Pedro Guerreiro e Bruno Louro Ni hao! Nestes dias Great Wall recebeu a visita de dois elementos de EcoNelson, uma pequena base na ilha Nelson, parte de um programa privado de sobrevivência e sustentabilidade (www.econelson.org), em que os voluntários são testados na sua resistência, física e psicológica, à adversidade da natureza e falta de socialização. Estávamos no cais quando os vimos chegar, numa pequena jangada composta por dois flutuadores ligados entre si por uma estrutura de madeira e tecido aberta no fundo e propulsada por um motor de 4 cavalos e dois remos. Depois de todo o aparato e equipamento de segurança que é imposto, e bem, na exploração antárctica, ver alguém navegar, entre duas ilhas, vários quilómetros durante algumas horas, sobre água a 1-2 graus centígrados, em algo tão frágil, é desconcertante. Mas a jangada funciona, é fácil de transportar e até tem nome, Matilda! Um dos tripulantes, Jaroslaw Pavlíček, um checo especialista em sobrevivência, septuagenário, é o capitão e mentor da iniciativa, o outro Florian, alemão de 53 anos, residente na Áustria, alguém que encontrou nesta aventura a possibilidade de visitar a Antárctica e que passou os últimos dois meses como cobaia, numa pequena casa, utilizando enlatados, peixes e algas como alimento, materiais de limpeza sem químicos, madeira como combustível e recolhendo e contabilizando o lixo devolvido pelo oceano às praias da ilha!
O motivo da sua chegada a Fildes era encontrar forma de levar Florian de volta à América do Sul sem ter de desembolsar os cerca de 2750 dólares do voo comercial da DAP. A proximidade de um voo militar Uruguaio e a quantidade de navios ancorados na Baía abriam algumas expectativas para a travessia. De caminho, enquanto Florian procura transporte, Jaroslaw, ou Jada, vai mantendo contactos com as várias bases e tripulações que de alguma forma apoiam EcoNelson. No dia seguinte voltámos a ver Florian, que sem opções se resignou a voar com a DAP, mas contente por ter tomado o primeiro duche em meses! Nós também, pois partilhámos algumas refeições com ele e o depois foi bem melhor que o antes. Mais tarde junta-se Jada e na Matilda vão visitar outro aventureiro. Ao largo de Great Wall está o veleiro Issuma (www.issuma.com), uma embarcação de 15 metros que comandada pelo canadiano Richard Hudson, que desde 2008 percorreu o Atlântico, de França à Argentina e ao Canadá e que em 2012 atravessou a Passagem do Noroeste, algo possível devido à redução da extensão de gelo do Oceano Árctico. O veleiro foi construído há mais de 30 anos com especificações de casco para o gelo Antárctico e Hudson, cujo tio-avô fazia parte da expedição de Ernest Shackleton 1914-16, resolveu traze-lo ao seu ambiente recreando de alguma forma a viagem do Endurance. A tripulação conta com outros três tripulantes, uma americana e um casal de franceses que desceram a aosta do Chile, percorreram os meandros do Estreito de Magalhães e atravessaram o Drake. A paragem prende-se com a necessidade de obter água fresca antes de se dirigirem à Peninsula Antárctica e depois a Elephant Island. Talvez o façam em Arctowski. Mandamos cumprimentos! Pedro Guerreiro e Bruno Louro De manhã temos uma reunião com o responsável pela integração dos cientistas estrangeiros na base, na qual explicamos o que queremos fazer e que apoio será necessário. Para além de saírmos para pescar, vamos necessitar de manter peixes vivos, à temperatura da água do mar, que neste momento, medida no cais da base, varia entre 1.6 e 2 graus centígrados. Infelizmente a camara frigorífica da base está avariada e precisamos de alguma imaginação. Fazemos uma visita a vários pontos e fica acordado que as várias opções possíveis serão estudadas. Alguns cientistas chineses também utilizam peixes como modelos experimentais, mas para os seus estudos não precisam de animais vivos o que facilita a logística. Quase todos os peixes que conseguimos encontrar nesta região são genericamente chamados bacalhau Antártico, apesar de nada terem que ver com bacalhaus. Um dos dois tailandeses que aqui estão, os únicos não chineses para além de nós, também