como bagagem de mão, o que se iria acumular à já enorme quantidade de equipamento que transportamos, além dos constrangimentos das inspeções nas fronteiras, que normalmente nos pedem sempre imensa papelada para acompanhar todo o tipo de equipamentos científicos que trazemos. NAAAA!!!!!! Não é um cenário nada motivante, depois de uma longa e intensa campanha, de onde deveremos regressar completamente exaustos, para não variar, claro. A nossa “sorte neste mal-encarado dia de domingo” é que estávamos escalados para ficar de apoio à cozinha na Base Búlgara de St.Kliment Ohridsky, o que acabou por não influenciar as nossas atividades de campo, adiando apenas as nossas atividades de laboratório. As tarefas de apoio à base consistem em manter a cozinha limpa e organizada, participar na confeção dos alimentos, por a mesa, servir as refeições, … tarefas normais de uma casa, mas desta vez para um total de 22 pessoas. Estar nesta base não poderia ser mais aconchegante. Sinto que cheguei a casa, rodeada por uma data de irmãos, primos, tios, sempre com muito para conversar e discutir sobre situações práticas, ou histórias e aventuras dos próprios ou outros que por aqui passaram. O único problema é que não percebo nada de Búlgaro mas, o entusiasmo é tanto e tão expressivo, que dou muitas vezes por mim a rir como se estivesse perfeitamente dentro da conversação. Se não tivermos ao pé um dos nossos “tradutores oficiais” - normalmente o Sacho ou a Isabel – continuamos completamente às escuras no tema. No meio de 20 Búlgaros, sendo nós 2 portugueses, verificam-se por vezes algumas falhas de comunicação pois há sempre quem julgue que já houve uma alma caridosa a prestar-nos o serviço de tradução. Estas grandes reuniões ocorrem normalmente à hora do almoço (14h aqui na base, 17h em Portugal, 19h na Bulgária) e mais prolongadamente à hora do jantar (21h aqui na base, meia noite em Portugal, 2h da manhã na Bulgária). Mesmo com as tarefas de serviço na base, conseguimos terminar durante a tarde o teste e reprogramação dos sensores e estávamos mesmo entusiasmados com a ideia de os irmos instalar no local. Ainda não eram 19h00 (22h00 em Portugal) pelo que ainda teríamos cerca uma hora para instalar os sensores e voltar a tempo de ajudar nas tarefas da cozinha. Preparámo-nos para sair, cheklist de todos os materiais que iríamos necessitar, e preparávamo-nos já para comunicar ao chefe de base Yordan da nossa saída, quando alguém nos “recorda” da necessidade de estarmos todos presentes na reunião geral de carácter obrigatório agendada para as 20h. Esta informação havia sido comunicada durante o almoço mas ninguém se lembrou de nos “traduzir”. A frustração estava de certo patente na minha cara pois o chefe de base mostrou de imediato flexibilidade para que faltássemos à reunião. Obviamente que por respeito a todos, e especialmente ao chefe Yordan, não acedemos e ficámos – tratavam-se de comunicados muito importantes e urgentes dos quais teríamos de estar a par. A temperatura por estas bandas ronda geralmente 0 ºC, com algumas oscilações mas não ultrapassando normalmente os 4 ºC, nem descendo abaixo de cerca de -4 ºC durante o verão. Nos primeiros dois dias o corpo ressentiu-se, mas agora já estou mais adaptada. O forte vento é que cria uma desconfortável sensação térmica. Acordo dia 25 com a notícia de que o navio espanhol BIO-Hespérides viria buscar parte do pessoal das bases no dia 26. Lá ficarei eu sem qualquer companhia feminina (Deni, Isabel e Helena). À faceta infantil da minha mente, veio a ideia de esconder a Deni em algum lado, mas era impossível não darem por ela. Bolas! Foi dia de sessão fotográfica, apoiar nos preparativos para a saída do grupo de 9 pessoas no dia seguinte, e voltar a reprogramar todos sensores. Pedro Guerreiro e Bruno Louro Combinámos com o pessoal de Great Wall que na falta de camara frigorífica o melhor seria colocar um contentor de transporte, daqueles utilizados nos navios, mesmo sobre o cais para aí instalarmos os tanques. Assim, com a bomba elevatória e as mangueiras que comprámos em Punta Arenas poderemos obter água do mar à temperatura correcta sempre que for necessário, mantendo os grupos controlo o mais perto possível do meio natural e utilizar os termostatos e resistências para subir a temperatura nos grupos experimentais. No entanto tem sido impossível ter o contentor instalado devido às outras actividades da base, e assim estamos algo atrasados em relação ao que havíamos planeado. Para além das contingências do clima, também os calendários das bases e das várias tarefas de manutenção a realizar no verão podem ser um problema, pois para estas experiências necessitamos de algum apoio, que nem sempre está disponível. E assim, sem tanques, também é irrelevante pescar, apesar dos vários “convites” feitos por alguns membros da equipa da base. Já foi até proposta uma competição de pesca, entre nós, os chineses e os tailandeses. Parece que ao menos há alguma motivação para colocar o barco na água mas a questão do atraso na instalação do espaço começa a ser preocupante. É sexta-feira e a previsão é de ventos fortes até segunda o que pode condicionar a utilização da grua. Aproveitámos o tempo para outras actividades como montar e testar algum equipamento no laboratório, monitorizar os parâmetros ambientais na água, escrever relatórios, ler e preparar estes relatos. No entanto a ligação com a internet não é das melhores, sobretudo quando o tempo está algo tempestuoso como hoje, e passamos algumas horas a tentar receber ou enviar emails ou encontrar informação online – Google e Facebook são off limits! Por outro lado a base tem cobertura para rede de telemóvel por uma operadora na China… mas o roaming é proibitivo para nós! Apenas emergências sff! Já as raparigas não largam o telemóvel, que ao menos serve de auxílio na tradução. Também tentamos perceber o que fazem os vários cientistas chineses que estão na base. Concentram-se aqui várias áreas de investigação, como meteorologia, geologia, oceanografia e química do oceano, avaliação por satélite dos níveis de clorofila e produção primária, toxicologia de águas e sedimentos, microbiologia, etc. Há também que se dedique à produção de cartografia com fotos de alta resolução com recurso a drones, alguns bastante sofisticados e outros, mais simples, como uns aviões esculpidos em esferovite, cuja dificuldade é manter intactos na aterragem. A interacção à refeição ganhou um novo membro. Para além dos tailandeses também temos à mesa o chefe, mais reservado, e o médico da base, que é muito extrovertido, e passamos o tempo a traduzir entre inglês, chinês, português e espanhol. Uno Quatlo! Vamos a la playa!
Ontem após o jantar, fomos convidados para participar no inicio das actividades desportivas que irão marcar o Ano Novo Chinês no início de Fevereiro. Mais que um evento desportivo, foi uma forma de colocar praticamente todos os elementos da base na mesma sala, um pavilhão com marcas de badmington e cestos de basquetebol, para algum “team building” supervisionado pelo chefe da base. Acabou por ser um “concurso” de lançamentos ao cesto e outro de penáltis (com bola e sem copo) e depois um cada um por si com a bola! |
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