usa peixes, que obtém pescando entre as rochas na maré baixa. Mas estes são sobretudo Notothenia coriiceps, o Bullhead rockcod, uma espécie que os brasileiros chamam de cabeçuda, em contraste com o peixe que nós queremos, a Notothenia rossii, ou Marbled rockcod, mais elegante mas também mais difícil de capturar a partir de terra, pelo que iremos necessitar de sair em barco. Após o almoço, e a luta para utilizar os pauzinhos de forma mais ou menos (mais menos) correcta, saímos para verificar a zona de costa circundante, onde foram capturados os peixes. Rapidamente percebemos que sem acesso para veículos é praticamente impossível transportar os animais vivos até aos tanques, mesmo que os pudéssemos pescar naqueles pontos a cerca de 500 metros da base – confirma-se que o barco é sem dúvida a melhor opção, como já ocorrera em Arctowski. Ao contrário do que acontecia nas costas da Baia do Almirantado, não encontramos qualquer mamífero na praia – nada de elefantes-marinhos ou leões-marinhos, e apenas alguns pinguins de barbicha isolados que nos cumprimentam. Aparentemente as colónias de pinguins nesta zona localizam-se todas na Ilha Ardley, aqui relativamente perto, mas zona de acesso restrito. Na costa vemos gaivotas, algo nada comum em Arctowski, e um pouco mais para o interior encontramos vários casais de skuas em nidificação nas colinas cobertas de líquenes. Ao longe já podemos avistar a Ilha Nelson, e também alguns Petréis-gigantes que voam em redor dos ilhotes de Half Three Point, outra zona protegida na ponta sul da Baía de Fildes. Aqui no interior ainda há bastante neve – tem sido especialmente abundante este ano, segundo dizem, mas a vista para a baía é espectacular, com o mar coberto de icebergs de todos os tamanhos e formas. De volta a Great Wall decidimos dar uso ao material de pesca. Com um pouco de carne de porco cedida pelo cozinheiro fazemos algumas tentativas lançando os anzóis para o mais longe possível da costa. Ao fim de algum tempo, e já prestes a desistir, decidimos pescar mesmo junto ao cais, e voilá – uma cabeçuda de mais de meio quilo, que depois de devidamente documentada fotograficamente é devolvida à água. Ainda sem tanques não se justifica mantê-la, mas mesmo assim fazemos sucesso à hora do jantar.
Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Dia 21 começámos a recolha dos sensores de temperatura nas proximidades da base – zona do Papagal e zona CALM. Os equipamentos são devidamente etiquetados e separados. Dia 22, sexta-feira, foi o dia de fazer alguns testes com o DGPS, em frente à casa Espanha, e fomos verificar o estado da máquina fotográfica na Meteo pois as imagens recolhidas dois dias antes (dia 20) indicavam uma quebra de recolha de informação a partir de meados de Outubro de 2015. O teste realizado no dia 20 indicava que a câmara tinha bateria, pelo que não seria à partida um problema de alimentação. Já o sistema de controlo do disparo (digisnap) parecia não estar a funcionar devidamente. Por isso, hoje iremos fazer mais alguns testes no sistema. Aos fins de semana, a vizinha base espanhola de Juan Carlos I (JCI) abre a rede WiFi e, com alguma paciência, é possível aceder á internet a partir da zona do Papagal, na vertente voltada para a baía Johnsons. Dia 23, sábado, estávamos ansiosos por tentar a nossa sorte e aceder aos nossos emails. A Deni acordou bem cedo, 7h30 da manhã, para tentar a sua sorte mas regressou sem êxito. Eu e o Lourenço, optámos por ficar um pouco mais de tempo a descansar e fazer a tentativa da parte da tarde, aproveitando a baixa velocidade do vento para testar o UAV junto à praia em frente à base de St Kliment Ohridsky (SKO) e para continuar a tarefa de leitura e análise de dados e atualização dos sensores recolhidos no dia 21. Tivemos sucesso com as nossas tentativas de acesso ao wifi, mais o Lourenço do que eu, mas ainda deu para espreitar os email. Continua tudo na mesma! Na descida de regresso à base, parámos para dar início à instalação do DGPS, equipamento que tínhamos já deixado preparado no local antes de subir ao Papagal. O objetivo seria iniciar os levantamentos dos locais de monitorização de solifluxão próximos da base, os quais aparentavam ainda bastante neve, mas menos do que na área do CALM. Depois de instalada a antena da base do recetor, que nos levou algum tempo a calibrar, fomos interrompidos pela chegada do navio argentino Beagle com um pesado carregamento de 4 ton de equipamentos e combustível para apoio da base. Apesar da vasta mão-de-obra disponível, o cair da noite impunha uma solidária e rápida colaboração pelo que optámos por descer e ir ajudar. Eu, pouco fiz além de tirar fotografias. João Branco Sim, passou quase uma semana desde a nossa chegada a Barton, onde estamos alojados na base sul-coreana King Sejong. Dias intensos de trabalho têm adiado estes textos até hoje mas, vejamos um resumo dos últimos dias. A chegada do navio Espérides coincidiu com a chegada do voo do PROPOLAR ao Aeroporto Teniente Marsh, na Ilha King George. Como é do conhecimento geral o Programa Polar Português tem vindo a fretar anualmente um voo de transporte de passageiros e carga entre Punta Arenas e King George constituindo o contributo logístico de Portugal para o esforço de investigação antárctica internacional. Este voo não transporta só investigadores portugueses. O acesso aos lugares restantes é aberto a investigadores dos países com quem Portugal tem acordos ou protocolos de cooperação. Basicamente toda a ciência antárctica é efectuada com base nestes fundamentos: cooperação e partilha. Aguardámos a chegada do voo e dos dois investigadores que se iriam juntar a nós para a estadia em Barton, os geólogos Pedro Ferreira e João Mata. Com este nosso voo veio também a Teresa Cabrita, actual directora executiva do PROPOLAR que iria ficar em Escudero alguns dias, no âmbito do trabalho organizativo do PROPOLAR. Há um que ano saí de Barton, depois de uma estadia de três semanas, e aqui volto com o objectivo continuar o meu trabalho no âmbito do projecto de doutoramento. Prosseguimento dos levantamentos de fotografia aérea com o eBee e identificação das formas e processos geomorfológiacos desta península. Além disto tinha que recolher e recuperar os dados de vários sensores de temperatura do ar e do solo instalados por mim no ano anterior e que, no caso dos dois sensores da temperatura do ar instalados em mastros de madeira a 1,5m do chão, constituíam algum preocupação quanto à questão, se teriam resistido ao inverno antárctico caracterizado por ventos muito intensos. Os nossos colegas geólogos têm como objectivo fazer um levantamento geológico com recolha de amostras de rochas que permita a elaboração de um mapa litológico de pormenor, que também contribuirá para o conhecimento dos factores geomorfológicos presentes nesta área, pelo que no dia seguinte decidimos sair em conjunto para um percurso de reconhecimento do terreno com passagem pelos locais onde os meus sensores estavam instalados. O tempo estava óptimo, com sol e ausência de vento, o que não se veio a repetir ao longo dos dias seguintes, e para minha satisfação os sensores estavam nos locais onde os tinha deixado e tinham resistido ao inverno. Neste dia também aproveitámos para escolher um local para uma futura perfuração para monitorização de permafrost. Os dias seguintes foram divididos entre procurar voar o eBee e fazer reconhecimento geomorfológico. Resta dizer que a realização destas tarefas consome tempo pois implica a deslocação pelo interior da península transpondo os vários desníveis desde a costa, onde está localizada a base, até cotas rondando os 200m, caminhando sobre clastos de rochas vulcânicas muito angulosos, em geral de origem crioclástica ou sobre neve, que neste Verão austral ainda é abundante e que dificulta a caminhada por estar muito húmida. Frequentemente em cada passo enterramo-nos até aos joelhos. Na Quinta-feira dia 21 fomos surpreendidos pela visita da Teresa Cabrita que aproveitou a deslocação a Barton de biólogos chilenos que estudam pinguins da colónia aqui existente, para visitar a Base sul-coreana. As visitas na Antárctida são sempre bem-vindas, tendo a Teresa sido acompanhada pelo líder base numa breve visita às instalações.
O eBee cumpriu as suas missões, não sem alguns percalços que implicaram alguns trabalhos manuais de reparação à noite na base mas que não limitaram a sua actividade. Já recolhi os dados dos sensores de um dos locais e voltámos a instalar os sensores no campo. Sábado ou Domingo recolheremos os sensores do outro local. José Xavier e José Seco Após muitos meses de preparação, com um aumento crescente de testes do equipamento, verificação de tudo, e com todos a bordo, estamos finalmente a começar a expedição. Deixámos as Ilhas Falkland/Malvinas no dia 19 no início da tarde. Com o anúncio do capitão que iríamos para o mar, a alegria foi grande. Estamos prontos! A saída de Stanley foi calma. Estava de chuva mas sem muito vento. After many months of preparations, with the growing raising of tests on the equipment, double-checking everything, with everyone onboard, we are finally going South!!! We left the Falkland/Malvinas Islands on the 19th January at the beginning of the afternoon After the announcement by the captain that we were departing, a smile came to everyone. It was rainy but with only a light, softy breeze. Tivemos até a bela surpresa de termos os golfinhos Commerson a passar perto do barco (excelente foto tirada por Mike Gloistein; o seu blog é http://www.gm0hcq.com/), como se nos tivessem a dizer “Boa viagem”. We even had the nice surprise of Commerson´s dolphins (nice photo taken by Mike Gloistein (check his blog at http://www.gm0hcq.com/) coming to say “have a nice expedition!”. Como sabemos se já estamos no alto mar, mesmo sem olhar pela janela do navio? Basta sentir as vagas a passar, que vão aumentando progressivamente, à medida que vamos entrando por este Oceano gigante. Já tomámos os comprimidos para o enjoo (normalmente é 2 horas antes de deixar o porto), para evitar surpresas desagradáveis. Para os que não sabem, para habituarmos-nos ao baloiçar para um lado e para o outro, demora tempo e exige paciência e bom senso. Tomar comprimidos ajuda, mas ficar deitado e evitar comidas picantes, pesadas ou que exigem muito do estômago, é o melhor. Hoje o almoço foi pizza com peperoni...sim, não é o ideal mas estava tão boa! Depois contamos quais foram as consequências no enjoo. Estamos em direção à Baia da Mare (Mare Bay), que fica já na costa das Ilhas Falkland/Malvinas, para abastecimento. Os próximos 2-3 dias serão em direção às Ilhas Orcadas do Sul. Para isso iremos entrar no Mar da Escócia (Scotia Sea), e entraremos no Oceano Antártico....o frio já se começa a sentir...até já!
We are ready! At that time, we took our sickness pills (to be taken 2 hours before departuring) so that we avoid being sick. For those that do not know, it does take some time to get used to the swinging to one side to the other. It demands time, patience and good sense. Taking pills helps, but lying down and avoiding hot and “heavy” food that demands an extra effort from your stomach, it helps. We are on the direction of Mare Bay, on the coast of the Falklands/Malvinas, to re-fuel. Then, we go direction South, towards South Orkney, crossing the Southern Ocean, via the Scotia Sea. The cold is already starting to be felt….talk to you more soon! Pedro Guerreiro e Bruno Louro A campanha do projecto FISHWARM III chega finalmente à Antarctica depois de alguns meses de preparação e atribulação com a grande quantidade de bagagens. Graças à Ana Salomé David e à Teresa Cabrita, foi possível trazermos todo o equipamento connosco. Obrigado! A 17 de Janeiro, cerca da uma da tarde, hora chilena, o voo DAP do Programa Polar Português aterra na pista de gravilha do aeródromo Teniente Marsh na Ilha do Rei Jorge. Nele vinham oito cientistas portugueses, mas também chilenos, brasileiros, búlgaros, italianos e espanhóis. À chegada trocam-se cumprimentos e tiram-se as fotografias da praxe enquanto as bagagens são descarregadas. Aqui tal como em qualquer low cost - que não é - caminha-se até ao edifício do aeródromo e enquanto alguns não vêem a hora de chegar, outros, como a nossa Miss Propolar, aproveitam para trazer as novidades da moda Antártica a estas paragens, calmamente desfilando pela passerelle que às vezes faz de pista, roubando as atenções ao Hercules C-130 da Força Aérea brasileira que está a ser desmantelado após um acidente na aterragem num dia de tempestade. À nossa espera estão vários membros da 32ª CHINARE, a Expedição de Investigação Antarctica Chinesa, incluindo o chefe da base Great Wall, onde iremos ficar alojados nos próximos cerca de 45 dias, enquanto prosseguimos as nossas experiências na fisiologia dos peixes antárcticos, na continuação das campanhas FISHWARM I e FISHWARM II, realizadas em 2012 e 2013 na estação Henryk Arctowski, noutra zona da Ilha. As bagagens são descarregadas na praia onde membros da tripulação do navio oceanográfico espanhol Hesperides esperam para levar a bordo os cientistas que se deslocam para as outras ilhas do arquipélago das Shetland do Sul. A baía está cheia de icebergs, alguns tão grandes que poderiam ocupar facilmente vários quarteirões numa cidade e fazem com que os navios, alguns com cerca de 50 metros de comprido pareçam apenas pequenos pontos. Nós ficamos aqui perto, e carregamos tudo em três veículos para seguirmos para Great Wall, a 2.5Km de distância do aeródromo, na zona sueste da Península de Fildes. A base Chinesa foi inaugurada em 1985 numa pequena área perto do mar, mas desde então já sofreu uma grande remodelação, com mais construção e expansão para zonas mais elevadas, e os edifícios principais, como o refeitório e zona de lazer, os dormitórios, o gerador e sobretudo os laboratórios são novos, espaçosos, confortáveis e bem equipados. Hoje é, a par da base da Coreia do Sul, uma das mais bem apetrechadas da ilha. Eu e o Bruno partilhamos um quarto no edifício habitacional. No entanto os chuveiros para os duches encontram-se noutro edifício, o que torna a rotina matinal um pouco mais complicada. Connosco são 41 os habitantes da base, de ambos os sexos, e por isso existem regras e horários para o uso das zonas comuns. Também as refeições, às 7.30, 12 e 18 horas, hora chinesa – sim, porque em Great Wall é uma hora menos que nas restantes bases da ilha e assim 12 horas menos que Pequim – obedecem a alguns preceitos: os lugares à mesa são marcados, os utensílios também são sempre os mesmos e mantidos limpos sobre a mesa. As senhoras têm a sua própria mesa. Já quanto a fumar as regras são bem mais difusas… e parece ser permitido em todas as áreas comuns. Infelizmente poucos falam inglês e a tradução nem sempre é fácil. Mesmo aqui na Antárctica, o choque de culturas pode ser grande.
Pedro Ferreira (LNEG) e João Mata (FCUL) O Projeto GEOPERM-II, realizado no âmbito do Programa Propolar, tem por objetivo principal a realização de uma cartografia detalhada (escala 1/5000) de um sector da Peninsula de Barton, bem como a realização de uma campanha de amostragem das rochas ígneas aflorantes nesta Península, assumindo-se como a continuação dos trabalhos iniciados em 2015 (GEOPERM-I). Pode dizer-se que a missão na Antártida realizada no âmbito do referido projeto, se iniciou no dia 17 de Janeiro com a nossa chegada ao aeródromo de Fildes. Para um de nós (João Mata) foi o primeiro contacto com a Antártida pois Pedro Ferreira (LNEG) já o ano passado realizara uma missão de 25 dias na península de Fildes. Após a aterragem no aeródromo de Fildes, em pista de terra batida, fizemos uma caminhada (cerca de 1 km) até ao porto de onde partimos em semi-rígido para a base Sul-Coreana King Sejong, onde estaremos baseados até dia 27 de Janeiro. Nessa viagem (cerca de 40 minutos… e algum frio) fomos acompanhados pelos colegas Gonçalo Vieira (coordenador do Programa Propolar) e João Branco, ambos do IGOT, que também estão instalados na Base de King Sejong pelo mesmo período que nós e que na Península de Barton realizam trabalhos de Geocriologia. À chegada à King Sejong Station verificámos a existência nos mastros das bandeiras Sul-coreana, Portuguesa e Americana, esta justificada pela presença na base de um Biólogo. Estamos, portanto, plenamente inseridos num ambiente dominantemente Sul-coreano. Os trabalhos de campo iniciaram-se no dia 18, tendo as duas equipas realizado em conjunto o reconhecimento da área onde nos próximos dias desenvolverão os seus trabalhos.
Lourenço Bandeira e Ana Salomé
Península Hurd, ilha de Livingston, Base St. Kliment Ohridski O Stefan, jovem investigador em Geologia e membro da APECS Bulgária, faz diariamente pão fresco para ser consumido pelos 22 elementos actualmente presentes na base Búlgara St. Kliment Ohridski (na sua capacidade máxima). Ontem a Ana Salomé aprendeu com ele a receita e nós partilhamo-la convosco: - PÃO BÚLGARO ANTÁRTICO - Ingredientes:
Preparação: Colocar a farinha numa taça e juntar o fermento, o açúcar e o sal. Salpicar com óleo. Juntar o ovo inteiro e mexer do centro para as bordas. Ir juntando água aos poucos até formar uma massa uniforme. Estender repetidamente a massa sobre uma mesa polvilhada com farinha até acabar de uniformizar a mistura. Tapar com um pano e deixar repousar durante pelo menos 6 horas. Colocar no forno a uma temperatura de 160 graus durante aproximadamente 1 hora e meia a 2 horas. BOM PROVEITO! Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Aproveitamos uma oportunidade no dia 20 de Janeiro de manhã para ir ao monte Reina Sofia, um dos locais de monitorização do permafrost (solo permanentemente gelado), desenvolvido pelo grupo de investigação do CEG/IGOT - Universidade de Lisboa, em colaboração com colegas espanhóis da Universidade de Alcalá de Henares. O veterano geólogo Búlgaro Kamen e os três jovens estudantes de Geologia, Stefan, Paleontologia, Dotcho, e Química Ambiental, Deni, iriam fazer um reconhecimento da baía Johnsons e recolher algumas amostras de solo e rochas. O monte Reina Sofia situa-se por trás da Base Espanhola Juan Carlos I (JCI), a qual se localiza já na denominada Enseada Espanhola dentro da Baía Sul. Localizadas ao longo da mesma costa, dentro da referida baía Sul, a base espanhola e a base Búlgara de St Kliment Ohridsky são vizinhas, distando entre elas cerca de 2 km. A separá-las, está a pequena e recortada baía Johnsons contornada pelas grandes paredes rochosas de origem metassedimentar à qual acresce a espessa e compacta parede glaciária, realçando no topo das suas bordas as intimidantes crevasses. O acesso entre as bases só é possível fazer-se por mar utilizando botes insufláveis com revestimento rígido no casco, os chamados Zodiac, ou por cima do glaciar, utilizando motos de neve. A baía Sul estava cravejada de brash, inúmeros e relativamente pequenos blocos de gelo flutuantes, provenientes da desagregação da espessa frente glaciária que contorna toda a baía e se estende sobre o mar. A baía ficou com o aspeto de uma gigante caipirinha mas esta desprendida movimentação de blocos não é de todo inofensiva aos pequenos botes de borracha. É preciso ter cuidado com as suas extremidades afiadas e, com o auxílio dos remos de madeira, fomos afastando os volumes mais intrusivos de forma a não constituírem ameaça à espessa borracha dos botes ou mesmo à hélice do motor. Foi por isso, com muita precaução, que fizemos a travessia. Junto à praia da enseada espanhola, aguardava-nos o chefe da Base JCI, Jordi, dado que já havíamos anunciado via rádio a nossa visita. Despimos os “astronáuticos” fatos de segurança, para dar início à nossa caminhada até ao cimo do monte Reina Sofia. Custou-nos imenso a subida a pé, mesmo com auxílio de raquetes de neve - a paisagem estava inundada de branco, como eu antes não tinha visto e, ironicamente, a base estava momentaneamente sem motos de neve disponíveis para nos levar a quase 300 m de altitude. Assim que chegámos ao topo, levantou-se subitamente um temporal que mal nos deixou realizar as tarefas que tínhamos planeado - debaixo de uma mistura de chuva e de neve, não conseguimos recolher imagens fotográficas com as câmaras pessoais que trazíamos, mas conseguimos fazer a leitura do sensor de humidade do solo instalado no ano passado pela Alice e a Ana Rita, e ainda trocar o cartão de memória do equipamento que faz o registo fotográfico diário da área e envolvência. Teremos de voltar o mais brevemente possível a este local, assim que fizer bom tempo, para tentar reparar o mastro que sustenta o painel solar que alimenta a sonda de humidade, o qual se encontra partido. A subida levou-nos mais de uma hora mas a apressada descida demorou-nos menos de meia hora. Contudo chegámos secos graças ao fantástico equipamento de proteção exterior disponibilizado pelo Programa Polar Português (PROPOLAR). À nossa espera, a cozinheira da base JCI tinha uns maravilhosos canelones que comemos a correr pois já a equipa búlgara nos esperava na praia para regresso de Zodiac à base búlgara. Apesar de cheios, não fizemos a desfeita e comemos mais um pouco do almoço tão generosamente preparado e respeitosamente aguardado por todos na base St Kliment. José Xavier e José Seco Já estamos no James Clark Ross!!!! O navio, com cerca de 100 metros de comprimento, é uma das pérolas da ciência Polar, possibilitando usar uma grande variedade de técnicas para recolher dados e amostras valiosas para compreendermos como funciona o Oceano Antártico. We are already on the Royal Research Ship James Clark Ross!!! This ship, with approx. 100 meters length, is one of the pearls of Polar science, allowing the use of a variety of techniques to collect data and samples valuable to understand the Southern Ocean. Aqui, reunimo-nos com os outros colegas do Reino Unido, Estados Unidos da América e Noruega (e alguns colegas originários também da África do Sul e Lituânia). Foi bom reencontrá-los após a primeira reunião de Julho, em Cambridge. Assim que entrámos no navio, tivemos uma apresentação sobre questões de segurança, e pediram-nos a nossa identificação (passaporte) e o nosso certificado do curso de segurança a bordo (que nos autoriza trabalhar bordo de um navio). Foi-nos atribuída uma cabine onde iremos viver nas próximas semanas e convidaram-nos a percorrer o navio para nos familiarizarmo-nos com ele. Tivemos um exercício de segurança de como usar as mascaras de fumo, como reagir aquando de um fogo e como nos dirigirmos para os barcos de salvamento. Alertaram-nos também para os vários sons de emergência. A camaradagem entre os tripulantes e a equipa científica é fantástica, e todos estão entusiasmados para os dias que ai veem. Muito importante foi a reunião científica de planeamento, dirigida pelo cientista principal Jon Watkins. Depois disso, fomos vestir a roupa apropriada para trabalharmos na popa (parte de trás do navio), como luvas, capacete e botas de biqueira de aço (para evitar acidentes) na preparação e testes das redes, equipamento de acústica, dos equipamentos dos laboratórios...isto significa desde montar placas de madeira nas mesas dos laboratórios (para evitar que os microscópios caiam quando estivermos em alto mar), a testar os longos cabos das redes, a montar os parelhos de acústica...na prática fizemos de tudo. Here, as soon as arrived we got together with our research colleagues the new crew from the United Kingdom, United States of America and Norway (with some coming originally from South Africa and Lithuania). It was good to see them again after our expedition meeting in July 2015, in Cambridge. We got an excellent health and safety meeting, in which security procedures were clearly explained so that everything we do onboard is carried out safely (from different of whistles to express, for example, emergency, fire or go to the safety boat immediately, to what to wear on the ships deck). We also had the first scientific meeting, to get a review of the objectives of the expedition, coordinated by the Principal Investigator Jon Watkins. The work between the crew and the scientists has been fantastic. In these days of preparation, we prepared/mounted/tested the various equipments to be used during the expedition, form gliders, to acoustic equipment, to research nets. Acesso a internet, perguntam? Existem 4 computadores com internet que nos permite aceder gratuitamente, temos acesso direto aos nossos emails no nosso próprio computador mas skype calls (ou qualquer software que use banda larga) só é permitido para assuntos relacionados com educação. Assim, temos planeado skype calls para várias escolas de Portugal (Lanheses, Coimbra, S. Martinho do Porto, Oliveira do Bairro), Moçambique, e Uruguai. A partida deverá ser nestes próximos 2 dias, mediante a conclusão dos trabalhos preparativos.
Até já! Internet access? We have 4 computers available with internet and direct access to our email accounts on our own computer. We plan to do skype calls to Portugal, Mozambique and Uruguay but we are confirming with our informatics officer Jeremy Robst if it will be possible. Departure will be very soon. Keep yourself posted!!! |
BLOGS DAS CAMPANHAS
|